Transição de carreira: o que fazer quando o que você faz, já não faz mais sentido?

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O que fazer quando o que você faz, já não faz mais sentido?

Mohamed Hassan/Pixabay

Seja por insatisfação pessoal, pouca perspectiva de crescimento ou saturação de mercado, um número cada vez maior de pessoas tem considerado mudar de carreira.

Mais ou menos aos 17 anos de idade precisamos tomar uma decisão que pode mudar todos os rumos da nossa vida. Quando precisamos escolher a faculdade ou a profissão que seguiremos como trabalho para pagar os boletos da vida adulta. Mais ou menos aos 17 anos de idade há também uma imensa parcela da população que não escolhe a profissão, e pega o que dá, mesmo assim tal escolha te força seguir um caminho que pode te trazer alegrias, realizações e felicidades ou te trazer agonia, stress, infelicidades e até doenças.

Foi assim que me vi aos 17 anos de idade escolhendo o curso que mudaria a rota da minha vida. Ao perceber oportunidades que não teria se escolhesse outro curso, prestei vestibular para agronomia, curso que aprendi a respeitar e carrego com orgulho o título de engenheiro agrônomo, devido aos 5 anos de faculdade percebendo quão rico e cheio de oportunidades é o agro brasileiro, mas acima de tudo, de ver pessoas que tem brilho no olho de fazer a lida com o campo no agronegócio. O que não observava em mim, mesmo assim segui pela oportunidade que me foi dada por quase 10 anos na carreira de agrônomo em multinacionais do agronegócio.

Logo após a formatura me inscrevi em um programa de trainee em uma multinacional francesa, passei dentre os quatro mil candidatos na época. Isso reforçou meu início de carreira, mesmo não me observando com o brilho nos olhos que alguns colegas de profissão tinham, me encontrei em uma empresa que valorizava pontos fortes meus, como de empatia, autorresponsabilidade e orientação para pessoas. Nessa época em uma viagem a trabalho de carro, repensando minhas escolhas me autobatizei de “apoiador de pessoas” e segui com um pouco mais de brilho nos olhos como realização profissional, achando algum sentido ali.

Importante citar que profissionalmente tive oportunidade de acessos que nunca havia passado na minha cabeça que vivenciaria. E ali experimentei um pouco do que o poder aquisitivo pode fazer na vida da gente. Ao mesmo tempo que ficava agoniado com a vida que estava criando. Me tornava então cada vez mais envolvido subindo na carreira de forma rápida: de trainee à supervisor, de supervisor à coordenador, de coordenador à gerente. Me via cada vez mais sem saídas para uma transição de carreira que já desejava desde a graduação, ao mesmo tempo era grato pela oportunidade de mudança de vida e boletos pagos. Tal duplicidade já cobrava minha saúde mental desde o primeiro ano. Crises de ansiedade que não fazia ideia do que se passava na época, idas ao pronto socorro com dores no peito e início de medicação contra sintomas ansiosos. Permaneci na carreira, mesmo com intempéries, pois a subjetividade da vida não é simples como uma reta ou decisões de segunda-feira.

Ao completar trinta anos de idade, chegava infeliz no que fazia, porém fazia bem e já sabia quase tudo do que era necessário para seguir com vitorias profissionais na área, o que acabava me fixando ainda mais no dia a dia que não me pertencia. Quando num súbito me imaginei chegando aos 40 anos de idade seguindo o trilho que estava seguindo e não consegui aceitar que seria esse meu destino. Um destino que não era ruim no mundo capitalista que vivemos: altos salários, acessos e status garantidos, mas não fazia sentido no meu interno o dia a dia e sentia uma parte de mim morrer diariamente. Eu sentia que podia entregar mais de mim a sociedade e que o “apoiador de pessoas” só ali para uma equipe de uma dúzia de pessoas não estava mais fazendo sentido.

Retornei ao Gabriel de dezessete anos de idade, idealizador, ajudador, empático, correto e sensível e tive um insight, uma memória dessa época. Eu observando um livro chamado “Desvendando os Segredos da Linguagem Corporal” e lembrei como aquele livro se tornou grande na minha mão, ao mesmo tempo que olhei para minha estante de livros aos 30, e noventa por cento dos livros eram de psicologia. Me deparei com uma versão minha, que ficou na gaveta (ou na prateleira) por tantos anos, me ajudando a ascender na carreira como gestor de pessoas, mas que tinha tanto mais a oferecer como um “ajudador de pessoas” pode fazer. No mesmo dia me inscrevi para a prova de psicologia e a transição de carreira, nada-fácil, começou.

Para iniciar uma nova vida é necessário morrer para a outra, e talvez aceitar que você precisará se desfazer de muita coisa que demorou anos para construir não é nada fácil. Mas desde já quero deixar claro que mesmo passando pelo deserto de uma nova jornada, foi a melhor decisão que fiz até o momento em minha vida. Deixar emprego, salário, segurança financeira, apartamento, cidade, relacionamentos precisa mais do que um ato de coragem, precisa de confiança no processo. Ah, o processo… é doloroso por muitas vezes. Pois você se depara com outras versões suas e outras versões das pessoas, e por muitas vezes percebe que algumas pessoas gostam mais do seu bom momento, ou do status que você pode garantir a elas, do que necessariamente de você. E por pior que seja se deparar no começo com isso, é um ótimo momento para se desfazer de pessoas toxicas e usurpadoras do seu redor. Algo que aprendi nesse processo é que com a turma certa, você brilha diferente. À isso também sou grato.

Estou trazendo muita gratidão pois estou no final da jornada, mas o ideal é colocar o pé no chão e planejar. Ouvi tantos relatos quanto pude sobre transição de carreira no Youtube, Instagram, TikTok, Spotify e qualquer buraco que encontrava alguém que venceu a transição, anotei todas aquelas “5 dicas para transição de carreira” que a gente encontra com pesquisa rápida no google ou buzzfeed. Cada relato me fazia mais corajoso, mais planejado e mais preparado, mesmo assim encontrei dificuldades no meio do caminho que não havia ouvido nos relatos. Mas como diz o viajante, o caminho é só um: em frente. O que me fez permanecer no “em frente” foi o panejamento minucioso que fiz, principalmente o financeiro. Transacionar de carreira pode demorar mais do que o esperado, então conte com isso. Junte dinheiro o bastante para pelo menos mais seis meses do que é sua pior expectativa. Busque uma rede de apoio confiável, pois em momentos de exposição social a rede de apoio pode se esvairá. Por isso rebato na tecla de planejamento financeiro como um dos pontos primordiais para a transição funcionar.

Outro ponto importantíssimo além do planejamento financeiro, é seu estado de saúde mental. Você precisa estar bem para tomar tais decisões, porque acredite, você vai gastar todo seu estoque de serotonina, ocitocina e quase todos os recursos mentais possíveis, pois será novamente uma passagem ao deserto. Será importante ter rede de apoio para rir, se distrair e chorar as pitangas. Se no processo perder pessoas que gostavam mais da sua “fase boa” do que de você, vai perceber que ao redor tem muita gente divertida e confiável para fazer novas relações, aproveite o embalo de transição de carreira e veja sobre uma possível transição de pessoas. Aconteceu muito comigo, encontrei novas melhores pessoas em cada esquina nova que conhecia. O mundo é imenso e cheio de gente boa!

De forma prática, contabilizei num papel em branco todos os meus gastos fixos, como financiamento, alimentação, contas de casa, gasolina, faculdade e todos os pequenos gastos que nem percebia no dia a dia. Separei uma quantia para continuar a vida como era, um apego ao meu estilo de vida, com ir ao restaurante que gosto, ou ir em um pub com amigos algumas vezes no mês. Separei ainda uma parte para viagens e possíveis coisas fora do planejamento, como manutenções não planejadas do carro ou da casa. Tive também que ter uma conversa séria comigo mesmo, e bater o martelo em não emprestar dinheiro, ou dar dinheiro a amigos e família, além de desistir de dar presentes caros. O que foi tema de inúmeras sessões com meu psicólogo. Reforço, saúde mental nesse processo é imprescindível, priorize!

Cada um colocará no papel a sua realidade de vida, e com isso construir seu planejamento a partir do que consegue. Dá pra fazer com muito menos do que trouxe como exemplo, como esse apego a ir ao restaurante e nas viagens que sempre gostei de fazer, mas para minha saúde mental esse ponto era necessário. Cheguei no valor mensal que custaria minha vida e multipliquei pelos anos que precisaria para ter a transição mais saudável possível. Me assustei com o valor final. Fique em posição de raposa empalhada alguns minutos, pensei em desistir mais vezes do que puxava o ar para respirar. Puxei o ar novamente e escolhi seguir em frente. Nunca havia conseguido juntar aquele valor na vida, nem no meu momento de melhor salário, mas segui confiante e consegui juntar um pouco a mais do que havia planejado.

Para conseguir o valor, recorri a tudo o que podia, salário, comissões, venda de alguns objetos, mudança para apartamento menor, economia dali e daqui. Replanejei meus gastos com cartão de crédito, cancelei os que tinha e permaneci com apenas um banco. Me mudei de cidade para diminuir gastos, cancelei os vários streamings que quase não usava e mantive o foco no que importava. Nesse momento estava tão obcecado quanto Natalia Arcuri com os centavos de diferença de um detergente para o outro. E essas economias me ajudaram a montar esse novo jeito de olhar para as coisas, com economia em tudo, tentando não perder qualidade e milagrosamente conseguindo.

Fato é que após alguns anos nessa vida, estou na reta final, me transformando no que sempre fui, frase importante de alguns teóricos da psicologia e filosofia, que hoje faz tanto sentido para mim. O fato de transacionar de carreira me deu forças para repensar toda a minha vida, aproveitar e fazer inúmeras mudanças, no trabalho, no meu jeito de ser, no meu jeito de ver o mundo, de fazer amizades, no meu jeito de relacionamento com amores, com família e com a sociedade. Tive a oportunidade de voltar a “ser” aquelas qualidades que o Gabriel de dezessete anos tinha que na bagunça da vida foi se perdendo. Hoje após essa Metanoia sigo mais forte do que nunca, indestrutível como na música e invencível como ser quem se é. Se pudesse resumir em palavras chaves, seriam: coragem, planejamento financeiro, saúde mental e individuação (que é se tornar quem se é). Te desejo sorte!

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Marketing Profissional é tema de uma das Assembleias dos Estudantes de Psicologia do Tocantins

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Mediado pelas acadêmicas Isaura (CEULP/ULBRA), Lorena (Unitpac) e Maria Isadora (CEULP/ULBRA), a Assembleia geral de estudantes de Psicologia do Tocantins trouxe como tema “Marketing Profissional, redes sociais e os desafios para os recém formados” como pauta de debate entre os participantes. O debate ocorreu às 9 horas de sábado, dia 7 de novembro como encerramento final do CAOS 2020 (Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia).

As discussões foram voltadas principalmente para os “perfis profissionais” que são cada vez mais comuns entre acadêmicos de psicologia e que com a falta de saber científico, acaba ocorrendo uma banalização dos conteúdos que envolver o saber teórico da profissão, além da saturação de tópicos abordados nestes perfis.

Fonte: encurtador.com.br/iuCH2

As mediadoras também voltaram o debate para possíveis soluções que poderiam ser tomadas pelos Conselhos de Psicologia e até mesmo pelos próprios cursos de graduação para que houvesse uma maior consciência e responsabilização do que se é exposto nas redes sociais, para que o saber da Psicologia não seja trivializado e até mesmo invalidado, pois esta ciência lutou para ter seu espaço na comunidade científica.

A assembleia teve uma boa participação dos acadêmicos e as mediadoras conduziram o debate com excelência, encerrando com possíveis encontros e parcerias futuras em congressos que envolvam a Psicologia.

Os outros temas das Assembleias foram “Interação entre cursos de Psicologia no Tocantins”, mediada pelas acadêmicas Amanda Christina (UFT), Daniely (UnirG), Vanessa (Unitpac), Wysney (UFT) e Nícollas Rocha (CEULP/ULBRA); e “Vida acadêmica na prática (Estágios, disciplinas, provas, prazos) e a Importância do Serviço Escola de Psicologia para a comunidade”, mediada pelas acadêmicas Daniela (UnirG), Giovanna (Unitpac), Karen (FACDO) e Silvana (CEULP/ULBRA).

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(En)Cena presente na XXI Expro

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A XXI Exposição das Profissões é aberta ao público em 19 de outubro até as 22h

O Projeto (En)Cena, idealizado pelos cursos de Psicologia, Comunicação Social e Sistemas de Informação, está presente na XXI Exposição das Profissões – EXPRO do Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp/Ulbra apresentando o projeto no stand do curso de Psicologia aos visitantes do evento.

Acadêmicas de Psicologia e estagiárias do Portal (En)Cena mostram o projeto aos visitantes
Foto: Irenides Teixeira

A procura tem sido tanto de estudantes secundaristas quanto de professores e acadêmicos de outros cursos que desejam saber sobre a Psicologia, áreas de atuação, valores de mensalidade e piso salarial do profissional da área. A preocupação com questões de mercado aparecem frequentemente nos questionamentos, bem como questões relativas ao custo benefício do investimento na profissão.

Acadêmicas de Psicologia e estagiárias do Portal (En)Cena mostram o projeto aos visitantes
Foto: Irenides Teixeira

Na apresentação do curso os visitantes têm a oportunidade de conhecer alguns jogos utilizados em avaliação psicológica, bem como esclarecer suas dúvidas. Outro ponto abordado na apresentação foi a medicalização excessiva dos tempos atuais. A equipe também apresentou as diversas possibilidades de atuação, com as principais abordagens presentes na grade curricular do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, que apresenta uma formação generalista de modo que o profissional egresso em psicologia tenha opções mais diversificadas.

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Jocyelma Santana: os desafios de uma mulher no jornalismo

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Paixão pelo que faz define bem a vida da jornalista e professora Jocyelma Santana. Nessa entrevista ela fala sobre os meios de comunicação tradicionais frente às novas mídias, as situações de risco aparente que se impõem ao repórter, o desafio de se separar os papeis dentro e fora do trabalho, e sobre como sua personalidade, apoiada pelos pais, a levou a escolher a profissão na qual alcançou sucesso.

(En)Cena – Você como uma mulher de sucesso, com uma longa trajetória na profissão de jornalista, pode nos falar um pouco sobre os desafios da profissão?

Bom, escolher uma profissão já é um desafio desde o primeiro momento. A gente tem o hábito de cobrar muito cedo dos nossos filhos que façam esta escolha. E é uma decisão quase sempre angustiante. Mas eu nunca tive dúvida. Sempre quis ser jornalista. Gostava muito de escrever, de conversar, de saber de gente, ouvir. E penso que estes ‘gostos’ foram fundamentais para que eu me satisfizesse com a profissão que escolhi. Posso dizer que fui e sou muito ‘abençoada’ ao longo destes 22 anos de jornalismo, maior parte deles fazendo jornalismo de televisão. Também fui professora, exercício do qual tenho grande orgulho – não do que fiz, mas dos alunos com os quais pude conviver, acompanhar o crescimento, perceber os frutos.

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(En)Cena – Quando você se interessou pelo jornalismo, como aconteceu essa descoberta profissional e como foi sua primeira experiência de trabalho?

Como disse antes, em casa sempre fui a mais ‘conversadora’. Recebi muitos olhares desconcertantes, daqueles que valiam como reprimenda, na minha infância, porque conversava demais quando as visitas chegavam. Era o tempo de menino ficar calado, quando os adultos conversavam.  Na escola, tinha o hábito de passar nas carteiras, onde estavam os colegas, para ‘fiscalizar’ as tarefas deles e dar palpite, se estavam errando ou acertando. Mas meu jeito peralta e conversador também foi valorizado pelos meus pais. Eles me estimularam a ler muito, escrever o que desejasse. Tanto isso é verdade, que tenho os diários de adolescente, que achava ter jogado fora. Para minha surpresa, quando me casei, minha mãe me entregou os quatro diários (cadernos) cuidadosamente embalados. Ela havia guardado todos com muito carinho. Então, isso tudo me ajudou a ser jornalista. As lembranças, a vontade de conhecer histórias e escrever.

Minha primeira experiência profissional – já formada – foi numa emissora de televisão em Araguaína. Estava recém-formada, retornando para o Tocantins, em 1995, quando fui convidada para ser repórter do Telejornal 7, um noticiário que iria ser criado no SBT, só para a cidade. Lá fiquei por sete meses. Até que fui convidada para cobrir férias da repórter Vanusa Bastos, na TV Anhanguera de Araguaína. Fiz o período de férias dela, depois fui contratada em definitivo pela emissora do Grupo Jaime Câmara, onde permaneci por 20 anos e 11 meses.

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(En)Cena – Em sua trajetória, houve algum momento que fosse complicado pela sua condição de ser mulher? Como você driblou essa situação?

Complicado, não diria. Passei algumas situações de medo, em algumas coberturas. E desafios em viagens. Certa vez, ainda em Araguaína, fomos a uma propriedade que havia sido ocupada por trabalhadores que desejavam terra para reforma agrária. Fiquei receosa. De outra vez, já no Vale do Araguaia, fui com equipe de reportagem, cobrir um protesto de indígenas. Eles haviam apreendido um carro da Funai e estavam mantendo funcionários da Fundação como reféns, até que reivindicações da comunidade fossem atendidas. Também senti medo. Nos dois casos, o ‘drible’ foi manter a postura, não demonstrar o receio e seguir em frente.

(En)Cena – Você pensa que mulheres jornalistas encontram mais dificuldades em ascender na carreira que os homens?

Muito menos agora. Temos vários exemplos de mulheres no topo da carreira no Jornalismo, aqui no Tocantins. No meu caso, fui editora-chefe dos principais telejornais da emissora – JA1 e JA2, depois de ficar 12 anos na reportagem externa.  Com trabalho, conhecimento, disposição, a mulher jornalista, claro, como as demais profissionais, tem a chance de alcançar postos mais altos. A gente sabe que para isso, esta mulher acaba se sobrecarregando porque não deixa de desempenhar as demais funções, que quase sempre ainda lhe são atribuídas: mãe, esposa, um outro emprego para complementar a renda.

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(En)Cena – Você é uma apaixonada pela profissão. Mesmo fora do ambiente de trabalho, o quanto você carrega da jornalista para a casa, a igreja, o lazer, ou esses papeis são bem definidos e separados?

Outro dia participei de uma palestra sobre a mulher da carreira jurídica. E claro, percebi que os desafios e cobranças são iguais. Você pode levar trabalho pra casa, e leva. Mas não pode levar o filho doente para o trabalho. É fato. Por que não? Porque isso demonstraria fragilidade, atrapalharia os colegas? E não atrapalha trazer trabalho para casa? Claro que atrapalha. Você não se concentra totalmente nos filhos, quando faz isso. Mas com o tempo, a gente acaba percebendo que não vale a pena abrir mão do tempo de casa, do lazer, da igreja, por causa do trabalho. É outro desafio saber separar bem estas atividades, mantendo-as ‘intactas’, sem que uma prejudique a outra. Isso é básico para manter a sanidade.

(En)Cena – Para você, foi muito difícil sair da TV Anhanguera após 20 anos de trabalho?

Eu já vinha me preparando para este momento há algum tempo. A gente percebe que as mudanças vão nos atingir e é preciso estar pronta para quando isso ocorrer. Foi o que fiz. Ao longo destas duas décadas, não fiquei só na emissora. Dei aula em Universidades, fiz concurso público, organizei o ‘plano B’, para a hora da separação deste trabalho. Então, foi mais um passo. Como todos os outros que a vida nos leva a dar ou suportar.

(En)Cena – Como você avalia esse posicionamento da emissora de “renovação”?

Não cabe a mim avaliar. É uma decisão da emissora.

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(En)Cena – Sabemos que as novas mídias vêm provocando profundas mudanças e crise nas emissoras de TV e outros meios de comunicação por diversas possibilidades que oferecem a mais. Como você avalia esse momento? Quais as perspectivas para os tradicionais meios de comunicação de massa?

Esta renovação sim, é obrigatória. Penso que as redações regionais não estão devidamente preparadas para este momento, ainda. Mas isso é questão de tempo. O caminho é feito na caminhada. Hoje, é cada vez mais urgente a inclusão do telespectador/internauta/ouvinte na produção do conteúdo jornalístico. Ele quer ser ver sendo atendido em conteúdos específicos. Tem muita informação circulando, mas isso não tira a importância do cuidado com a apuração, com o tratamento da notícia. Temos muitos instrumentos à disposição para atender esta necessidade do consumidor de informações. Mas é preciso saber, com critério, o que ele quer e dar credibilidade e garantia de veracidade na transmissão deste conteúdo.

(En)Cena – Parafraseando Caetano, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Para você, qual seria a dor e a delícia de ser mulher?

A dor? É parte, é do processo. É da construção. Passa.
A delícia? É o resultado diário, é a caminhada, é o encontro. Fica.

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EXPRO – Exposição das Profissões

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Escolher a profissão não é tarefa fácil. Alunos de ensino médio, por vezes, têm dúvidas sobre qual curso de graduação optar, qual área seguir. Em alguns casos, adolescentes e jovens têm visões limitadas sobre a área de atuação dos cursos e os possíveis caminhos da profissão. Pensando nesta realidade, o Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA) realiza, há 16 anos, a Exposição das Profissões – EXPRO.

A EXPRO, como é conhecida, é um evento institucional que acontece em três dias. Durante esse período, os cursos de graduação do CEULP/ULBRA se dispõem em stands no hall da instituição e expõem, aos visitantes, o que cada área faz, como atua no mercado de trabalho, com o que pode trabalhar, quais habilidades desperta no acadêmico. E essas explicações são feitas por alunos universitários dos respectivos cursos.

Em entrevista ao (En)Cena, a professora e coordenadora de Extensão do CEULP/ULBRA Cristina Filipakis explica como esta exposição acontece e como consegue atingir os objetivos propostos para o evento.

 

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Professora Cristina Filipakis, coordenadora de extensão do CEULP/ULBRA

 

(En)Cena – Os alunos de ensino médio que chegam à EXPRO normalmente já têm em mente a profissão a seguir no futuro?

Cristina Filipakis – A maioria não. Eles chegam com muitas dúvidas, sem conhecer as opções que são oferecidas e o que de fato cada profissional faz. Os poucos que já possuem um curso em mente geralmente escolhem algum dos “cursos da moda”, como Medicina, Engenharia Civil e Direito, sem avaliar aptidão e perspectiva do mercado de trabalho para os próximos 4 ou 5 anos, prazo médio para que eles concluam um curso superior.


Curso de Educação Física na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Estética e Cosmética na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Enfermagem na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Ciências Contábeis em exposição. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Psicologia na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA

 

(En)Cena – Você acha que o contato entre aluno de ensino médio e acadêmico de ensino superior atinge de forma melhor o objetivo da EXPRO?

Cristina Filipakis – Sim, pois o objetivo da EXPRO é a divulgação das diversas áreas que cada profissional pode atuar e o contato dos alunos de ensino médio com os acadêmicos de ensino superior permite que estes últimos transmitam-lhes a experiência da escolha de uma profissão, os desafios da educação superior e as vivências obtidas nas disciplinas teóricas e práticas do curso escolhido.

 


Curso de Serviço Social em dinâmica na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Direito na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA

Curso de Estética e Cosmética em atividade na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA

 

(En)Cena – A movimentação que a EXPRO desencadeia na universidade também pode ser considerada um dos benefícios da Exposição?

Cristina Filipakis – Sim, os benefícios são evidentes, pois a Exposição permite que os visitantes conheçam o ambiente universitário e vislumbrem a possibilidade de fazer parte dele e o CEULP tem a oportunidade de mostrar à comunidade em geral e público interno (não só aos alunos de ensino médio) todas as áreas de formação que oferece.


Curso de Administração expondo na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Engenharia de Minas expõe maquete itinerante na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA

 

(En)Cena – E qual é o benefício da EXPRO para os acadêmicos que expõem os respectivos cursos? O que a Exposição acrescenta na formação universitária deles?

Cristina Filipakis – Os acadêmicos veteranos dos cursos têm a oportunidade de repassar experiências vividas na universidade, de prestar auxílio a jovens que estão passando por um momento de indecisão (momento esse que foi há pouco tempo passado pelos próprios acadêmicos), de conhecer melhor a sua própria escolha e de até mesmo repensar a escolha feita, pois eles também têm a possibilidade de conhecer os outros cursos e suas especificidades.

 


Alunas no stand do curso de Biomedicina na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Fisioterapia na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Arquitetura e Urbanismo na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


(En)Cena expondo o projeto na Exposição. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Psicologia expondo na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA

(En)Cena – Você também é professora dos cursos de Ciência da Computação e Sistemas de Informação do CEULP/ULBRA. No stand desses cursos, quais são as reações dos alunos que visitam e conhecem um pouco da realidade da profissão?

Cristina Filipakis – A curiosidade sobre tecnologias e assuntos relacionados é comum e no stand destes cursos as mais diversas formas de se aplicar a tecnologia são demonstradas. A computação é uma ciência ampla, que pode ser aplicada a todas as outras áreas de conhecimento e este fato faz com que os visitantes percebam que poderão atuar não só na computação, mas sim em outras áreas que talvez também tenham interesse.

 


Alunas participando de dinâmica desenvolvida pelo curso de Sistemas de Informação na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Stand do curso de Sistemas de Informação na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Alunos do ensino médio conhecendo stand do curso de Sistemas de Informação na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA

(En)Cena – Há resultados de alunos que visitaram a EXPRO e, a partir dela, decidiram em qual curso de graduação ingressar?

Cristina Filipakis – Sim, temos relatos de vários acadêmicos que fizeram suas escolhas a partir da EXPRO e hoje fazem questão de trabalhar de forma voluntária na Exposição, pois entenderam a importância de um evento destes para a informação dos jovens sobre as profissões e o mercado de trabalho que os espera.

 


Curso de Ciências Contábeis em exposição. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Direito na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Biomedicina em atividade na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Engenharia de Minas na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Educação Física na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA

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Saviani, trabalho e educação

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Segundo Saviani (2007), há no mundo contemporâneo uma tentativa de revincular trabalho e educação, que foram separados séculos atrás quando surgiram as sociedades de classes (classe que não trabalha mas estuda na escola para saber “falar bem” e classe que trabalha e não estuda na escola, mas aprende a profissão no processo de trabalho). Na sociedade capitalista, a indústria moderna introduziu o uso de máquinas para simplificar o trabalho. Isto levou a uma diminuição de necessidade de qualificação específica, mas impôs um mínimo de qualificação geral para o trabalho com máquinas. Para as funções específicas de manutenção, reparo, etc. as empresas tinham cursos profissionais. Essa qualificação geral era exigência para todo mundo da sociedade, para poder fazer parte dessa sociedade contratual. Aí surgiu a escola dominante e generalizada e organizaram-se sistemas nacionais de ensino.

No ensino fundamental, a educação é bem básica. Aprender a ler, escrever, etc. para poder se inserir na sociedade moderna. A sociedade é, então, uma referência para a organização do ensino fundamental. A relação entre trabalho e educação ali é implícita, porque não estuda sobre o processo de produção em si, mas sim sobre o mundo em qual vive e sobre a função do trabalho. No ensino médio, a relação entre trabalho e educação é explícita, no sentido que o conhecimento é relacionado ao processo de trabalho (prática). Os alunos aprendem como a ciência e seus princípios são aplicados ao processo produtivo. Não se quer formar técnicos especializados, mas politécnicos. Entende-se por politécnicos “os que dominam os fundamentos científicos das diferentes técnicas utilizadas na produção moderna” (SAVIANI, 2007, p. 161). Esse tipo de formação é necessária para todos porque é ela que faz a união entre escola e trabalho, entre instrução intelectual e trabalho produtivo. Pois ali os alunos aprendem (através de matérias como Física, Química, Desenho Técnico, etc.) não saberes separados que não têm finalidade, mas sim conhecimentos e práticas sobre o mundo de trabalho no qual todos serão inseridos. Depois do ensino médio, o jovem tem duas opções: ou entrar no mundo formal do trabalho ou buscar uma especialização universitária no ensino superior.

Para Saviani (2007), além da politecnia, há outro elemento importante para estabelecer um vínculo entre trabalho e educação, sendo a criação de organizações culturais. Aqui podem juntar-se estudantes universitários e trabalhadores para discutirem os problemas que afetam a sociedade. Um lugar onde trabalho intelectual e trabalho material podem se encontrar.

Eu acho que faz muito sentido o que Saviani defende sobre o ensino generalista e a politecnia, mas acho que não chegamos ali ainda. Não sei suficiente sobre o sistema educacional no Brasil, mas na Bélgica, meu país de origem, eu sei que é muito diferente ainda. Lá, quando entramos no ensino médio aos 12 anos (até 17 ou 18), já escolhe-se certa especialização para os seguintes 6 anos. Como eu escolhi “Latim & Línguas Modernas”, eu passei 6 anos estudando uma língua morta, que eu não uso para nada, enquanto estudei pouco sobre economia, a sociedade atual, etc. Acho uma pena isso, porque muitos que saem do ensino médio não sabem exercer uma profissão, somente os que escolheram certa profissão como opção de especialização no ensino médio. Somente agora surgiu uma proposta na Bélgica na qual se defende deixar os primeiros 2 anos de ensino médio de maneira generalista, para apenas depois escolher uma direção mais específica. Acho que é uma proposta boa, um passo para frente, e queria que tivesse mudado muito mais cedo, porque eu mesma percebo de vez em quando o tanto que fez falta essa educação generalista.

Saiba mais:

SAVIANI, D., Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos. Revista Brasileira de Educação v.12 n.34, [s.l.], jan./abr. 2007.

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