Sentido da Vida e Sentido na Vida, a dinamicidade do sentido na Logoterapia

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Na Logoterapia, abordagem psicoterápica proposta por Viktor Frankl, a busca por significado é o eixo de compreensão da existência humana. Dois conceitos presentes nessa abordagem são o Sentido da Vida e o Sentido na Vida. Embora relacionados, eles se distinguem pela forma como se manifestam e pela natureza das experiências que os constituem. Para entender essa distinção, é preciso iniciar pela ideia de que o sentido é dinâmico, mutável e ligado às circunstâncias que vivemos.

Frankl (2011) enfatiza que o sentido é algo que se transforma conforme as mudanças que ocorrem em nossa vida, assim, ele não é fixo. O que faz sentido em um momento pode não fazer em outro, e isso não significa que a vida perdeu seu valor, pois estamos diante de novas possibilidades de encontrar significado. Essa fluidez é intrínseca à condição humana, por estarmos constantemente em movimento e adaptação, enfrentando diferentes desafios, conquistas e perdas. O sentido, portanto, é uma busca contínua, que se adapta ao contexto e ao momento vivido. Essa ideia é reiterada por Pereira (2007), que destaca a capacidade humana de autotranscendência, ou seja, de ir além de si mesmo para encontrar significado em algo maior.

Nesse contexto, o Sentido da Vida refere-se a uma dimensão ampla e profunda, relacionada àquilo que transcende o indivíduo. Ele está ligado a questões universais, como a existência humana, a ética, a espiritualidade e a conexão com algo maior. Trata-se de algo que descobrimos por meio de nossa interação com o mundo e com os outros. É um sentido ou um objetivo que dá significado à existência como um todo, algo que vai além das experiências individuais (Frankl, 2011). Essa busca por um sentido mais amplo está presente em todas as culturas e épocas, refletindo uma necessidade humana de compreender o lugar que ocupamos no mundo.

O Sentido na Vida está mais próximo do cotidiano, das realizações e experiências que vivenciamos no dia a dia, está nas escolhas que fazemos, nas ações que realizamos e nas relações que construímos. Ele pode ser encontrado em atividades como trabalhar, estudar, cuidar de alguém, ou mesmo em momentos de contemplação, como apreciar uma paisagem. É algo que se realiza no presente, no aqui e agora, e que nos conecta com a realidade que nos cerca (Nery, 2023). Essas experiências cotidianas são importantes para que possamos viver uma vida plena, pois nos permitem encontrar significado nas pequenas coisas, mesmo quando o sentido maior parece distante.

As pequenas realizações que nos trazem significado no cotidiano são, de certa forma, reflexos daquilo que buscamos em uma escala maior. O Sentido na Vida pode ser visto como uma expressão prática do Sentido da Vida, uma maneira de concretizar, no dia a dia, aquilo que consideramos significativo em um nível mais profundo (Pereira, 2007). Essa conexão entre o individual e o universal é o que permite que a vida seja vivida de forma integrada, com cada experiência cotidiana contribuindo para a construção de um sentido maior.

A dinamicidade do sentido nos lembra que a vida é um processo contínuo de descoberta e realização, e não uma busca por respostas definitivas. O que faz sentido hoje pode não fazer amanhã. A capacidade de adaptar-se às mudanças e encontrar novos significados é uma das lições da Logoterapia. Frankl (2011) nos ensina que, mesmo nas situações desafiadoras, há a possibilidade de encontrar sentido, seja naquilo que realizamos no presente, seja naquilo que buscamos em uma dimensão mais ampla. Essa ideia é reforçada por Nery (2023), que reflete sobre a importância de olhar para os “altos e baixos da vida” como oportunidades para ressignificar nossas experiências e encontrar novos caminhos.

Assim, o Sentido da Vida e o Sentido na Vida são duas dimensões que se complementam. Enquanto um nos conecta com questões universais e transcendentais, o outro nos sustenta nas experiências concretas do cotidiano. Juntos, eles nos mostram que é possível encontrar significado, cabendo a nós descobri-lo conforme as circunstâncias que enfrentamos e as escolhas que fazemos, entendendo o que podemos mudar dentro do contexto e, a partir disso, nutrir a vida de sentidos.

Referências 

FRANKL, Viktor Emil. A vontade de sentido: fundamentos e aplicações da logoterapia. Tradução de Ivo Studart Pereira. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2011.

NERY, Alberto. A vida sempre tem um sentido? Como encontrar significado nos altos e baixos da sua jornada. Paidós, 2023.

PEREIRA, Ivo Studart. A vontade de sentido na obra de Viktor Frankl. Psicologia USP, São Paulo, v. 18, n. 1, p. 125-136, 2007.

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Acadêmico de Psicologia da ULBRA Palmas, Voluntário do Portal EnCena

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