TDAH ou TPAC? A necessidade do olhar singular sobre o indivíduo para um diagnóstico diferencial

Desafios em ensinar alunos com Transtorno do Processamento Auditivo Central

Débora Gerbase – Professora e Autora de livros missgerbase@gmail.com – @deboragerbase

 

 

Transtorno do Processamento Auditivo Central (TPAC) é uma condição que impacta a habilidade de processar e interpretar informações auditivas, mesmo em alunos com bastante potencial

Em um cenário educacional repleto de diversidade e complexidade, somos frequentemente confrontados com enigmas que desafiam nossa compreensão e habilidades de ensino. Em um capítulo memorável de minha jornada como educadora, deparei-me com uma intrigante questão: como auxiliar alunos notavelmente corteses, tranquilos e afetuosos, que, apesar de parecerem atentos, enfrentavam dificuldades em reter informações e compreender plenamente as lições apresentadas em sala?

Eles eram alunos calmos, carinhosos, que se esforçavam para prestar atenção em sala de aula. Seus olhares atentos transmitiam a impressão de que absorviam o conhecimento compartilhado. No entanto, algo desconcertante acontecia durante as nossas lições. Ainda que demonstrassem engajamento, quando indagados sobre o tópico discutido, suas vozes ecoavam: “Hã?”, “O quê?”. Era como se o entendimento de tudo que havia sido transmitido se dissipasse no ar.

Foi este momento de questionamento que me conduziu a uma jornada de descobertas acerca do Transtorno do Processamento Auditivo Central (TPAC), uma condição que impacta a habilidade de processar e interpretar informações auditivas, mesmo em alunos com bastante potencial.

Ao adentrar esse universo, tornou-se evidente que a dificuldade encontrada por esses alunos não era um reflexo de desinteresse, mas sim um desafio real. Após uma conversa com especialistas e coordenadores do departamento de bem-estar da escola, fui introduzida ao mundo complexo do TPAC. Esses alunos não buscavam confundir ou desafiar minha autoridade, mas sim enfrentavam dificuldades em processar a informação oral.

De acordo com o Núcleo de Estudos Fonoaudiológicos, o TPAC aflige aqueles que não conseguem processar e compreender os sons de maneira convencional, pois algo no seu sistema cerebral interfere na interpretação adequada dos estímulos sonoros. Ele não deve ser confundido com um distúrbio de aprendizagem. Em um ambiente de sala de aula, isso se traduz em desafios para acompanhar debates, ler e escrever, bem como compreender instruções e enunciados de problemas matemáticos.

                                                                        Fonte: https://br.freepik.com/

O TPAC é uma questão auditiva, não cognitiva, e muitas vezes, os alunos sentem-se constrangidos ao admitir que não entenderam uma instrução ou orientação.

Contudo, a American Academy of Audiology (2010) destaca que essa condição frequentemente é mal interpretada, uma vez que seus sintomas se assemelham a outros distúrbios, como atrasos na fala e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Identificar o TPAC requer uma abordagem sensível e conhecimento aprofundado.

Muitas vezes, estes alunos sequer têm consciência de seu próprio problema, devido ao impacto na compreensão auditiva. O TPAC, como destaca o Núcleo de Estudos Fonoaudiológicos, é uma questão auditiva, não cognitiva, e muitas vezes, os alunos sentem-se constrangidos ao admitir que não entenderam uma instrução ou orientação.

Ainda segundo o Núcleo de Estudos Fonoaudiológicos, crianças com TPAC são diversas e podem manifestar sintomas na sala de aula. Embora somente um profissional habilitado possa diagnosticar, os educadores podem estar atentos aos sinais, como:

  • Habilidades auditivas pobres;
  • Dificuldade em acompanhar o ritmo de colegas;
  • Dificuldade com consciência fonológica;
  • Desafios em leitura e escrita;
  • Sensibilidade a ruídos de fundo;
  • Dificuldade em recordar informações verbais;
  • Repetição frequente de “Hã?”, “O quê?”, “Eu não ouvi”;
  • Necessidade de repetições ou reformulações;
  • Dificuldade em participar de discussões em sala de aula;
  • Desatenção durante as aulas;
  • Dificuldade com enunciados de problemas matemáticos.

Diante disso, como facilitar a compreensão desses alunos?

Em primeiro lugar, os pais precisam buscar ajuda especializada, como o Exame de Processamento Auditivo, conduzido por médicos e fonoaudiólogos. O diagnóstico precoce é crucial. Em segundo lugar, os educadores devem se familiarizar com o transtorno e implementar estratégias que otimizem a escuta e compreensão, a fim de criar ambientes de aprendizado inclusivos e acolhedores. O Núcleo dos Estudos Fonodiólogos sugere adaptações físicas, como:

  • Redução do ruído de fundo;
  • Posicionamento estratégico na sala de aula;
  • Repetição e esclarecimento de instruções;
  • Comunicação clara e pausada;
  • Uso de apoio visual.

Embora não haja cura definitiva, estratégias bem aplicadas podem melhorar a escuta e desenvolver a via auditiva ao longo do tempo. Crianças com TPAC podem prosperar, especialmente quando apoio e compreensão estão presentes. Como pontua o Núcleo de Estudos Fonoaudiológicos, uma atitude positiva, realista e autoestima saudável são catalisadores para o sucesso.

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Com a combinação certa de apoio, estratégias e sensibilização, alunos com TPAC podem atingir suas metas acadêmicas e pessoais

 

 

Lidar com alunos com TPAC requer paciência e empatia, mas também proporciona a oportunidade de empoderamento. Com a combinação certa de apoio, estratégias e sensibilização, alunos com TPAC podem atingir suas metas acadêmicas e pessoais, reforçando que a superação é alcançável para todos.

Em um mundo onde cada aluno enfrenta suas próprias batalhas em busca do conhecimento, é nosso dever como educadores compreender e abraçar cada jornada singular. Dessa forma, capacitamos nossos alunos a enfrentarem os desafios com coragem e alcançar o sucesso com confiança.

Ao compreender a complexidade do TPAC e as estratégias que podem auxiliar alunos a superar seus desafios, abrimos as portas para um ambiente educacional mais inclusivo e enriquecedor. Cada aluno é uma história única de potencial, e é nosso privilégio como educadores ajudá-los a escrever capítulos de sucesso em suas jornadas de aprendizado.

Biografia:

Fonte: Acervo pessoal

Débora Gerbase é uma professora e tradutora que atua nas áreas de inglês, português e português para estrangeiros. Atualmente, reside em São Paulo, onde concluiu sua formação em Letras – Tradução e Pedagogia e, posteriormente, obteve pós-graduações em Psicopedagogia e Formação de Docentes para o Ensino Superior.

Além de seu trabalho como educadora, Débora é autora dos livros “Sem pé nem cabeça – Expressões idiomáticas em português” e “Manual de Sobrevivência para o Professor Esgotado”, e coordenadora e coautora do livro “A realidade diversa na sala de aula: como lidar com a inclusão e a educação Socioemocional nas escolas” e coautora do livro “Alfabetização Bilíngue: benefícios e mitos na formação de crianças bilíngues”. Tem paixão pelo ensino e aprendizagem, bem como por seu compromisso com o sucesso de seus alunos.

 

Referências:

American Academy of Audiology. Clinical practice guidelines. Guidelines for the diagnosis, treatment and management of children and adults with central auditory processing disorder; 2010.

Núcleo de Estudos Fonoaudiológicos. Orientações à Escola. São Paulo.