Tudo é número?

“Tudo é número, logo tudo é razão. Falso. Nem tudo é razão. De onde vem? Das relações matemáticas?”

 

Eles estão aqui, ali, e bem aí. Na senha, nos códigos de barras, na hora de acordar, no dia da semana, nos dados da produção, no valor da bolsa, no número de mortos, no número que visto, que calço, que peso, que invisto. Quer você os ame ou odeie.

Há quem não tenha afinidade alguma com eles; quem tenha certa aproximação e quem opere bem, seja no campo dos reais ou complexos. E, em meio a isso, temos ainda aqueles que vão além do ódio ou amor a esses objetos matemáticos: os que acreditam na intervenção direta dos números em suas vidas.

A numerologia, pseudociência que se dedica ao estudo do significado e da influência dos números no caráter e no destino das pessoas, a partir da interpretação de expressões matemáticas relacionadas ao nome que se possui, é, muitas vezes, consultada por alguns na tomada de decisões empresariais e, inclusive, pessoais. Atitude essa que estabelece certa relação de dependência do indivíduo em relação aos números.

Embalados por essa crença, acreditamos que tais indivíduos, assim como Pitágoras, corroboram a ideia de que ‘tudo é número’. E, embora não concordemos com a totalidade da afirmação (até mesmo porque tudo tenderia ao exato, à razão), necessitamos considerar engraçada a relação de afinidade ou desapego que temos com dados algarismos.

E, de fato. No Japão, por exemplo, os números 4 e 9 são considerados como números de azar por lembrarem morte e sofrimento. Em alguns hospitais do país não se usam esses números nos apartamentos e nas enfermarias, pois vários hospitalizados se recusam a se internarem em dependências hospitalares por eles identificadas. Já no Brasil, o número 13 é o de má sorte, pois é tido como incompleto na numerologia se posto em comparação ao número 12 dos 12 meses do ano, dos 12 signos do Zodíaco, das 12 tribos de Israel e dos 12 apóstolos. Outra possível justificativa para essa superstição pauta-se em explicações advindas da mitologia nórdica (conjunto de religiões e crenças pré-cristãs) que cita a lenda de Loki, um espírito ruim que apareceu para um banquete de 12 pessoas sem ser convidado provocando a morte do deus Balder, o mais quisto dos deuses (http://pt.wikipedia.org/wiki/Sexta-Feira_13). Dentre essas comparações místicas, há ainda o fato de que na cultura brasileira este número (13) se associado a uma sexta-feira também pode representar um dia mau agouro. A explicação para essa associação ser pouco sortuda dá-se em decorrência da morte de Cristo ter ocorrido em uma sexta-feira; dia em que, segundo as Sagradas Escrituras, supostamente também ocorreu o grande dilúvio.

No meu caso, por exemplo, embora a numerologia diga que meu número de sorte seja o 8, algo de peculiar há nos números 20 e 10. Não que eles expliquem ou ajudem a compreender a origem do universo, ou estabeleçam uma estrutura lógica para equacionar enigmas como o conjunto dos números primos. Eles simplesmente representam, para mim, uma data singular registrada no RG n° 612.990.

Aos religiosos, por sua vez, como citação, há certo distanciamento do número 666, já que essa sequência lembra o que ficou registrado em Apocalipse 13-18: “[…]Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis”. A besta, o dragão e o falso profeta representam, para os cristãos, figuras apocalípticas que os reportam a profecias acerca do sofrimento do fim dos tempos. Logo, para esses, não é de bom tom ter esse número ligado à sua imagem ou a pertences seus.

Loucura? Coisa da cabeça?

Aos jogadores da Megassena, o uso de combinações de números pares, ímpares, perfeitos ou múltiplos pode desencadear na sorte de se receber vários zeros à direita do saldo bancário, se eles acertarem 6 dos 60 números disponíveis na cartela. Já aos matemáticos, essa sorte fica mais à mercê dela própria do que da probabilidade real de um fato desses ocorrer, uma vez que existem 50.063.860 formas diferentes de combinações dos 6 números.

Enfim, sortudos ou azarados, não temos como comprovar essas adjetivações, o que nos leva a concluir que, fomentados ou não pelo pensamento de sorte ou azar advindo de um dado número, somos apenas capazes de afirmar que vivemos em meio a um verdadeiro sistema numérico. Situação essa que nos conduz à escolha de sermos simplesmente uma variável que acompanha os coeficientes numéricos ou um fator determinante no jogo da própria vida.