A metade do copo cheio: como a IA está democratizando o acesso à terapia

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Por Diego Silva, terapeuta integrativo e fundador da Inner Health

O potencial da inteligência artificial tem assustado algumas pessoas nos últimos meses e não é para menos. Em alguns casos, a ferramenta tem sido aplicada para gerar vídeos macabros, juntar famosos que não se gostam e até propagar falsas notícias. Mesmo com a sensação de receio que ronda a IA, é imprescindível que todo esse avanço seja visualizado pela metade do copo cheio. Ela tem transformado o acesso à saúde mental, tornando possível que determinadas pessoas tenham um suporte antes visto como inalcançável.

O surgimento de chatbots especializados e plataformas digitais tem possibilitado que, independentemente de localização ou condição financeira, mais pessoas possam contar com ajuda emocional. A evolução dos Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLMs, na sigla em inglês) permitiu a criação de assistentes virtuais que oferecem aconselhamento básico, monitoramento e encaminhamento para profissionais de saúde quando necessário. Essas soluções estão preenchendo uma lacuna crítica no sistema, onde a falta de especialistas e os altos custos tornam a terapia uma realidade distante.

Com as atualizações, espera-se que essas tecnologias se tornem cada vez mais eficientes e acessíveis. Melhorias significativas nos modelos de IA permitiram um desempenho aprimorado e redução de custos, tornando o suporte psicológico digital uma alternativa viável para um público cada vez mais crescente. O acesso 24 horas por dia, sete dias por semana, e preços acessíveis, por exemplo, tornam essa revolução um divisor de águas para quem precisa de apoio imediato.

É claro que a IA não substitui o trabalho de psicólogos e psiquiatras. Esses recursos atuam como agentes complementares, oferecendo suporte inicial e ajudando a encaminhar casos mais complexos para profissionais qualificados. A supervisão humana continua sendo fundamental para garantir a segurança e a eficácia dessas soluções.

A forma como sistemas inovadores são encarados, assim como a saúde mental, precisa mudar radicalmente. Não há mais espaço para o elitismo terapêutico. Durante décadas, o acesso ao bem-estar emocional foi um privilégio de poucos, restringido por barreiras sociais, geográficas e até culturais. Agora, com a ascensão da inteligência artificial, há um dilema importante, mas fácil de ser resolvido: será que a tecnologia pode finalmente romper um ciclo de exclusão, ou ainda haverá uma resistência à ideia de que o suporte psicológico precisa ser acessível a todos?

Negar o papel da IA na democratização da terapia é ignorar a necessidade de milhões que, sem essa alternativa, permaneceriam sem qualquer tipo de direcionamento. Os resultados podem ir além do esperando, envolvendo a redução de estatísticas de doenças psicológicas – especialmente relevante para o Brasil, que lidera o ranking mundial de ansiedade e depressão, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) – e contribuindo para o bem-estar coletivo.

Sendo assim, ela pode ir de vilã à heroína quando o assunto é saúde mental. Mais do que criar filtros de famosos nas redes sociais ou movimentar trends, a inovação precisa ser a matriz de uma mudança que deveria ser implantada há muito tempo, com o objetivo de reverter um cenário pré-estabelecido, mas que precisa mudar o quanto antes.

Diego Silva, terapeuta integrativo e fundador da Inner Health

Sobre o autor: Diego Silva é fundador e CEO da Inner Health, startup de saúde mental que oferece soluções inovadoras para escolas e indivíduos. Formado em Engenharia Elétrica pela Universidade de São Paulo (USP), Diego também é apaixonado por psicologia, com dezenas de formações em terapias integrativas e técnicas de meditação. Acredita no potencial transformador da inovação para promover o bem-estar e a saúde mental das pessoas.

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