Acolhimento em Rede – A realidade do profissional de saúde

Neste mês de maio, no CEULP/ULBRA ocorreram oficinas na área da saúde, com o tema “Acolhimento em Rede”.  O evento foi promovido pela Política Nacional de Humanização – PNH do Ministério da Saúde, em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde e com o apoio do (En)Cena, possibilitou a vinda dos consultores e demais profissionais da área da saúde. As mesas-redondas aconteciam pela manhã. Já pela tarde, os trabalhos em grupo tinham por objetivo a socialização dos conteúdos.

Prática e teoria só funcionam juntas

Em entrevista para a Folha online, o presidente da comissão de graduação da Faculdade de Educação da USP, Manoel Oriosvaldo, afirmou que “a teoria permite ao profissional refletir sobre sua atividade constantemente. E corrigí-la quando necessária”. Tendo essa concepção da importância da teoria para aprimorar o conhecimento, vamos entender como isso se aplica na área da saúde?

Terezinha Moreira, consultora da Política Nacional de Humanização – PNH, em Belo Horizonte, desde 2012.
Foto: Walter Riedlinger

Terezinha Moreira foi consultora da Política Nacional de Humanização na Região Norte, entre os anos de 2004 e 2012. Atualmente é consultora na Região Sudeste do país, mais precisamente em Belo Horizonte. Para ela, a teoria serve apenas como base para as experimentações.

“A teoria é instrumento de estado sobre os aspectos que compõem a vida. A teoria é infinita, por isso, tem que ser atualizada, recriada pelo aluno ou profissional com experimentações. Assim, eu posso mudar o que é teórico para o que é concreto. Por fim, a teoria só tem sentido se houver prática. Neste caso, no momento em que o acolhimento ocorre”, disse.

Outra palestrante que pode contribuir para a discussão sobre o processo de humanização, durante a oficina “Acolhimento em Rede” foi Marilene Wagner. Presente no último Fórum Regional de Humanização, em Araraquara, São Paulo, a consultora matricial da Política Nacional de Humanização afirma, de forma contundente, que a teoria e a prática devem caminhar juntas.

“Uma sem a outra não funciona. Cada oficina dessa contribui para o crescimento do profissional, dá embasamento  para intervirem e mudar a realidade. Mas tudo isso só é possível com experimentação”, afirma.

Cleusa Pavan, consultora da Política Nacional de Humanização, em São Paulo.
Foto: Walter Riedlinger

Parte da boa prática na área da saúde, no acolhimento por exemplo, deve-se à escuta qualificada. Este é um princípio básico do diálogo entre os indivíduos. Contudo, o servidor tem que ter ‘jogo de cintura’ para lidar com as adversidades presentes na rede pública de saúde. É o que explica a consultora da Política Nacional de Humanização, em São Paulo. Cleusa Pavan.

“Saber escutar é fundamental, mas nada cai do céu. A escuta qualificada é instrumental. Para que os processos funcionem corretamente, exige-se experiência, prática. Tem que saber escutar, mas tem que saber ofertar (alternativas) também. Assim como não basta só ter remédio em estoque. Isso não garante bom acolhimento”.

O discurso da consultora se confirma na explicação da assistente social do Hospital Infantil de Palmas, Maria Catarina Machado.

“Nós, assistentes sociais, fazemos o acolhimento com escuta qualificada. Com a ficha preenchida, fazemos o encaminhamento do paciente. Mas continuamos acompanhando. Em um hospital, por exemplo, o acolhimento não se dá apenas na entrada, mas durante e pós a internação, inclusive”, disse.

Preconceito no acolhimento

Já sabemos, então, que a escuta qualificada contribui para a melhoria  do acolhimento, mas ainda há muitas barreiras que impedem a boa convivência do profissional da saúde com o paciente. Um deles é preconceito ou pré-julgamento. E não é qualquer preconceito. É aquela velha busca pelo padrão de beleza e status social.

“Não é específico no trabalho. É cultural. Temos uma visão de padrão aceitável. Este padrão é de um homem branco, rico e heterossexual. Isso quem dita, todos os dias, são a família, os meios de comunicação, os círculos sociais”, afirma Cleusa Pavan.

Urgência não é desculpa

Sabemos o Sistema Único de Saúde passa por momento delicado, devido à quantidade de profissionais disponíveis para o atendimento. Isso implica em mais casos de urgência e desanima quem espera nas filas. Então, como acolher bem, humanizar, ou seja, ter o cuidado necessário com cada situação, quando há tantas pessoas aguardando? A grande demanda e a urgência não dificultam a humanização? A consultora Marilene Wagner garante que não.

Marilene Wagner, consultora matricial da Política Nacional de Humanização.
Foto: Walter Riedlinger

“De forma alguma. A urgência não pode nos impedir de humanizar os processos. Agora, se o paciente for vítima de um acidente, não pode responder por si próprio e o quadro clínico é grave, nem tem como haver o diálogo, o profissional tem que encaminhar rapidamente. Porém humanizar é estar atento aos sinais vitais do paciente. Então, quem atende tem que fazer essa análise”, explicou.

Recursos

Agora entramos num aspecto burocrático, mas muito importante para a motivação do profissional da rede pública: recursos financeiros. Todo o estudo teórico e prático, na visão da consultora Terezinha Moreira, é ineficaz sem investimento monetário.

“O SUS é subsidiado pelo estado. O investimento é necessário para que o servidor consiga por em prática as políticas de humanização. Quando o recurso é escasso, dificulta o aprimoramento da prática. Ele interfere diretamente na experimentação, atualização dos processos e no atendimento ao público. O servidor é responsável apenas pelo conhecimento e ações próprias”, alertou.

Acolhimento em Rede

Por fim, entendemos que, quando há dificuldades no atendimento, é preciso que a classe se una, que as mãos sejam dadas, para a melhoria do sistema público de saúde. Aí está a importância da oficina.

“O “Acolhimento em Rede” é a oportunidade de mexer com os valores. É o momento de os profissionais da área da saúde se repensarem, de verem outros jeitos de tratar a vida. A Política Nacional de Humanização é justamente para transformar, repensar os processos no atendimento público”, disse Cleusa Pavan.

E, engana-se quem acha que as palestras e demais atividades em grupo sejam parte de um planejamento do Ministério da Saúde. Já são ações postas em prática.

“O evento já é execução. O que difere uma oficina de outra é que os detalhes e as experimentções vão aumentando. Por isso, em cada oportunidade, enfatizamos o que já foi planejado e damos sequência”, confirmou Marilene Wagner.

 “O “Acolhimento em Rede” já é execução, não mais planejamento. O problema é que ainda não há apoio para planos de humanização. Já trabalhamos muito em planejamento com a PNH (Política Nacional de Humanização). Essas oficinas são para aprimorar, não mais para aprender apenas”, concluiu Terezinha Moreira.