Caos 2021 contextualiza a dimensão psicológica da tragédia da Boate Kiss

Em continuação ao CAOS – Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia foi exibido o documentário: Um tempo sem fim: 5 anos da tragédia da Boate Kiss, com mediação do psicólogo Adams Rodrigues Malta. O evento ocorreu nesta quarta, dia 03 de novembro, às 14h através do Google Meet.

O debate iniciou a partir de uma contextualização acerca da tragédia da boate Kiss, que aconteceu no dia 27 de janeiro de 2013, ocasionando a morte de 242 pessoas e deixando 680 outras feridas. O enfoque do documentário é voltado à dor das famílias das vítimas, logo, voltado para o momento do luto.  O debate seguiu com o intuito de responder as perguntas disparadoras: É possível ressignificar sentimentos associados a tragédia? Quais as consequências no âmbito da psicologia de permanecer no luto? É possível atenuar a dor da perda?

Ao ser questionado sobre uma possível definição de luto, o mediador Adams explica (de forma geral) o luto como um fenômeno universal, que se caracteriza como um sofrimento intenso e profundo diante de algum tipo de perda, ruptura, separação ou ausência. Esse luto ocorre de diferentes formas e pode ser provocado por diferentes processos, logo, o luto está presente no desmame de um neném, na perda do corpo infantil, na perda de um ente querido, na perda de um animal de estimação, na perda de um grande desejo e outros.

Fonte: Leandro LV, CC BY-SA 3.0 <https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0>, via Wikimedia Commons. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Boate_Kiss_2013.02.04._10.jpg

Vínculo, essa é a palavra chave relacionada ao luto. Segundo Adams, o luto só é possível a partir do momento em que se foi constituído um vínculo de amor permeado por diversas nuances com o que foi perdido. A internalização e externalização de aspectos que uma relação envolve, como emoções e comportamentos, permite a criação desse vínculo, ligação, entrelaçamento.

No decorrer do debate, muito se falou sobre o luto, o que seriam fases do luto, do morrer, manejo na abordagem de pessoas que estão vivenciando tragédias, e outros. O mediador apresenta a música pedaço de mim, de Chico Buarque, para ilustrar a dor, a dificuldade em lidar com a perda, a dúvida de como prosseguir sem a figura perdida. Nesta, o luto é compreendido através da saudade, e essa saudade é o pior castigo.

Ademais, o debate contou com a participação do público que estava presente na sala, com perguntas, apontamentos e comentários. Para finalizar, um trecho da música de Chico:

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu