Na última sexta-feira (01/11), o Portal (En)Cena promoveu a roda de conversa “Laços de Cuidado: Afetos e Desafios em Famílias com Pessoas Dependentes” nas dependências da Ulbra Palmas. O evento reuniu profissionais e acadêmicos para discutir a importância dos vínculos no cuidado de pessoas dependentes, abordando os aspectos emocionais e os desafios envolvidos.
Com a participação especial do enfermeiro e gestor de aprendizagem, James Stefison Sousa e da psicóloga e professora da Ulbra Palmas, Isaura Rossatto, ambos pesquisadores na área do cuidado de pessoas dependentes, integraram uma roda de conversa que trouxe uma rica troca de experiências e perspectivas. Os convidados destacaram a relevância do apoio emocional no contexto familiar e compartilharam vivências e conhecimentos que enriqueceram o debate. Além dos especialistas, compôs a mesa a discente Amanda Mariana, com o seu relato como cuidadora familiar e Lilian Rosa, como mediadora.
O enfermeiro James Stefison destacou que o envelhecimento saudável, ou senescência, é caracterizado pela manutenção da saúde física e mental dos idosos, enquanto o envelhecimento patológico, ou senilidade, exige cuidados específicos devido às limitações de saúde. Com a presença de doenças crônicas e a necessidade de suporte, o papel do cuidador se torna essencial, especialmente quando são familiares que assumem essa responsabilidade.
De acordo com James Stefison, no Brasil, cerca de 91,7% dos cuidadores são familiares, e em sua maioria mulheres, refletindo um padrão cultural onde o cuidado é visto como papel feminino. Ele acrescenta que esses cuidadores enfrentam desafios significativos, incluindo jornadas intensas e condições físicas específicas, como dores crônicas, além de impactos emocionais como isolamento e tristeza, especialmente quando o cuidado é uma demanda constante e pouco compartilhada.
Em outros países, há políticas de apoio e folgas para cuidadores, mas no Brasil, a ausência de políticas públicas adequadas sobrecarrega os familiares responsáveis. Segundo James Stefison: “a pesquisa indica ainda que o cuidado de idosos envolve uma dimensão afetiva profunda, onde sentimentos de retribuição e amor coexistem com cansaço e, muitas vezes, frustração”. Ele cita o filósofo Leonardo Boff que afirma que: “o cuidado é mais que um ato, ele é uma atitude”, ou seja, ele abrange mais que um momento de atenção, ele representa uma atitude de ocupação, preocupação, responsabilidade e de envolvimento afetivo com o outro.
A discente Amanda Mariana vive a dimensão de ser cuidadora informal de seu pai. Como cuidadora, ela administrou com dedicação e criatividade os cuidados diários que ele requer, desde a organização dos medicamentos e organização dos horários de tomá-los, até o auxílio nas necessidades básicas. Amanda busca dessa forma humanizar o cuidado, recriando rotinas que lembram os hábitos e gostos do pai, como colocar na TV o programa favorito dele, o que traz algum conforto em meio à rotina exaustiva: “Eu não tenho uma palavra que defina o cansaço e o amor que a gente tem por aquele ser que está acamado”, aponta.
Para a acadêmica de Psicologia, Isabella Fernandes, participar da roda de conversa foi uma experiência enriquecedora: “Pude olhar para o cuidado, questionar as influências culturais e suas significações. Foi apresentado a perspectiva do cuidador, perguntas como: quem cuida de quem cuida? A possível romantização desse papel, mas ao mesmo tempo ser um lugar de sofrimento. Foi uma oportunidade incrível e um evento imperdível!”.
Segundo a discente, Nádia Ramos, através da roda de conversa foi possível alinhar pesquisas e trocas de experiências: “Gostei muito, e a contribuição da fala da Amanda veio elucidar a teoria. No nosso curso falamos muito sobre humanizar atendimentos, e a roda de conversas ontem mostrou que a humanização, a dignidade das pessoas, não se resume a um atendimento clínico/hospitalar, mas nas relações humanas mesmo. Pessoas acamadas que dependem de cuidado, muitas vezes são colocadas numa posição passiva que as distanciam do senso de pertencimento de suas vidas, nas falas ficou bem clara a importância da rotina, dos costumes no processo de cuidado, para a pessoa dependente, mas também para os cuidadores”.
O evento faz parte da série de atividades Pré-CAOS, que antecede o Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – CAOS 2025, previsto para fevereiro do próximo ano. Os eventos Pré-CAOS, programados para o mês de novembro, seguem com o objetivo de explorar os laços familiares em diferentes contextos e seus impactos. A abertura oficial do CAOS 2025 acontecerá no dia 7 de novembro, durante os Diálogos Clínicos, onde os acadêmicos estagiários da Clínica Escola de Psicologia (SEPSI) apresentarão uma discussão de um caso clínico, na visão das diferentes abordagens da psicologia.