Com objetivo de construir um protocolo de intervenção em crise para as casas de acolhimento institucional do município de Palmas, estudantes da disciplina de Estágio Básico de Intervenção em Situação de Crise, do curso de psicologia da ULBRA, organizam capacitação, no mês de outubro e novembro, para os servidores da Casa de Acolhimento Raio de Sol e Casa Acolhida, no Núcleo de Atendimento Integrado de Palmas (NAI).
Segundo o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, as casas acolhem crianças e adolescentes como medida protetiva, por determinação judicial, em decorrência de violação de direitos (abandono, negligência, violência) ou pela impossibilidade de cuidado e proteção por sua família. Essa ação é uma medida excepcional, aplicada apenas nas situações de grave risco à sua integridade física e/ou psíquica.
Antes da capacitação ocorreu um momento em que os estudantes se reuniram com os servidores, em ambas as casas, para levantar as situações de crises de cada uma. A equipe observou que alguns gatilhos costumam precipitar as crises, como a chegada de um novo acolhido, pois altera a dinâmica do grupo; a sensação de rejeição quando o acolhido não recebe visita de um familiar e a rotatividade dos educadores, especialmente os de referência devido a perda do vínculo. Outro ponto levantado foi a percepção de que alguns adolescentes passam a reproduzir comportamentos de crise como estratégia de ganho secundário. Os educadores explicaram que, ao perceber o início de uma crise, tentam conversar com o adolescente buscando uma distração ou oferecendo medicação.
A capacitação foi dividida em três momentos, o primeiro encontro que aconteceu no dia 3 de outubro de 2024, propôs explicar: O que é saúde mental? O que é crise? E relatar os tipos de crise que foram identificadas nas casas. Na atividade realizada na última segunda-feira (21), segundo a professora Mariana Borges: “A ideia é conversar mais sobre esses tipos de crise e trazer um pouco também o que são os estressores, limiar e vulnerabilidade, que são algumas questões que podem auxiliar eles a identificarem de forma mais preventiva situações de crise para intervenção, como também se eles conseguem visualizar esses estressores nas casas de acolhimento”.
Para Mariana Cabral, psicóloga tanto na Casa Acolhida quanto na Raio de Sol é de extrema importância entender teoricamente os conceitos e a diferenciação de crise e surto, para que o servidor saiba manejar não só o outro, mas a si também e se autorregular. “Dessa forma, a gente pode unir forças, conhecimento com a prática e perpassar não só o fazer dos profissionais que estão aqui reunidos, mas também nessa formação dos acadêmicos entendendo um pouquinho dessa nossa realidade, que apesar de ter esse viés de amar o serviço, de estar ali para de fato ajudar e acolher as crianças e adolescentes, nós também enfrentamos muitos desafios, por falta às vezes de conhecimento e capacitação.”
De acordo com a professora Mariana Borges, o próximo encontro ocorrerá no dia 4 de novembro e abordará sobre a matriz de responsabilidade, o objetivo é identificar qual é a parte de cada um dos profissionais na situação de crise, em qual fase ela se encontra, em qual momento de uma situação de crise precisaria intervir e quem são as pessoas que precisariam intervir. Logo após os eventos os alunos irão criar protocolos de mediação de situação de crise para cada uma das casas de acolhimento.