Hoje passei em uma livraria e comprei um livro sem folhear antes, apenas pela capa. Não me arrependi, pois trata-se de “CARPE DIEM” de Rubem Alves. O autor eu já conhecia de outrora e a expressão do título também é uma velha conhecida que há algum tempo utilizo em meu perfil de whatssap. Já em casa, li na contracapa uma citação do próprio autor: “A sabedoria do tempo se resume em duas frases. A primeira está dita na curta expressão latina: tempus fugit, o tempo foge, tudo é efêmero. A segunda, também curta, aconselha: carpe diem, colha o dia. Colha o dia como se fosse um fruto maduro.” Quanta coincidência, no meu perfil do whatssap está escrito “Tempus fugit, carpe diem“. Bebemos da mesma água Sr. Alves?
Mas, o que mais me chamou atenção na contracapa foi a primeira frase do editor: “Este livro pode ser utilizado como caderno de anotações, agenda ou diário.” Abri o livro e logo notei: ele tem um formato de agenda anual, com linhas em branco, datado dia a dia, todos os dias do ano. Sem sombras de dúvidas, trata-se de uma agenda de um ano bissexto. E, em cada dia, o autor escreveu uma mensagem em forma de aforismos. Ele preencheu uma parte do dia da pessoa que vai ler. Porém, em algumas datas existem linhas sobrando como se fosse para o leitor completar o dia. E, em outras está tudo preenchido como se o dia de quem lê fosse apenas aquela mensagem.Quanta ousadia Sr. Alves: como pode o dia estar pronto? Já ter sido colhido.
Lascou! Ferrou! Como leio este livro? Se ele tem formato de diário, ele pode ser começado por qualquer página, assim como o “livro de areia” de Jorge Luis Borges. Só de sacanagem comecei pelo dia do meu aniversário (julho/18). Nele uma citação de meu conterrâneo de coração diz assim: “‘As coisas que não existem são mais bonitas’ (Manoel de Barros).
A alma se alimenta de coisas que não existem. Coisas que não existem alimentam a beleza e a esperança.” E foram colocadas 12 linhas abaixo para o leitor completar como quiser. No dia 18 de julho do ano que vem talvez pensarei em como preenche-lo.
Hoje é 23 de agosto: “O educador é um mestre do Kama Sutra, manual de sabedoria erótica. São os prazeres e as alegrias que nos dão razões para viver. Brecht, sofrido, disse que o único objetivo da ciência era aliviar a miséria humana. Mas isso não basta. Não basta aliviar a miséria. É necessário produzir a exuberância dos prazeres.” Sobraram sete linhas para eu completar o restante do meu dia. Então, vamos lá.
Como começar algo depois de uma afirmação como esta sobre o educador? Está de sacanagem Sr. Alves? Como eu mando meus filhos para a escola depois desta?
Mudando de assunto, …, apesar de sugestiva a sabedoria erótica, talvez este não seja o melhor momento para falarmos sobre.
Falar de ciência agora? Sério mesmo? Não tenho autoridade. Mas, e sobre a necessidade da produção da exuberância dos prazeres? Posso e ouso discordar: esta é apenas a função comercial da ciência. A ciência assim como o tempo que foge e a colheita que deve ser feita a cada instante tem um fim em si mesmo. Gera exuberante prazer em quem a produz e em quem a compra. Mas, o seu fim não é dado, deve apenas ser colhido – assim como Newton depois de colher a maçã debaixo da árvore concebeu a teria da gravitação universal; assim como folhear este livro do Rubem Alves me deu vontade de escrever.
Não farei ciência, talvez eu faça ou rearranje aforismos para serem colhidos maduros:
São os prazeres e as alegrias que nos dão razões para viver. Ambiguamente, o inverso também é verdadeiro: são as dores e as tristezas que nos dão razões para viver. Estes últimos nos catapultam para evoluir e produzir a exuberância dos prazeres. Tempus fugit, carpe diem! ‘Há’ todo instante um novo prazer.