Há algum tempo, a Universidade de Stanford (EUA) realizou uma experiência na área da psicologia social quando deixou duas viaturas idênticas em via pública, contudo em bairros diferentes. Uma viatura foi abandonada no Bronx, zona pobre de Nova York e a outra, em Palo Alto, zona rica da Califórnia.
O interessante foi a constatação de que ambas as viaturas foram depredadas. Embora em situações peculiares. A do Bronx foi vandalizada em poucas horas. Entretanto, como a do Palo Alto permanecia intacta, intencionalmente, um de seus vidros foi quebrado pelos pesquisadores. Fato que desencadeou o posterior vandalismo no veículo.
Ou seja, essa pesquisa defende que a janela quebrada, por remeter à ideia de abandono e desinteresse, induziu a ruptura com as regras morais e sociais, culminando, assim, com a depredação da viatura em Palo Alto.
A partir dessa investigação, torna-se possível estabelecer (por que não?) um parâmetro comparativo com nossas vidas, em determinadas ocasiões. Observe que, muitas vezes, diante de situações adversas, também, começamos um processo de vandalismo pessoal que é motivado, inicialmente, pela quebra de um das nossas “vidraças”. Questionemo-nos a quantidade de vezes que iniciamos esse processo de depreciação pessoal com o estilhaçar de uma de nossas proteções intrínsecas a cada indivíduo.
Buscando maior clareza nessa compreensão, exemplifico com a seguinte situação: Nos nossos relacionamentos amorosos, sempre idealizamos a reciprocidade dos sentimentos, não é verdade? Todavia, quando isso não acontece, desencadeia-se em nós um turbilhão de sentimentos negativos como frustração, medo, decepção, angústia e impotência. Então, paremos para refletir qual a gênese desse furacão? Qual foi a primeira vidraça que quebramos para permitir a invasão dessas sensações que nos dilaceram, às vezes, de forma constante e incontrolável?
Quebrar “vidraças” pessoais é inevitável. Isso é um fato. Contudo, permitir a não limitação dessas“quebras” consiste em um consentimento para o sofrimento. Logo, se eu emano sentimento e não sou correspondida, é natural que eu me sinta triste. Acho normal conviver com a tristeza porque ela nos possibilita a “reflexão”. Mas, se posterior à tristeza vier a frustração, inicia-se a “quebra” da primeira vidraça. Se não cuidarmos dessa vidraça quebrada, quebrar-se-á outra autorizando, dessa forma, a entrada do medo. Depois, outra vidraça quebrada consentindo a chegada da angústia. Em seguida, arrebentaremos “as portas” e a impotência, dor e desespero serão imperadores em nossas existências. Isso não é vandalismo pessoal?
O ideal seria mantermo-nos invioláveis. Mas isso é impossível. Afinal, somos humanos, passíveis de erros e acertos. No entanto, cuidemos para que com o “quebrar” de nossas vidraças, possamos nos consertar, o mais rápido possível, com o intuito de que o universo entenda que não estamos abandonados à mercê da negatividade.
Cabe-nos reforçar nossas vidraças, sim, e, sobretudo, estarmos prontos para consertá-las, imediatamente, caso algum vidro venha a ser quebrado.