Ainda nua do banho me enrolei na toalha e sentei no chão do quarto no espacinho que fica entre minha cama e o criado mudo, minhas juntas duras como pedra, precisava chorar mas não descia uma lágrima sequer.
Eu só travei.
Travei de novo.
O meu corpo gelado e o cabelo preso num rabo de cavalo minúsculo.
Depois do novo corte me sentia pesada como se carregasse um peso gigantesco em minhas costas curvadas para frente e doía tanto… doía demais.
Fiquei ali me perguntando quanto tempo demora para se curar um coração partido? Não obtive nenhuma resposta agradável. A verdade é que nunca curamos um coração partido, nada que se parte é de fato consertado. Fica tudo ali.
Se você quebra um jarro de flores e ainda assim insiste em tentar cola-lo, pode até ser que ele aguente novamente o peso da água limpa e das flores, mas a marca trincada continuará lá intacta, permanente, eterna.
O mesmo acontece com o para-brisa do seu carro que foi trincado por uma pedrinha numa estrada de chão, com um copo que bateu na ponta da pia enquanto você lavava a louça do almoço, com o corte da Gilette que você passou na perna…
Meus medos voltaram e estão me cobrindo de novo, cheia de incertezas, de dúvidas e perguntas sem respostas.
Sou colecionadora de cortes mal cicatrizados.