Breves – mini contos sobre a vida

Ela ajeita os cabelos suavemente, muda de lado o laço de fita cor de rosa que ganhou de sua tia no dia de São Cosme. Sentada na calçada olha atenta para o final da rua, o calendário já marca vinte e cinco de Julho. Vagarosamente tira um papel dobrado do bolso, ao mesmo tempo em que o papel revela seu conteúdo ela deixa cair uma lágrima e explode num lamento:

– Será que ele não vai mais voltar?

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Mal conteve a sua emoção quando a professora finalmente liberou a turma para o recreio, aquilo parecia tortura, olhou para a porta e correu. Seria hoje, finalmente arrumou coragem para pedir a Aninha em namoro. Sabia que oito anos de idade era pouco para um relacionamento, mas o amor não escolhe tempo pra chegar. Correu pelos corredores varrendo com os olhos cada cantinho do pátio, até que finalmente seus olhos viram a cena que jamais poderia imaginar, Aninha segue de mãos dadas com Caio, sorridente e saltitante de alegria. Teve naquele momento sua primeira desilusão amorosa, saiu chorando e jurando para si mesmo que nunca mais poderia amar.

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Prometeu pra ela que não ia demorar, era só o tempo de ir até a padaria da esquina e comprar o leite para o café da manhã seguinte. A mãe lhe entregou o dinheiro e pediu que voltasse sem demora, pois já estava muito tarde para uma mocinha ficar na rua. Beijou sua mãe e saiu em direção ao portão, quando pôs o primeiro pé para fora olhou para trás lançando um beijo no ar pediu a deus que lhe perdoasse por aquele ato. Do lado de fora Adriano parecia impaciente com a demora.

–       Ande logo, não temos a noite toda!

–       Desculpe, estava apenas me despedindo.

–       Assim sua mãe vai acabar descobrindo tudo, vamos rápido.

E de mãos dadas seguiram pela rua escura, numa fuga perfeita, confiantes de que aquele grande amor para sempre ia durar.

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Ficou um bom tempo olhando, mas não abriu a porta, pois não sabia o que dizer diante daquela imagem que via pelo olho mágico. Carlos chorava muito e implorava para entrar. Era a quarta vez naquele mesmo mês que ele pedia perdão por mais uma traição. Dando dois passos para trás, pegou o controle remoto e aumentou o som da tv prometendo que, daquela vez não iria mais escutar nenhuma desculpa, pois já sabia exatamente como tudo aquilo iria terminar.