Gritos ocultos e rostos do amanhã, imagens distorcidas de um futuro que ainda não chegou.
Formas longas e sem nenhum compromisso, rabiscadas com grafite num papel no chão.
Por hora era esta a visão: O medo e o amanhã.
Caminhos distantes dispostos na planície, lado a lado uma estrada rumo à escuridão: o desconhecido refletindo no horizonte. Um raio cinza ofuscando contra o azul distante do céu estelar.
Então eu cantei.
Mesmo sem sentir o som de palavra alguma, eu cantei.
Minha voz ecoava pelos cantos.
Na estrada de vidro, meus passos incertos na imensidão. A jornada de toda a minha vida refletida contra o chão, sem brilho e sem distinção.
No limiar, um balé de borboletas cortando o céu em duas fatias grandes: o hoje e o agora, dispostos em duas porções. Toda obra de uma mente doente, num surto de criação.
Um rabisco do que eu já fui, na certeza do que eu jamais viria a ser. Horas depois, pouca luz, e a constatação: O amanhã não chega ao anoitecer.
E fico pensando se há mais alegrias na morte, que a dor absurda da vida. E mesmo depois de minhas orações, a grande estrela que se apaga no arrebol.
O Chão trincando sob os pés, e um cinza nebuloso roubando a cena, que corre acelerada em câmera lenta. No mesmo instante, uma luz cintilante toca a terra, que se desfaz em dois pedaços: o presente e o agora.
Dispostos em duas porções, o sol já não ofusca a luz, e tudo é uma grande a aflição. Assim como é grande a força que comprime o peito. Assim como é grande a imensidão.
E sem ar o peito grita. Gritos mudos na multidão. Sem esperanças só me restam as lágrimas, quem vem me socorrer na escuridão.