Refletindo sobre o envelhecer de quem amamos

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O que vemos na sociedade atualmente é uma luta por números, que acaba distorcendo valores éticos e morais. O uso de cremes, botox, cirurgias plásticas, tudo para “esconder o tempo”, pois é necessário manter a aparência jovial. Vivemos numa lógica de maximização de lucros, onde a juventude parece moeda e o medo de perder relevância toma conta. Cada pessoa envelhece de uma forma, e por isso vale pensar também na romantização dessa fase, chamada de “melhor idade”. Mas, afinal, o que seria essa melhor idade? O que é ser velho? A vida é um processo contínuo de mudança e renovação, e não existe uma única fase que seja considerada a única ou a melhor.

É comum ouvirmos: “aproveite o tempo com as pessoas que você ama”. Mas como fazer isso sem sentir falta depois? Porque parece que quanto mais a gente convive, quanto mais aproveitamos estar ao lado daquela pessoa, maior se torna o desejo e a vontade de permanecer juntos. Eu sei que nada é para levar, tudo é para viver aqui. Os afetos, as músicas boas, os abraços demorados… tudo isso cura até os dias mais pesados. O viver é bonito quando temos o abraço que precisamos, aquele que nos acolhe, a conversa que nos faz rir até a barriga doer, quando não nos sentimos sozinhos em meio à correria e ao cansaço. Esses instantes tornam o fardo mais leve, recarregam a alma e devolvem a esperança que tantas vezes a vida tenta roubar. O afeto é o que precisamos, é ele que cura os dias mais difíceis.  Ainda assim, o tempo nos lembra de que o que resta é acordar e enxergar que, ali na frente, ainda existe um “bom dia” e uma nova chance do sol entrar.

O envelhecimento também traz aprendizados, ensinamentos e conselhos que ficam como herança. Mas junto a isso surge a lembrança constante de que a finitude se aproxima. É um processo lindo, mas também doloroso, porque nos faz imaginar o luto que virá e nos perguntar: como vou conseguir ficar sem eles? Quanto mais penso nisso, mais dói. Então, o que resta é viver o presente e aproveitar o dia. Como já disse Gilberto Gil em uma entrevista na televisão, o amor é mais difícil que a morte. E Ney Matogrosso nos lembra, em sua música: poema: que o tempo pode até deixar marcas, mas não apaga o que foi vivido com verdade. Envelhecer e acompanhar o envelhecer de quem amamos é isso: um misto de dor e beleza, de medo e gratidão, de perdas que ainda nem chegaram, mas que já ensinam a valorizar o agora.

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