Valor social, psicologia e sociedade

Compartilhe este conteúdo:

Recentemente, estive procurando intensamente por psicoterapia por um valor social, e, após minhas pesquisas e indagações, percebi que nem o valor social é acessível para mim e isso me trouxe reflexões profundas sobre a profissão e a prática clínica. À princípio, atender pacientes em psicoterapia era o meu objetivo para carreira profissional, ter um consultório, uma clínica e muitos pacientes, até eu precisar estar do outro lado, o lado que precisa quase que urgentemente de um atendimento, e se frustra por não poder pagar.

Eu fiquei me questionando: quando foi que o valor social passou a ser acima de 100 reais? e para a psicoterapia online, e não me entendam mal, eu fico feliz pela valorização da profissão e pelo reconhecimento no mercado de trabalho e eu sei a importância disso, sei que os psicólogos também precisam pagar contas, mas também me perguntei: eu vou conseguir falar não para um atendimento quando a pessoa não tiver condições de me pagar? eu serei capaz de estar nesse lugar?

O meu objetivo na psicologia sempre foi o de ajudar as pessoas, e eu me sinto tão útil e bem comigo mesma atendendo na clínica escola onde as pessoas não precisam se preocupar com o “crédito, débito ou pix?” no final de cada sessão, e é exatamente nesse lugar que eu me sinto pertencente, sinto que estou fazendo meu papel e, após perceber que isso não será possível no mundo lá fora, me fez questionar profundamente, pela primeira vez, essa profissão.

O reconhecimento do privilégio e de classe faz a diferença dentro do nosso trabalho como psicólogos e futuros psicólogos, até porque pode ser que nos deparamos diversas vezes com essa demanda trazida pelos pacientes, e vai influenciar diretamente na nossa conduta caso não tenhamos um olhar crítico para questões sociais e assuntos emergentes, mas fato é que os sonhos de ter uma vida financeira estável e ofertar atendimento gratuito para pessoas em vulnerabilidade dificilmente poderão coexistir pensando em uma prática clínica e para pessoas como eu, que tem objetivos grandes e quase impossíveis, como tornar o mundo um lugar melhor, saber disso é frustrante e triste, mas “ninguém disse que seria fácil, né?”

Bom, o objetivo desse texto é realmente provocar reflexões e questionamentos não só para quem vai ler, mas também para mim. É necessário que sejamos sensíveis e empáticos com as diferentes realidades, eu pelo menos sinto que é meu dever não propagar ainda mais esse sofrimento que a pobreza impõe ao ser humano, e a série de humilhações e violências que andam junto com ela. Irei permanecer cultivando o sonho de que um dia poderei atender, se não todos, mas muitos, de forma gratuita ou com valor social que realmente seja adequado à sociedade e as suas possibilidades. No fundo eu sei que é isso que me motiva e que faz com que meu trabalho tenha sentido.

Compartilhe este conteúdo: