Tudo começou em 1980, ano em que nasci. Porém, vou iniciar contando de quando me entendi por gente isso ainda criança, morava e estudava na fazenda tudo que eu queria era ser adulta para ser alguém na vida. Então, quando perguntavam o que eu queria ser quando crescer a resposta vinha dos meus pais que logo diziam, se estudar pra ser professora já tá bom.
Com isso comecei a pensar que professora seria profissão de pobre, por que eu queria mesmo era ser alguém que ouvisse e entendesse as pessoas. Depois de um tempo morando já em Guaraí, cursando o ensino fundamental, descobri um amor pela Psicologia então, tudo o que eu queria era me tornar uma Psicóloga e enquanto isso não aconteceu sempre trabalhei com crianças e sempre amei por sinal. Já alfabetizei vários e amava ensiná-los, comecei a ver ali um amor espontâneo, mas algo me fazia resistir a essa profissão (Pedagoga), ainda por achar que era um trabalho de pobre. O tempo passou, terminei o 2°grau e logo me mudei para Palmas com a intenção de ser psicóloga, prestei vestibular e para a minha surpresa passei de primeira na Ulbra, isso em 2002. Porém o curso era integral e muito caro para minha condição, me frustrei, e com isso ouvi mais pessoas dizendo: faz pedagogia para não ficar sem trabalhar, eu não aceitava ainda, mas aquilo já estava na veia.
Meu 1°trabalho em Palmas foi de babá onde ali naquela ocasião aprendi a amar mais os pequenos, um tempo depois trabalhei de auxiliar de sala em uma escola particular isso sem prestar o vestibular para pedagogia identifiquei-me cada vez mais com essa área de ensinar e aprender, decidir então fazer um vestibular e passei, mas não fui cursar. Hoje reconheço que perdi um tempo precioso mantendo resistência a algo que logo depois faria de mim a pessoa mais feliz sendo professora na educação infantil na qual sou há cinco anos. No meio desse caminho me casei, tive uma filha o casamento não deu certo, me vi separada, precisei sair da minha casa em Palmas com minha filha e praticamente com a roupa do corpo (minha e dela), foi algo necessário naquele momento. Mudei-me para Guaraí onde tive o apoio da minha irmã e o meu cunhado que me deram abrigo em sua casa e até a comida minha e da minha filha. Por um ano morei na casa deles isso em 2017 e na ocasião voltei a ouvir: faz pedagogia para não ficar sem trabalhar, e ficava refletindo sobre todas às dificuldades que passava naquele momento daí resolvi ingressar na Unopar no curso de “pedagogia”.
Logo no 1° período ganhei um “bolsa incentivo” por conta do pólo, pois não tinha dinheiro para pagar. Comecei com a cara, a coragem, e a determinação de não parar. Já no 2°período passei em um processo seletivo que duraria dois anos como auxiliar de sala na educação infantil isso agosto de 2018 onde comecei ali uma experiência única e linda, tudo por uma bolsa na qual me ajudaria a pagar a faculdade. Enfrentei muitas dificuldades, houve dias de não ter nem 1 real para o lanche da minha filha nem para mim, recebia ajuda de pessoas que costumo dizer que tem o cheirinho de Deus em minha vida, me emociono sempre quando falo de tudo que passei, teve momentos que para eu apresentar os seminários na faculdade pegava roupas e calçados emprestados por não ter condições de comprá-los, conto isso não para que sintam pena nem para me vitimizar, conto como incentivo para os que querem vencer na vida. Então, em 2019 no fim daqueles 2 anos de bolsa me vi sem ter como pagar a faculdade, pois moro de aluguel e tenho todos as despesas por minha conta. Pensei por vários momentos que não iria conseguir terminar e mais uma vez Deus provou o seu amor por mim quando trabalhei em uma creche. Lá conheci uma professora que é uma pessoa de Deus que pagou junto com o seu esposo a faculdade para mim, sinto muita gratidão por eles, e tudo que passei me fortaleceu para seguir em frente.
Com isso, comecei a dar aulas particulares e de reforço escolar para meus sobrinhos e filhos dos amigos e vi ali uma saída para realizar o meu sonho, o qual era ter a minha escolinha, esse sonho surgiu logo após entrar na faculdade. Em 2020 veio a pandemia da Covid- 19, e, com isso as pessoas começaram a me procurar para alfabetizar seus filhos justamente no ano em que o mundo passou pelos piores momentos na saúde foi o mesmo ano em que mais trabalhei, ano em que descobrir um amor tão grande por ensinar, pela educação infantil, por alfabetizar, e resolvi então fazer uma pós em psicopedagogia, a qual termino em Junho próximo, e logo logo quero um mestrado na área da psicologia, pois através da pedagogia vou ter a oportunidade de realizar um grande sonho nessa área. E, se Deus quiser e permitir eu quero chegar ao doutorado. “Eu acredito em mim, no meu potencial, nos meus sonhos, na minha força”. Hoje me sinto abençoada e iluminada por Deus pelo que faço, o meu trabalho é aquilo que me dá forças e orgulho de quem sou.
Quando olho para trás e vejo tudo que passei pra chegar até aqui e sei que ainda tenho muito a buscar, e nessa busca está a minha escolinha que é uma das minhas metas para o ano que vem pois, desde que comecei em 2019 esse espaço está sendo na área da casa onde moro com uma mesa e cadeiras da glacial, eu mesma coloquei um plástico na mesa e nas cadeiras para cobrir o nome da cerveja e comecei a trabalhar. Finalizei 2019 com 20 alunos, no ano seguinte consegui comprar uma mesa com os bancos, armários e equipei minha salinha, hoje ela é meu sonho, meu orgulho, minha gratidão, e o objetivo crescente cada vez mais é o de levar a educação ao nível que ela merece.
A “escolinha da tia Luh” vai escrever a sua história, hoje tenho parcerias em Guaraí e em outras cidades. E com fé em Deus logo terei a minha escolinha montada.
Atualmente trabalho de 8:00h às 20:00h, de segunda à sexta-feira, tenho uma grande demanda de alunos e família parceiras da tia Luh que divulgam o meu trabalho e indicam a escola, sou hoje referência em Guaraí com a certeza de está fazendo a diferença na vida de muitas crianças, tudo isso é o que me leva a não desistir, e nem quero, o maior orgulho que tenho é o retorno positivo de um trabalho feito com amor, fico muito feliz quando meus alunos reconhecem esse amor, e muitos dizem que querem ser iguais a mim quando crescer, ouvir isso é gratificante e com esses gestos tenho a plena certeza que estou no caminho certo, “a educação é um processo e ensinar é uma linda missão”.
Atualmente atendo mais de 80 crianças e estou trabalhando e estudando para ampliar esse número.
Hoje eu sou a tia Luh, mulher, mãe, professora, empreendedora, futura psicopedagoga e dona de si. E com muitos sonhos para a educação.
Esse é um relato da minha história, história da qual fugi por muito tempo, mais acredito que Deus tem um propósito para cada um de nós, hoje entendo que o meu propósito é educar, ensinar, alfabetizar, palestrar sobre a educação e nunca desistir.
Eu sou a tia Luh!
Luciene Mota