Relato de um jovem adulto ansioso

A ansiedade patológica sempre fez parte da minha vida, me lembro que desde pequeno me via ansioso por não saber o que iria acontecer no futuro, por não ter controle sobre tudo e também ao esperar uma resposta.

Quando era mais jovem eu não me dava conta de que isto se tratava de um problema, não fazia parte da minha realidade discutir sobre os meus pensamentos, ações, inseguranças, medos, e a forma como afetam minha vida pessoal e social. Para mim, era apenas uma preocupação excessiva e que nunca iria me fazer chegar em um ponto crítico.

A ansiedade faz parte da vida de todas as pessoas, é importante saber que ela em alguns aspectos serve como um instinto de sobrevivência diante de situações que nos causam medo ou insegurança, mas há momentos em que a ansiedade persiste por mais tempo, causando desconforto e sintomas de vigilância persistentes. O DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) diferencia a ansiedade e o medo que embora tenham respostas parecidas, se diferenciam na antecipação da ameaça futura em casos de ansiedade, e no medo, a resposta emocional acontece com a ameaça real que está presente no momento.

Quando me dei conta de que estar ansioso afetava minha motivação, pensamentos e atitudes, já estava em um ponto muito crítico. Já não conseguia mais controlar minhas emoções, chorava constantemente, me preocupava com tantas coisas, com o meu futuro, amigos, família, casamento, formatura e eram tantos pensamentos que sentia que minha cabeça pesava mais que o corpo.

A única coisa que conseguia fazer era chegar do trabalho, deitar e chorar. Tentava dormir, mas os pensamentos estavam a mil por hora. Tinha dias que eu saía mais cedo do trabalho pois não me sentia bem, diversas vezes tive crises de choro, dificuldades para dormir, para concentrar nas atividades, sentia muito medo, agonia, e uma sensação de que em qualquer momento eu poderia morrer. Alguns desses sintomas aconteciam no meio do expediente do trabalho, no meio das aulas que assistia, que acabou me prejudicando no meu estágio também, pois diante das crises e do medo, não conseguia produzir com frequência.

Fonte: encr.pw/lVOX3

Sentia como se os dias estivessem apenas passando e eu não conseguisse aproveitar nada. Isso foi em 2021, e durante esse período, já frequentava a psicoterapia.  Durante o período da terapia, entrei na academia, mas não me sentia motivado. Logo as crises e os pensamentos automáticos voltavam e eu me sentia como se estivesse preso em uma tristeza profunda.

Eu me perguntava várias vezes como que um aluno de psicologia que frequenta terapia não conseguia sair dessas crises de ansiedade, como que tantas pessoas conseguiam e até demonstravam parecer fácil, mas para mim não era.

Foi então que decidi buscar a ajuda de um psiquiatra também, pois sabia que eu necessitava, afinal tinha certeza que eu apresentava não “apenas” crises e sim, um transtorno de ansiedade.

Após o início do tratamento com o psiquiatra, tive que fazer o uso de algumas medicações e logo nas primeiras semanas me senti bem melhor. Pude experimentar o prazer de pensar uma coisa de cada vez e não tive mais crises intensas. Me senti menos ansioso, mais calmo e pude me concentrar mais nas minhas atividades. As sessões de psicoterapia se tornaram mais prazerosas e era como se eu pudesse enxergar de verdade, sem os problemas atrapalhando o andamento da rotina diária.

Depois do início do tratamento me veio aquele questionamento sobre o porquê não busquei tratamento antes. Mas toda a minha experiência não foi em vão. Pude perceber que a ansiedade quando não tratada e em níveis patológicos pode sim trazer malefícios ao indivíduo no seu contexto mental, físico e social.

É de suma importância buscar ajuda em situações como essa. Não devemos negligenciar a nossa saúde mental. Buscar um profissional de psicologia e um psiquiatra é essencial. Hoje me sinto muito melhor. Não tive mais crises, consigo lidar com as preocupações, me sinto mais leve e disposto para cumprir a rotina diária e continuar seguindo em frente.

Não há nada melhor que a beleza da vida, viver um dia de cada vez rumo aos objetivos.

Referências

Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. DSM-5. 5. ed. Porto Alegre, Artmed, 2014.