A pressão e romantização da maternidade no contexto atual

Compartilhe este conteúdo:

Desde pequena, sempre soube que eu não iria ser mãe. Algo não me soava “correto” sobre esse caminho, não para mim. Escutei diversas vezes sobre como eu ainda era muito nova para saber o que eu de fato queria, ou como eventualmente eu me sentiria vazia e sozinha, um vazio que só seria preenchido com um filho. Que estranho, né? É como se, mesmo depois de passar uma vida repleta de sonhos e conquistas, tudo simplesmente se esvai para a insignificância. Só estarei completa como mulher se eu tiver um filho. Uma grande responsabilidade que afeta o corpo, o psicológico, a visão de si. É o peso do julgamento constante da sociedade porque não basta ser mãe, você “precisa” cumprir esse papel com mil e uma expectativas. 

Não me parecia certo. Não me parece certo. Não me refiro à escolha de ser mãe, mas a esse peso estrondoso que consome até aquelas que não querem ser. Talvez seja algo inerente a experiência de ser uma mulher- a de nunca ser boa o suficiente para a sociedade. E o pior de tudo: a expectativa que cresce no coração das mulheres de que este filho pertence a ela, que é uma extensão dela, e de que será sempre motivo de amor e orgulho. Ah, mas os bebês são lindos, são fofos…todos amam bebês! Mas… bebês…crescem. 

É engraçado e trágico como realmente muitos pais não pensam sobre isso: o bebê vira a criança que chora por não poder enfiar o dedo na tomada; vira então o adolescente que confronta, questiona, que começa a decidir o que quer independente se isso agradará aos pais ou não; que então vira o adulto independente que quer viver sua própria vida e sonhos, longe da saia da mãe.

Quem quer isso? A realidade é que poucos querem e estão conscientes desses processos, mas, no fim de tudo, a sobrecarga fica para a mãe. A mãe tem que estar feliz, satisfeita, afinal, agora ela finalmente é mulher, finalmente com um valor! Menos na cama, obviamente, pois agora o seu corpo já sofreu mudanças irreversíveis na sua mente e corpo. Então… ela perde seu valor para o parceiro. Quando ela empurra esse bebê para fora de seu útero, a sociedade suspira com fervor e logo vira as costas. O entretenimento já acabou. Ninguém quer ajudar a cuidar desse bebê para a mãe descansar um pouco, mas todos querem e insistem que as mulheres se tornem mães.

Muitas mães já passaram por mim na ênfase clínica, e mesmo que a queixa seja sobre outro assunto, a maternidade sempre surge. A angústia, a vergonha de se questionar se essa foi a escolha certa, a tristeza, a sensação de solidão. Algumas relatam se sentir mais sozinhas do que antes de se tornarem mães. As promessas da sociedade não são cumpridas. Se sentem sem valor, apagadas, sozinhas, com medo e com vergonha, como se fosse cravado em pedra o fim de sua história, de seus sonhos, das mulheres que eram antes da maternidade. Muitas não conseguem ver uma saída, um modo de viver minimamente satisfatório ou menos sofrido. 

O fato é, quando começaram a surgir mais direitos para as mulheres, começaram a surgir possibilidades de trabalho, de coisas para além da maternidade. No entanto, aquelas que ainda querem ser mães e querem ter outras coisas na vida não recebem o apoio necessário para equilibrar essas diversas áreas da vida. É como se novos caminhos surgissem, mas sem a orientação, sem o estudo, sem uma perspectiva real de uma maternidade que coexiste com a liberdade de escolha da mulher moderna. 

Compartilhe este conteúdo:
Acadêmica de Psicologia da Ulbra Palmas. Estagiária no SEPSI em Psicologia Clínica, na abordagem teórica da Análise do Comportamento. Estagiária no Portal (En)Cena.

Deixe um comentário