No primeiro semestre de 2012 iniciamos o estágio na APAE – Associação de pais e amigos dos excepcionais de Santa Maria/RS onde buscávamos aprimorar nossos conhecimentos e colocar em prática os ensinamentos obtidos até o momento dentro do curso de graduação em Terapia Ocupacional na Universidade Federal de Santa Maria. Em duplas saímos em busca de ajudar os alunos a alcançarem os seus desejos, por exemplo, conseguir realizar no seu dia-a-dia o que, devido a alguma limitação singular, não conseguiam desempenhar.
Nosso primeiro paciente possuía 19 anos e foi identificado com a necessidade de uma atenção especial da Terapia Ocupacional, devido a sua dificuldade de comunicação por uma afasia expressiva decorrente da retirada de um cisto do hemisfério direito do cérebro, pela dificuldade de atenção e concentração, além de déficit de memória. Apesar de sabermos um pouco sobre seu histórico pessoal e clínico, iniciamos uma série de avaliações para melhor ajudá-lo, porém antes disso buscamos conhecer as vontades singulares, ou seja, o que ele deseja fazer.
Nosso paciente, muito falante, nos relatou uma história comovente que acabou guiando o restante de nossos atendimentos. Ele referiu certo dia, que foi ao mercado fazer compras e ao realizar o pagamento foi logrado, não lhe devolveram o troco corretamente. Ao chegar em sua casa, entregou o dinheiro aos seus pais, e eles perceberam o que havia acontecido. Ele ficou significativamente “marcado” por este acontecimento devido ao abuso sobre suas limitações. Após nos contar o ocorrido, disse que seu maior desejo era conseguir contar dinheiro para que isso não acontecesse mais vezes.
A partir disto, iniciamos uma série de atividades que visavam alcançar o desejo do sujeito, que o ajudasse a conseguir contar dinheiro se tornando mais independente para fazer suas compras de forma segura. Durante a busca por atividades que trabalhassem os aspectos necessários para seu desenvolvimento escolar como atenção e concentração também enfatizamos a utilização de números e contagem de dinheiro. Para isto, utilizamos a possibilidade da Terapia Ocupacional de trabalhar com tecnologias assistivas e buscamos diversos recursos. Assim, confeccionamos um recurso de aprendizagem baseado no MEC (BRASIL. Ministério da Educação. Portal de Ajudas Técnicas: Recursos Pedagógicos Adaptados. Brasília, 2002, p. 1 – 49.) chamado Dominó de quantidades e numerais em relevo.
Em cada atendimento, complementávamos as atividades propostas com o jogo de dominó que instigava o paciente a contar, e a se concentrar, pois apresenta números em um lado do dominó e os pontos referindo a quantidade do outro. Esses pontos são em relevo possibilitando a discriminação tátil auxiliando na contagem. Após várias seções, voltamos a trabalhar com dinheiro e o sistema de “faz-de-conta” de compras. Percebemos então, que o aluno estava aprendendo com maior facilidade a contar e realizar as compras corretamente.
Foi uma realização poder ver a alegria do paciente por ter conseguido realizar a atividade e principalmente ter o reconhecimento dele por termos ajudado a alcançar um dos seus objetivos. Para nós, foi extremamente gratificante poder ajudá-lo a ter maior independência, pois este é o nosso dever como Terapeutas Ocupacionais, proporcionar aos nossos pacientes maior independência e autonomia na realização das atividades de vida diária e atividades instrumentais de vida diária, além de ajudar a tornar possível o desejo daqueles que cuidamos, buscando assim, uma melhor qualidade de vida.