Quando criança, perguntavam-me o que eu iria ser quando crescesse e eu respondia sempre: “eu vou ser grande!” Eu não sabia “o que na verdade eu iria ser”, mas hoje eu tenho um novo significado para o fato de ser “grande”. Não sou daquelas pessoas que desde pequena sonham com uma determinada profissão e de fato seguem pelo resto da vida. Resolvi escolher a enfermagem, e vejo que por meio dela eu posso ser “grande”, assim como eu desejava. Hoje eu vejo minha futura profissão como uma oportunidade de contribuir de alguma forma com as pessoas.
A enfermagem está presente nos momentos mais importantes dos pacientes. Somos cuidadoras, amigas, mães. Eu não tinha noção da dimensão desse laço que é criado no dia-a-dia de um hospital, da importância de ser chamado pelo nome, de perceber que tem alguém que se preocupa com você, que te ouve com atenção.
No meu primeiro estágio, excelentes professores me mostraram o quão grandioso e satisfatório é ser um enfermeiro. Eu sempre ouvia: “Cuide do seu paciente como você gostaria que cuidassem de você”, e isso é algo que pretendo carregar por toda minha carreira como enfermeira.
No Hospital, quando eu estagiava, a história de um homem que estava ali há dois meses me chamou a atenção. Ele não falava muito, mas eu pude ver que ele era bastante triste. Curiosa, fui perguntando um e outro o porquê de tanta tristeza. Algumas pessoas foram me falando que ele era muito solitário, ninguém o havia visitado durante todo esse tempo.
Ele não se conformava com o fato de ter uma doença incurável e por isso não tinha vontade de continuar lutando. Antes de descobrir que tinha câncer, tinha uma vida normal como a de todo mundo, era casado e tinha uma filha. Quando se viu doente, perdeu o encanto pela vida e não tinha mais ânimo nem para as pequenas coisas, como tomar banho e escovar os dentes. Eu me perguntava onde estava a família dele nessa hora. Foi quando descobri que sua mãe o deixou quando pequeno e foi separado de seu irmão; sua esposa tinha problemas com álcool e sua filha não se interessava em visitá-lo. É muito triste saber que não temos com quem contar.
Eu percebia nos seus olhos, quando lhe trocava um curativo, que não tinha sido fácil acordar todos aqueles dias e ver que, apesar de toda sua dedicação pela família, não havia ninguém para segurar sua mão nos momentos de aflição. Eu via que a equipe de enfermagem que cuidava dele tinha bastante carinho e uma atenção especial, mas infelizmente não foi o incentivo que ele precisava.
E assim, infelizmente, ele se foi em silêncio, mas intimamente clamava por um pouco mais de amor e atenção. Toda a equipe sentiu muito pela sua partida, com a consciência de que fizeram de tudo para suprir sua necessidade de afeto e companhia. Foi aí que eu vi a verdadeira necessidade de amarmos ao próximo, de nos preocuparmos com a felicidade do outro.
Eu acredito que foram bastante valiosas para ele as palavras de carinho, bem como o sorriso quando nós, estagiárias e enfermeiras, entrávamos no quarto… a nossa companhia (mesmo que em alguns momentos ele a recusasse). A família é de fundamental importância na recuperação de um paciente, mas nós podemos fazer a diferença de alguma forma, pois estamos com eles na maior parte de sua permanência no hospital. Nós devemos ser mais humanos e entender que uma “cara fechada” vinda de um paciente não quer dizer que ele não quer sua presença e, sim, que ele precisa dela.