Em uma noite de Janeiro, enquanto atualizava página do Facebook da JEP – I Jornada de Estudos de Psicologia (Evento realizado na Faculdade Anhanguera de Jundiaí, no segundo semestre de 2012, o qual fiz parte da idealização e coordenação), vi um pequeno vídeo sobre o Museu da Loucura que fica localizado na cidade de Barbacena – MG postado pelo perfil dohttp://cafecompsicologos.blogspot.com/. A responsável pela postagem foi a psicóloga Denise Cazotto, pois bem, adorei o vídeo, eu estava procurando um lugar para viajar e Minas já era uma alternativa, e a possibilidade de conhecer um o museu ligado a Psicologia foi muito motivadora. Dois dias depois eu já estava com a passagem de ônibus comprada e a reserva em um hotel de Barbacena pronta.
Ao contar o fato para a psicóloga Denise, ela me incentivou a contar a viagem por meio de fotos e comentários, fiz isso no meu blog “Psicoferas” http://psicoferas.blogspot.com.br, onde este texto e fotos podem ser parcialmente encontrados, mas penso que valeria a pena relatar esta aventura de minha primeira visita no Museu da Loucura para outras pessoas, então segue então algumas fotos e minhas impressões sobre o Museu.
Infelizmente a chuva castigava Minas Gerais. Nas quase 10hs de viagem a chuva se mostrou presente na maioria do percurso e na minha estadia em Barbacena.
Aproveitando um dos raros momentos de “estiagem” (como os mineiros chamam os momentos que para de chover um pouco) logo na manhã do primeiro dia, decidi ir até o Museu. Peguei um ônibus do Centro da cidade até lá, acho que o trajeto é feito em 15 minutos, uma coisa positiva em Barbacena é a acolhimento das pessoas, sempre solicitas em dar informações, realmente é um povo muito prestativo.
O Museu fica localizado na área do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena – CHPB, que é administrado pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais – FHEMIG, logo na entrada o vigia orienta que só é permitido tirar fotos da fachada do Museu e de seu interior, que em hipótese alguma deveriam ser tiradas fotos da área hospitalar e dos internos.
O acervo do museu é composto por textos, fotografias, documentos, equipamentos, objetos e instrumentação cirúrgica que relatam a história do tratamento ao portador de sofrimento mental, além disso, ainda passam vídeos emocionantes contando a história do Hospital.
Devo dizer que infelizmente o Museu não muito grande, poderia ser ampliado e usado como uma grande atração turística da cidade, mas o conteúdo é muito significativo.
Curioso foi o fato que logo que entrei um interno veio até mim, balbuciou algo apontando para a minha pasta, eu sorri e disse que não havia entendido, então ele novamente apontou para minha pasta e falou algo que novamente não entendi, mas eu sorri e falei “não” gesticulando com o dedo, ele olhou, imitou o gesto de “não” e saiu “reclamando”.
Fui muito bem recebido pela funcionária do museu, mulher muito simpática, pena que a coordenadora do museu estava em férias e não teria uma pessoa para solucionar as eventuais dúvidas, o Museu deveria ter um guia permanente.
Em resumo, foi uma visita muito proveitosa, aprendi muito sobre o modo cruel e desumano que os doentes eram tratados e porque a Luta Antimanicomial tem sido um dos temas mais freqüentes na área de saúde mental.
É realmente triste ver que seres humanos foram e infelizmente em alguns lugares no mundo ainda são tratados de uma maneira extremamente cruel.
Visitar o Museu da Loucura é voltar no tempo, é conhecer um pouco das atrocidades que os seres humanos podem realizar com os seus semelhantes, cada foto, cada verso, cada objeto revela uma ponta de dor, tristeza e insanidade, mas o que realmente é insanidade?
Lembrei-me de um trecho do livro Hospício é Deus (Ed. Círculo do Livro 1965) da autora Maria Lopes Cançado, que esteve internada no Rio de Janeiro, que diz o seguinte:
Estou no Hospício. O desconhecimento me cerca por todos os lados. Percebo uma barreira em minha frente que não me deixa ir além de mim mesma. Há nisto tudo um grande erro. Um erro? De quem? Não sei. Mas de quem quer que seja, ainda que meu, não poderei perdoar. E terrível, deus. Terrível. (Cançado, 1992, p.32).
Mas nem tudo é tristeza e desespero, foi proveitoso conhecer um pouco das iniciativas que o pessoal de lá desenvolveu, tais como o “Festival da Loucura” (uma pena que ano passado não foi realizado por falta verbas e de apoio governamental), a grife “Pirô Crio”, composta por trabalhos manuais e de artesanato feito pelos usuários do hospital e o “Bloco Tirando a Máscara” , um bloco carnavalesco que é formado por pacientes, profissionais e familiares e amigos.
Enfim, se você se interessa por assuntos de Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental, estando em Minas Gerais, dê uma passada em Barbacena, garanto que se você estiver de olhos, mente e coração abertos, você irá aprender bastante.