Uma aventura para pequenos pacientes

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Com uma história de conforto e esperança, Fabiana Coimbra acolhe, em novo livro, crianças que enfrentam desafios de saúde e passam por procedimentos cirúrgicos

Os primeiros anos de vida de Maria Júlia, filha da publicitária e escritora Fabiana Coimbra, foram marcados pelo diagnóstico de uma cardiopatia congênita, um longo período de internação e duas cirurgias. O desejo de tornar o processo menos confuso e doloroso levou a mãe a escrever uma história que acolhesse não apenas a menina, mas outras crianças e seus familiares. Assim surgiu o livro Maju: As aventuras de uma Coração Valente.

Na obra, a pequena personagem nasceu com um machucadinho no coração e logo cedo começou um tratamento especial para crescer forte e viajar até a Terra da Cura, onde o Dr. Giratene, o “consertador de corações”, pode ajudá-la. Nesse lugar encantado, a menina faz novos amigos e vive muitos desafios, auxiliada pelos “enferpinguins” e outros médicos, como a Dra. Claufox.

Repleta de magia e elementos fantásticos, como o escudo que protege as crianças de diferentes tipos de vírus e médicos com características de animais, a jornada de Maju traz um retrato otimista para o enfrentamento da cardiopatia e outras doenças da infância. A história mostra a possibilidade de uma vida saudável, cheia de brincadeiras, amizades e carinho da família. Além de ajudar a lidar com o processo cirúrgico, o livro também reforça a importância do uso de medicamentos e busca aumentar a autoestima em relação às cicatrizes.

Fonte: https://l1nq.com/eiazb

A leitura é indicada não só ao pequeno leitor, mas aos pais e profissionais de saúde que acompanham pacientes nesse perfil. As ilustrações reforçam o caráter lúdico e encorajador da obra, ao incluírem elementos e termos do ambiente hospitalar dentro do contexto mágico da Terra da Cura, permitindo ressignificar um período de angústia.

Fabiana Coimbra já havia falado sobre a experiência de ser mãe de uma criança cardiopata no livro Mulheres Marcadas, em que explora a solidão e os conflitos das genitoras com filhos em unidades de tratamento intensivo. Com Maju: As aventuras de uma Coração Valente, a escritora expande a discussão e dá voz às crianças que vivenciam doenças congênitas, na busca por transformar um momento de medo e tensão em uma prova de coragem e amor pela vida. “Sonhar faz parte do processo de cura. Viva, sonhe e fantasie sempre!”, comenta ela.

FICHA TÉCNICA

Título: Maju: As aventuras de uma Coração Valente
Autora: Fabiana Coimbra
Editora: Flor de Maju
ISBN: 9786598439606
Formato: 25,5 x 24,5 cm
Páginas: 44
Preço: R$ 59,90
Onde comprar: Amazon

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Um último adeus…

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Aquele dia poderia ser como todos os outros, mais um turno no hospital, mais um paciente atendido, mais uma entubação, apenas mais um, mas isso estava muito longe de ser a realidade. Naquela tarde passando pela estrada paralela a cidade, havia um caminhoneiro, assim como todas as pessoas, cheia de vivências, pessoas que o amavam e histórias a serem escritas, em um momento de agonia decidiu parar no hospital.

Debilitado, pressão baixa, respiração alterada, esses foram apenas alguns dos sintomas que ele sentia, em meio a esse turbilhão de sintomas e sentimentos chega o diagnóstico, ele estava com Covid, mas não só isso, devido sua saúde fragilizada seu estado já estava deplorável, logo a equipe multidisciplinar já entende que será necessário a intubação.                                                                                 

Fonte: pixabay

A equipe tenta contato com a família e como de costume faz perguntas para investigar as nuances de seu estado de saúde. Ele fumava? Usava substâncias entorpecentes? Algo que o fazia ficar acordado?, todas essas e mais perguntas feitas. Sim, ele fumava, e para aguentar longos períodos na estrada também fazia uso de algumas substâncias, então anunciamos a necessidade da intubação.

O medo, desespero, agonia, todos esses sentimentos mistos que geram tamanha insegurança, fez com que a família negasse, muito mais do que negar a intubação, eles estavam negando a possibilidade de uma perda, um luto. Em meio a tudo isso, o caminhoneiro só pedia uma coisa: “Preciso falar com minha esposa!”, então ofereço meu celular e naquela pequena tela de celular vejo uma mulher, em prantos, com um bebe no colo buscando esperanças para acreditar que o pior não vai acontecer, mas falhando nisso.

O caminhoneiro a tranquiliza, diz que tudo bem ser intubado e que tudo vai ficar bem, diz que voltará para cuidar da filha e que não precisava se preocupar com nada. Então ele vai, e ao entrar na sala segura fortemente a mão do médico, e com uma firmeza ainda maior em seu olhar pede desesperadamente que façam de tudo para que ele viva, afinal ele precisava viver, tinha uma filha que há três dias estava no mundo, não podia deixá-la, nem ela e nem as suas outras duas filhas e muito menos sua mulher desamparada.

Fonte: pixabay

No meio do processo, todos os medos são concretizados, o caminhoneiro não suportou e naquele dia, que poderia ser tão comum, a equipe se olha, e ao perceberem, estão todos no chão, em prantos. Chorando pelo homem que partiu, pela filha que não conheceu, pela esposa que não vai ganhar mais um beijo e pela família que não vai tê-lo mais presente.

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Adrielly Martins é uma das convidadas do Simpósio de Avaliação Psicológica

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No dia 25/05 o 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica irá contar com a psicóloga Adrielly Martins Porto Netto

Fonte: Arquivo Pessoal

O 3º Simpósio de Avalição Psicológica Tocantinense que ocorrerá do dia 25/05/22 irá abordar os mais diversos temas com a maior relevância para o mundo acadêmico e profissional, dentre eles está a Avaliação Psicológica no Contexto Hospitalar e os Impactos Sofridos pela Pandemia, que será ministrado pela Psicóloga Adrielly Martins Porto Netto, egressa do Curso de Psicologia do CEULP/ULBRA.

A acadêmica e estagiária do portal (En)Cena, Sandra Ramalho, conseguiu uma entrevista com a palestrante, onde obteve algumas exclusivas para este grandioso portal de notícias acadêmicas.

En(Cena) – Qual a sensação de retornar ao CEULP/ULBRA como egressa e palestrante referência na sua área?

Adrielly – Desde da época de acadêmica eu admiro o reconhecimento o carinho a colaboração e a confiança que o Ceulp tem nos seus egressos e hoje “voltar pra casa’ é um prazer, é uma honra e principalmente sendo referência na minha área de atuação tive a oportunidade de enquanto acadêmica aprender um pouco nos estágios que eu fiz em algumas disciplinas sobre a área hospitalar e estar hoje atuando de fato me faz muito agradecida por tudo o que o curso da Psicologia do Ceulp me proporcionou. Sinto-me feliz, grata, e muito esperançosa p poder proporcionar uma oficina bacana assim como eu tive a oportunidade de ter enquanto acadêmica.

En(Cena) – Há quanto tempo atua no mercado como psicóloga, qual são suas especialidades e áreas de atuação?

Adrielly – Formei na turma de 2019/2, e desde janeiro de 2020 já atuo profissionalmente. Inclusive, meu primeiro vínculo empregatício como Psicóloga, foi de coordenadora do SEPSI. Havia sido estagiária extracurricular de lá em 2016/17, e ao formar o CEULP já me acolheu muito bem. Porém, 3 meses depois, com a pandemia, tive a oportunidade de ser chamada para atuar como Psicóloga Hospitalar, pois a demanda cresceu exponencialmente. E desde então estou vinculada a Rede Medical, com Psicóloga Hospitalar, atuando diretamente nas unidades de terapia Intensiva e enfermarias. Faço pós-graduação em Cuidados Paliativos, tema riquíssimo na minha atuação na instituição. Já em 2021, apostei na carreira de Psicóloga Clínica também. E assim, venho atuando nessas duas áreas da psicologia.

En(Cena) – Um hospital é local de fortes emoções, lá muitas vezes é onde se inicia e encerra uma vida. Como a avaliação psicológica pode influenciar nesse ambiente de forma positiva?

Adrielly – Sempre digo que o olhar do psicólogo, a observação, a atenção, são algumas das principais ferramentas que o profissional da psicologia deve ter ao avaliar o paciente. Receber um diagnóstico, estar hospitalizado, isolado, e dependente de uma equipe, é reduzir a autonomia de uma pessoa. O paciente e seus familiares se sentem assim, impotentes diante dessas realidades. Encontramos aí uma das possibilidades da atuação do profissional, avaliar as queixas, as angústias, os sofrimentos, e as necessidades que eles demandam, e proporcionar um ambiente humanizado, de compreensão, de colaboração e com qualidade de vida.

En(Cena) – O papel desempenhado pelo psicológico que realiza a avaliação psicológica hospitalar repercute na dinâmica do hospital?

Adrielly – Sem dúvida. O psicólogo atua como mediador da tríade paciente-familiar-equipe. Na dinâmica hospitalar nenhum profissional deve atuar sozinho, pois todas as avaliações realizadas são importantes e repercutem na atuação dos demais integrantes da equipe. Inclusive, durante a rotina hospitalar, as avaliações realizadas devem ser discutidas durante reunião da equipe. Claro, mantendo a ética e respeitando as limitações das informações repassadas, mas sempre compartilhando informações relevantes para o tratamento.

En(Cena) – O que te levou a escolher este tema para apresentar no 3º Simpósio de Avaliação Psicológica Tocantinense?

Adrielly – É um assunto que julgo ser importante de discutirmos. A avaliação no contexto hospitalar ainda possui mitos, crenças e teorias que nem sempre favorecem. Minha ideia é desmistificar algumas delas e instigar mais colaboradores para essa área de atuação. Já o link com a pandemia que tive a ideia de trazer, é mostrar espaços que também podemos ocupar. Que no meio de uma crise mundial o nosso papel foi bastante relevante, e demandou muita criatividade para descobrirmos novos cenários de atuação. Espero que gostem, inclusive.

En(Cena) – O Covid-19 mudou o comportamento social, com restrições, lockdowns, medidas de distanciamento e tantas outras situações que alterou a concepção do indivíduo perante a sociedade. No ambiente hospitalar, as medidas foram ainda mais restritivas, dado grande risco de contaminação. Como os impactos dessa pandemia podem ser descritos pelo viés psicológico?

Adrielly – Desencadeador de muitos traumas. Inúmeros e incontáveis. Não consigo mensurar os sofrimentos encontrados nesse cenário. As dores, as lutas, as perdas, foram singulares. É difícil até hoje de descrever a respeito. O distanciamento limitou nosso afeto, nosso humanismo, nossa responsabilidade afetiva. Fomos aproximados por telas quando o que mais precisávamos era de uma mão segurando a do outro. De um beijo na testa assegurando de que iria ficar “tudo bem”. Fomos impedidos de darmos notícias difíceis, seguidas de abraços, pois havia uma barreira de “proteção” chamada distância. Tivemos rituais de despedidas ineficazes. Esposas que não se despediram, filhos que não viram, famílias que não tiveram a oportunidade de ver a última vez o rosto de seus entes queridos. Lutos mal elaborados, despedidas não vivenciadas, histórias que ficaram pela metade.

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Robôs no cuidado a idosos: a empatia pode ser programada?

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Em 2013, o professor Jackson fez uma excelente síntese para o (En)Cena de algumas importantes pesquisas na área da robótica voltadas para questões de atenção à saúde (física e psicológica) [1]. Geralmente, as discussões que se seguem sobre esse tema vêm acompanhadas de sentimentos de incerteza, medo e angústia. O ser humano desde os tempos mais longínquos ama a tecnologia, mas também a teme, porque parece que quanto mais humanizada ela se torna (inclusive em seu formato), mais aqueles pesadelos gerados por alguns filmes/livros de ficção científica tendem a se tornar reais. Não vou me ater a esses medos, nem o que acho que eles significam. Nesta reflexão, baseada na matéria de Adam Satariano, Elian Peltier e Dmitry Kostyukov para o The New York Times (disponível em [2]), observo que a tecnologia está se tornando um meio inevitável para a criação de um amplo conjunto de serviços voltados para a atenção à saúde, e as pesquisas direcionadas para esse fim não podem estar de fora das discussões dos profissionais de saúde, nem das matrizes curriculares dos cursos de graduação nessa área.

Segundo [2], em quase todos os países, a população de pessoas mais velhas está aumentando. Assim, de acordo com uma pesquisa das Nações Unidas [2], o número de pessoas com mais de 60 anos vai mais que dobrar, para 2,1 bilhões, até 2050. E essas pesquisas são alguns dos fatores que fizeram com que grandes empresas de tecnologia robótica criassem propostas de valor que pudessem atender a esse tipo de necessidade do mercado a médio e longo prazo.

Foto de Dmitry Kostyukov

Em novembro de 2018, li uma matéria do NYTimes sobre o robô Zora [2], que até pode parecer um brinquedo (e, em alguns contextos, é), mas, nesta matéria, foi apresentado como tema central de um experimento científico em um hospital francês. Esse experimento está sendo realizado em um hospital que atende pacientes idosos com perda de função cerebral e que exigem atendimento 24 horas por dia. Com a pesquisa, eles tentam verificar como os pacientes reagem ao robô, ou seja, se Zora produz novos estímulos nesses pacientes e o quão esses estímulos são benéficos às suas condições. Para tanto, uma enfermeira do hospital supervisiona Zora, controlando-o por meio de um laptop. Assim, Zora pode estabelecer uma conversa com um paciente porque a enfermeira digita as palavras no laptop criando a fala do robô durante a conversação.

Para o pessoal do hospital, quando Zora chegou na enfermaria algo estranho começou a acontecer, “muitos pacientes desenvolveram uma ligação emocional, tratando-o como um bebê, segurando e exprimindo sentimentos de carinho e ternura, dando-lhe beijos na cabeça” [2]. O que mostra, mesmo sem uma análise dos dados da pesquisa, que no primeiro momento Zora pôde ser uma companhia diferente, ao invés de estar ali para cuidar deles, pelo seu tamanho e seu aspecto, parecia querer (e precisar) de seus cuidados. Alguns pacientes referem-se a Zora como “ela”, outros “ele”. Não foi citado na matéria se isso tem relação ao tipo de relação estabelecida, por exemplo, se o robô aciona lembranças do paciente relacionadas a seus filhos quando estes precisavam dos seus cuidados. De certa forma, a solidão tem várias camadas, talvez a pior delas, é aquela que te conduz à reflexão em relação à sua função no mundo.

Foto de Dmitry Kostyukov

Para alguns enfermeiros e outros profissionais do hospital, Zora é uma ferramenta supérflua, pois não pode executar as ações que um humano estaria habilitado, por exemplo, verificar a pressão arterial, trocar a roupa da cama, dar os remédios nos momentos certos. Para alguns deles, o robô apenas “mantém os pacientes ocupados”. Uma das enfermeiras enfatizou que “não deixaria um robô alimentar os pacientes, mesmo que estes pudessem, pois os humanos não devem delegar esses momentos íntimos às máquinas”, e acrescentou que “nada jamais substituirá o toque humano, o calor humano que nossos pacientes precisam” [2].

A robótica ainda tem um longo caminho para criar robôs com um grande conjunto de características humanas, inclusive com aparência humana, mas se nos voltarmos ao “manter os pacientes ocupados”, podemos ter outras reflexões: será que os pacientes deixaram Zora compartilhar suas vivências pois viram nele um tipo de companhia que não via nos profissionais do hospital ou mesmo em suas famílias? Ou será que estabelecer o contato com Zora lembrou-lhes um outro tipo de convivência, aquela que existia antes de serem apenas pacientes? Por exemplo, foi relatado na pesquisa que os pacientes contaram ao robô coisas sobre sua saúde que não compartilhavam com os médicos. Em uma dessas histórias, “uma mulher que tinha contusões nos braços e não contava à equipe do hospital o que havia acontecido, compartilhou com Zora que ela havia caído da cama enquanto dormia” [2].

Foto de Dmitry Kostyukov

Uma paciente que está no hospital há mais de um ano, uma senhora de 70 anos, disse que Zora “traz alguma alegria em nossas vidas aqui”. E acrescentou: “nós a amamos e sinto falta dela quando não a vejo. Eu realmente penso nela com bastante frequência” [2]. Sei que essas demonstrações de afeto para um robô, que está sendo guiado por alguém que observa à distância, pode parecer cenas de um futuro distópico, em que nosso afeto é repassado às máquinas por falta da proximidade entre humanos, ou pela solidão originada do abandono.

Ao mesmo tempo que essa ideia pode parecer uma potencial realidade melancólica e absurda em certos aspectos, o investimento em estudos relacionados a isso é real. Em algumas décadas, grande parte da população mundial estará envelhecida. Estamos vivendo mais e precisamos de cuidados por mais tempo. Assim, talvez seja correto presumir que não haverá tantos humanos interessados em fazer o papel de cuidador, ou mesmo que nem numericamente isso seja possível. Logo a evolução tecnológica nesse sentido parece ser inevitável (e necessária).

Foto de Dmitry Kostyukov

Mas, por enquanto, ainda penso em Zora e como este, ao final do dia, volta para sua caixa em um armário na sala de uma das secretárias do hospital. É meio assustador que um ser não vivo seja lembrado com carinho, seja aguardado com alegria, seja querido como se fosse uma criança, confidente como se fosse um amigo, amado como se fosse um filho. Li uma vez que no epitáfio do escritor americano Raymond Carver está escrito o seguinte diálogo: “ – E, afinal, você conseguiu o que queria dessa vida? – Consegui. – E o que você queria? – Considerar-me amado, me sentir amado nessa terra”. Parece-me cada vez mais que sentir-se amado está relacionado à capacidade de conseguir amar e, especialmente, de ser necessário a alguém. Neste sentido, entendo (e muito) os sentimentos que Zora produziu naquelas pessoas. E, novamente, volto a pensar na frase da enfermeira, de que o robô apenas ocupa o tempo dos pacientes. Talvez seja esse o tempo que nos falta, o tempo de convivência que permita às pessoas idosas e doentes ter novamente a possibilidade de sentir-se necessárias a alguém.

Referências:

[1] https://encenasaudemental.com/comportamento/insight/eu-um-robo-a-codificacao-da-empatia/

[2] https://www.nytimes.com/interactive/2018/11/23/technology/robot-nurse-zora.html

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Seis dias de atendimento: do socorro à alta

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Esse relato descreve a experiência mais traumática pela qual minha família passou: o meu marido (Andréia Nunes), caiu de uma altura de seis metros, no dia 22 de outubro de 2018, por volta das 11h40min, na região norte da cidade de Palmas -TO.

Fernando estava terminando um trabalho de manutenção de um ar condicionado em cima do telhado de um edifício quando, de repente, o telhado abriu debaixo de seus pés e ele caiu por esse buraco que foi aberto, quebrando o gesso, até cair em pé, de uma altura de 6 metros de altitude. Ao cair, outras pessoas que estavam no local, acionaram o serviço do corpo de bombeiro. Após 15 minutos, o resgate chegou e Fernando foi levado para o Hospital Geral de Palmas – (HGP).

Eu o esperava para o almoço, o qual ele não apareceu e nem avisou.  Mal sabia eu que horas depois seria informada, pela nossa filha, de que ele não foi almoçar porque havia caído de uma altura de seis metros e estava todo “quebrado” no pronto socorro do HGP. Quando recebi essa notícia, já era por volta das 15h e me locomovi de imediato ao HGP, me recordo muito bem da maca amarela.

Como relatado anteriormente, ao chegar na ambulância, Fernando deu entrada no Pronto Socorro e, após procedimento de internação, começaram os exames, iniciando com uma tomografia. Bem, tomografia feita e as surpresas dolorosas começaram: fraturas com esmagamento de calcâneo, fraturas com achatamento de uma vertebra e fraturas nas demais vertebras. Assim, foi internado em quatro setores: neurocirurgia, ortopedia, cirurgia geral e clínica. Na maioria do tempo estava sob efeito de fortes remédios para aguentar a dor e acabava dormindo. O medo de que ele ficasse paralítico foi tomando conta do meu ser e o choro insistia em permanecer. Era um misto de aflição, angústia, de pavor mesmo, mas eu não deixava ele perceber.

Fonte: encurtador.com.br/BGV24

Permanecemos no Pronto Socorro por 24hs, e por várias delas ele ficou em cima da maca amarela da ambulância do Corpo de Bombeiro, e eu em uma cadeira de “macarrão” emprestada, temporariamente, por uma acompanhante. Depois, conseguimos uma cama e a maca foi devolvida para a ambulância. Mesmo com os corredores lotados de pacientes em suas macas, os procedimentos eram feitos pelos médicos e guerreiros profissionais da enfermagem.

Em seguida fomos para outra internação, dessa vez na neurologia, até saber se ele iria fazer a cirurgia na coluna ou se o tratamento seria tradicional com uso de coletes e medicamentos. Então, permanecemos por mais quatro dias, seguindo com todos os protocolos e exames: dos mais simples, como medir a temperatura e a pressão arterial, aos mais complexos e de ponta, como a ressonância magnética e a tomografia computadorizadas.

O que mais me chamou a atenção no HGP foram os vários profissionais envolvidos no seu atendimento – equipe multiprofissional: a assistente social que nos acolheu muito bem, a nutricionista que trocava o cardápio ou colocava algumas frutas que ele gostava, a alimentação é um grande diferencial para os pacientes e era realmente muito saborosa, as enfermeiras e técnicas em enfermagem foram de um cuidado, atenção e carinho com o meu marido que em alguns momentos me deixava emocionada. Finalizamos a temporada nesse setor com a alta e a indicação do tratamento prescrito pelo médico neurocirurgião.

Apesar da graça de Deus e sabendo que realmente foi um milagre, pois meu marido não veio à óbito e nem ficou paralítico, as notícias ainda continuavam preocupantes. O medo e a ansiedade tomaram conta do meu ser, pois sabia que, quando chegasse a hora da internação no setor ortopédico, as coisas iriam se complicar. Naquele momento tinha uma lista de 162 pacientes esperando para fazer cirurgias ortopédicas e o nome do Fernando nem estava na lista ainda, frequentemente eu ouvia: “os ossos vão calcificar, terão que quebrar novamente, pode demorar meses”. Andando pelos corredores para me acalmar depois que ele dormia, resolvi subir mais um andar até chegar na ortopedia para saber como estava o nível de internação no setor e, mais uma vez fiquei preocupada, pois havia macas nos corredores com pacientes por todos os lados.

Fonte: encurtador.com.br/ADJS8

Após mais uma alta de internação e início da internação na Ortopedia, resolvemos com ajuda de colaboradores não aguardar a cirurgia ortopédica no HGP e recebemos alta total. Uma ambulância foi acionada para levarmos para casa e após três dias em casa a cirurgia no calcanhar (onde foi colocado sete parafusos e uma placa) foi realizada em um hospital particular. De volta para casa, uma equipe da atenção primária do Centro de Saúde da Comunidade do meu território, passou a atendê-lo com trocas de curativos por um longo período. (PORTARIA Nº 2.436, DE 21 DE SETEMBRO DE 2017. Diretrizes: cuidado centrado na pessoa, resolutividade, longitudinalidade do cuidado e coordenação do cuidado). Enfim, todo o processo de cura, entre cadeira de banho, coletes, cadeira de roda e muletas, durou aproximadamente um ano.

Esse relato de experiência é um dos muitos que vivi como consumidora dos serviços do SUS, desde o meu nascimento até os dias de hoje. Eu e minha família sempre usamos os serviços do SUS. Resolvi relatar essa experiência, pois foi a mais traumática e a que me fez ter a maior esperança que já vivi.  Me fez refletir sobre a magnitude do atendimento prestado por aquele hospital para com os seus usuários. Infelizmente, algumas pessoas, não sabe ou que nunca precisou dos serviços do HGP, tem uma ideia muito negativa dos serviços prestados ali. Pois, recebe informações somente através da mídia, que geralmente denigre sem saber realmente da articulação e oferta de atendimento para quem de fato precisa.

Todos os exames e procedimentos possíveis foram realizados, mesmo não esperando a cirurgia do calcanhar, em nada ficamos desamparados. Minha família e eu fomos atendidos de acordo com os princípios de universalidade, integralidade e equidade, estabelecidos na Lei Federal nº 8.080/90. Todos os profissionais envolvidos no tratamento do meu marido enquanto permaneceu internado no HGP foi de muita ética e compromisso. Tenho certeza que o trabalho em equipe e o seu engajamento dos profissionais envolvidos trouxe tranquilidade para nós dois e principalmente fazendo com que a estadia no HGP transcorresse de uma forma mais amena, apesar do trauma que envolveu essa situação.

Muitos criticam o atendimento do HGP, mas foi lá que descobri que ele é um hospital de portas abertas e, talvez por isso, não conseguimos a cirurgia em tempo hábil.  Tendo esse formato de atendimento, ele não atende somente a população de Palmas e dos municípios do Tocantins. Vários estados circunvizinhos procuram e usam as suas estruturas para socorrer a população que precisa do seu atendimento, impossibilitando cumprir a diretriz da Territorialização (Lei Federal nº 8.080/90).

De fato, é um grandioso hospital e, por esse motivo, parabenizo a todos aqueles que trabalham arduamente para tentar atender a todos e todas da melhor maneira possível e seguindo todos os preceitos e práticas preconizadas por esse grande Sistema Único de Saúde – SUS, que é referenciado e elogiado mundialmente.

Fonte: encurtador.com.br/frBY5
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Palhaçoterapia: reinventando a experiência hospitalar

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O ambiente hospitalar pode ser lembrado como um local triste e com muito sofrimento, porém essa experiência pode ser minimizada, e até mesmo transformada através dos atendimentos da equipe multiprofissional, e como parte integrante deste grupo podemos citar  serviço voluntário da palhaçoterapia hospitalar. Os palhaços podem ter formação na área da saúde ou serem formados em outra área, assim todos contribuem para essa vivência renovadora do hospital.

Muitas pessoas passam por experiências dolorosas e desagradáveis podendo ser marcantes em suas vidas. Mas através do serviço de palhaçoterapia esse cenário pode ser transformado em um lugar mais alegre, leve e acolhedor. Existem vários grupos que se dispõem no serviço voluntário no hospital, sendo seu principal objetivo a humanização dos atendimentos aos pacientes, além da minimização de sofrimento diante do processo de hospitalização.

Os primeiros relatos de palhaços nos hospitais surgiram em 1980, através do oncologista pediátrico Patch Adams, com intuito de levar um atendimento médico com mais empatia, bom humor e carinho aos pacientes, acompanhantes, e a todos os profissionais do hospital. E foi assim que seu trabalho virou inspiração a milhares de pessoas do mundo inteiro, e foi assim que produziram o filme “Patch Adams, o amor é contagioso” que conta sua trajetória.

Fonte: encurtador.com.br/mnsJ8

Já no Brasil, esse movimento foi trazido por Wellington Nogueira, em meados de 1991, depois de passar uma temporada trabalhando em Nova Iorque no  Clown Care Unit. Retornando às suas atividades em solos brasileiros, fundou os Doutores da Alegria, que influenciou o surgimento de vários outros grupos. Entre seus valores, estão a Arte e cultura como direito; Liberdade de expressão, cooperação e respeito à diversidade; Ética, transparência e coerência na ação; Arte, educação e pesquisa como caminho para estimular um novo olhar e impactar realidades; Busca pela simplicidade e excelência; Alegria é um estado que se constrói a partir do outro – afetar e ser afetado; Busca pela multidisciplinaridade entre cultura, saúde, educação e assistência social.

Além de existir um legado de humanização e amor no serviço dos palhaços nos hospitais, por trás disso, também existe muita dedicação, estudos e preparação para a formação dos voluntários. Por se tratar de um ambiente hospitalar é preciso maiores cuidados e estratégias em como funcionará a dinâmica dos atendimentos, a maneira de abordar os pacientes e seus acompanhantes, brincadeiras com as crianças, as orientações e restrições médicas, são alguns dos fatores a serem planejados antes de dar início às visitas.

Vivenciar esta experiência da palhaçoterapia no ambiente hospitalar pode ser carregada de boas lembranças, a oportunidade de ressignificação de um momento mais delicado que possa estar passando. Preservar e manter a saúde mental tanto dos pacientes quanto dos profissionais envolvidos são essenciais para a qualidade e na harmonia do ambiente hospitalar.

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SUS um sistema de princípios e compromisso

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Como usuária do SUS já vivenciei várias situações que marcaram a minha vida, e a mais recente delas ocorreu quando precisei ficar de acompanhante de um primo após um coma alcoólico no mês de agosto deste ano.

Cheguei ao Hospital Regional de Miracema- TO por volta das nove horas da noite de um sábado, com um misto de agonia e tensão, pois ainda não sabia o que tinha acontecido com meu primo Sérgio, apenas tinha recebido um telefonema para que pudesse encontrar a equipe do SAMU no hospital e ficasse como acompanhante. Não sabia como proceder diante daquela situação, a minha ansiedade era tanta, que não sabia quais informações perguntar ou onde esperar.

Sem saber se o pessoal do SAMU já havia chegado, resolvi ficar um pouco lá fora pegando um ar para então entrar na recepção, quando me sentir menos agoniante fui até a moça e perguntei se o paciente por nome de Sergio havia chegado naquela unidade, ela super prestativa e muito educada me respondeu que não, e pediu para aguardar na sala de espera que assim que o SAMU chegasse ela me avisaria, assim fiz, fiquei aguardando do lado de fora do hospital onde me dava uma visibilidade de entrada e saída de todos os veículos.

Por volta de 23 horas da noite avistei o carro do SAMU tão apressado quanto os meus batimentos cardíacos ao avistá-lo. Nesse momento comecei a ter todos os sintomas de ansiedade, pois era uma experiência nunca vivenciada antes, mas agora já era tarde para pensar em desistir. O SAMU adentrou as portas do fundo do hospital, e logo a moça da recepção me chamou, entramos e Sergio já estava sendo colocado em cima da maca do hospital pelo motorista é enfermeira do SAMU. Em seguida foi encaminhado para sala de urgência e emergência onde o médico iniciou os primeiros procedimentos como aferir sua pressão arterial, o nível de glicose e seus batimentos cardíacos, logo depois, foi recomendado um soro na veia para hidratar e acelerar a eliminação do álcool do organismo. Após esses procedimentos Sergio foi encaminhado para a sala de observação onde permaneceu durante dois dias.

Fonte: encurtador.com.br/qrtzP

Já estando na sala de observação, sendo mais ou menos uma da manhã, Sergio acordou muito agitado e gritando muito, rolava de um lado para o outro e eu já não sabia o que fazer, fui até a sala da enfermagem e pedi ajuda, elas de imediato foram lá no leito, conferiram a medicação, ajudaram quando precisei levar ele ao banheiro e me deu algumas dicas do que fazer caso algumas situações hipotéticas ocorressem. Na manhã do dia seguinte, Sergio já estava bem melhor, porém com fortes dores de cabeça, com isso o médico voltou a medicá-lo e o deixou em observação por algumas horas antes de dar alta definitiva.

Sergio já esteve internado no Hospital Geral de Palmas por tentativa de violência autoprovocada, mesmo a família tentando ajudá-lo sempre voltava para a situação precária na qual vivia, e por vezes demonstrava comportamento muito agressivo. A enfermeira ao ter acesso a essas informações chamou Sergio para uma conversa e entendeu que o abuso de substâncias químicas era proveniente de uma atenção e cuidado que ele recebia quando se encontrava em dada situação. A enfermeira apresentou o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) para que ele pudesse receber um atendimento integralizado e especializado, onde passaria por assistente social, psicólogo, psiquiatra e outros atendimentos caso necessário, depois dessas informações os papeis de alta foram assinados e Sergio foi levado para casa de parentes.

As oito horas da manhã do diante seguinte, uma segunda-feira, estávamos nós no CAPS para tentar conseguir um atendimento, fiquei impressionada com o quanto foi rápido para ele ser atendido, visto que anos atrás tive algumas experiências que demonstraram uma falta de efetividade e tato na prestação dos serviços básicos de saúde.

No primeiro atendimento, Sergio passou pela assistente social e a psicóloga, no entanto existia uma resistência muito grande em conversar com essas profissionais. Ele ainda não estava se sentindo seguro para iniciar um diálogo, então foi marcado para o dia seguinte que ele retornasse no mesmo horário para uma nova tentativa. Chegando em casa fui conversar com Sergio e explicar a importância de ele responder as perguntas feitas pela assistente social e psicóloga, e no dia seguinte teve um resultado muito maior a volta ao CAPS, e logo foi encaminhado para uma consulta com o psiquiatra. Após a referida consulta com ele já estava com seus medicamentos em mãos e com um encaminhamento para um neurologista. Ficou marcado um retorno com o psiquiatra com a data de 90 dias após o início dos medicamentos, e sua consulta com o neurologista está marcada para o mês de dezembro de 2019.

Foi uma experiência agregadora, visto que pude constatar na prática como o SUS tem evoluído em todos os aspectos ao longo dos anos e de fato tem cumprido o que propôs a fazer que é oferecer desde o simples atendimento para avaliação da pressão arterial, por meio da Atenção Primária, até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país. Não é à toa que é considerado um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo.

Fonte: encurtador.com.br/koUV1
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Terapia com cães completa dois anos no HGP

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Desde a criação, o projeto já realizou 831 atendimentos a  pacientes e acompanhante.

Um projeto vem fazendo a diferença para pacientes internados no Hospital Geral de Palmas Dr. Francisco Aires (HGP), a Cinoterapia (terapias com cães).  Desde a criação, o projeto já realizou 831, que inclui pacientes e acompanhantes com os seguintes benefícios: amenizar os impactos da hospitalização o estresse, a angústia, depressão. Além do trabalho com pacientes e acompanhantes, os cães tem ajudado os servidores, pois melhora a interação de todos os envolvidos no ambiente hospitalar. A cerimônia de comemoração aconteceu nesta terça, 22, na sede do 1º Batalhão do CBM.

Foto: Nielcem Fernandes – Na ocasião foram entregues certificados de reconhecimento pela atuação aos voluntários, as equipes do Corpo de Bombeiro e da Humanização do hospital

Na ocasião foram entregues certificados de reconhecimento pela atuação aos voluntários, às equipes do Corpo de Bombeiro e da Humanização do hospital e assinado o termo de cooperação técnica entre o Corpo de Bombeiros e o HGP.

O sargento Raphael Mollo conta sua experiência na terapia com cães. “Sinto-me muito feliz. É muito gratificante este projeto. A gente poder atender e ver a retribuição dos pacientes. Eu tive a oportunidade de levar o cão até uma paciente que hoje já não está mais internada no HGP, e foi um momento único quando ela recebeu o cão. Eu falo para todo mundo que durante as visitas ao hospital, nós nos tornamos mais humanos. A pessoa  que se interessar em participar com seu cão pode nos procurar pelo telefone principal do Corpo de Bombeiros, onde será avaliação o animal e demais tramites”, explicou.

Foto: Nielcem Fernandes – A responsável pelo setor de Humanização do HGP, Goiamara Borges

A responsável pelo setor de humanização do HGP, Goiamara Borges fala da comemoração e a relevância de ter mais voluntários. “É uma alegria está comemorando dois anos da Cinoterapia no HGP. E ao longo destes anos o projeto se aperfeiçoou. Foram agregadas mais pessoas, tivemos muitos desafios. Um dos objetivos hoje é poder ter mais voluntários”, ressaltou.

Na ocasião o diretor geral do HGP, Leonardo Toledo falou da importância do projeto. “Sabemos o quanto os pacientes ficam tão alegres e satisfeitos ao ver os Bombeiros juntamente com os voluntários e cães entrando nos leitos. Muitas vezes esquecem por um instante da doença. Que venham mais anos desde projeto tão bonito que beneficia nossos pacientes”, destacou.

Foto: Nielcem Fernandes – Na ocasião o diretor geral do HGP, Leonardo Toledo falou da importância deste projeto

Terapia de amor e carinho

A professora Valdirene Cássia, voluntária do projeto leva o Fred para visitar os pacientes e agora vai levar a Hana também. “Eu achei extremamente importante trabalhar em prol daqueles que precisam de um carinho. Os cães trazem uma sensação diferente, para a vida. O sentimento muda quando nós estamos em convivência permanente com estes animais. Então, por que não compartilhar aquele amor dos meus cães com os pacientes que estão fragilizados?”, declarou.

Foto: Nielcem Fernandes – Pascua Lourença agradeceu aos voluntários que a ajudaram quando esteve internada na unidade

“Quero agradecer a Deus, aos médicos, aos meus filhos, a equipe toda do HGP, aos Bombeiros e aos cães. Quando eu olhei o cachorro no hospital, eu chorei de emoção. O HGP não foi um hospital foi um hotel cinco estrelas. Eu só tenho gratidão. Eu descobri um aneurisma e fui bem tratada lá”, afirmou a  professora de 57 anos, Páscua Lourença.

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Como surgiu a instituição manicomial?

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Fazendo um breve levantamento, na Idade da Razão (séc. XVIII), época da Revolução Francesa, processo marcado por inúmeras transformações sociais, políticas, econômicas e culturais, influenciou, e influencia até hoje, na forma de compreender a saúde mental.  Philippe Pinel (pai da psiquiatria) foi extremamente participativo e atuante nos acontecimentos da Revolução Francesa, tendo seu nome atrelado a alienismo (AMARANTE, 2011).

O Hospital, enquanto instituição de saúde, principal espaço do exercício das ciências médicas, nasceu em meio a Revolução Francesa. Anteriormente a realidade e a finalidade dos hospitais eram outras. Amarante (2011) relata que o hospital foi criado na Idade Média e era uma instituição médica, e sim uma instituição de caridade, pois o objetivo era dar abrigo, assistência religiosa e alimentação aos pobres, desabrigados e doente.

Rosen (1994), aponta que no nível primitivo de conhecimento, as explicações e a prática quase sempre se baseavam no sobrenatural. Este cenário mundo com a medicina moderna, originando questionamentos baseadas em dados empíricos de investigação e observação, diferenciando sintomas e buscando explicações racionais.

Os médicos antigos e medievais, em geral, não distinguiam as diferentes doenças e se preocupavam, ao invés, com vários grupos de sintomas. Explicavam-se as evidências de desordem na saúde por meio de teorias sobre a mistura anormal dos fluidos do corpo (humoralismo) ou acerca dos estados, construídos ou relaxados, das partes sólidas do corpo (solidismo). Enquanto essas concepções de saúde prevaleciam, os médicos não podiam concentrar-se em sítios da enfermidade. (p.33)

A Revolução Industrial beneficiou muito o desenvolvimento das cidades, ni entanto houve também um maior acúmulo de lixo, o que acarretou doenças e todo o tipo de mazela social. Era necessário para o bem comum, livrar-se de todo o refugo social e “limpar” as cidades. Devido toda a constituição econômica, cultural e social na idade Medieval, era comum a aglomeração de pessoas. Visto que a maioria da população que constituía essas cidades conservava hábitos do campo, dentre eles, a criação de animais de pequeno e grande porte, o que facilitava o acúmulo de sujeira e excrementos resultantes de tal prática (ROSEN, 1994).

Fonte: encurtador.com.br/aflqG

Diante de tal cenário, o crescimento de instituições hospitalares deu-se de forma importante. As cidades cresceram, práticas de saneamento foram sendo retomadas, era necessário varrer as ruas de toda imundície produzida, e nesse aspecto considerava-se inclusive as mazelas humanas (ROSEN, 1994). Como forma de resolver o problema, criaram-se hospitais e abrigos para homens, mulheres e crianças, leprosos, prostitutas, alienados, órfãos, criminosos, todos considerados a escória da sociedade.

Deviat (1999) diz que oito mil pessoas foram hospitalizadas, ao mesmo tempo, na Salpêtrière, uma das instituições que compunham o Hospital Geral de Paris. O objetivo era varrer as ruas te toda mazela que retratava a realidade de descaso e miséria. E o autor cita a lista dos perfis: Os mendigos e vagabundos,  os criminosos, os rebeldes políticos, as prostitutas, os libertinos, os sifílicos, os alcoólatras, os loucos, os idiotas, os maltrapilhos, as esposas molestas, as filhas violadas. O autor ainda diz que através ´´dessa limpeza“, os perfis citados se tornaram invisíveis, ou seja, indigentes e sem valor algum para a sociedade.

Rousseau disse que “o homem nasce livre e por toda parte vive acorrentado”, o que retrata bem como era o tratamento oferecido aos doentes mentais no séc. XVIII: trancafiados em prisões, casas de correção, asilos e hospícios. Rosen (1994) diz que  a insanidade era interligada ao pecado, ou seja, era vista como atributos de alguém que praticava atividades do diabo. Dessa forma, o tratamento era cheio de ´´ignorância, superstição e condenação moral de maneira forma insana (ROSEN, 1994, p.117).

Fonte: encurtador.com.br/dkY06

Este cenário de enclausuramento começou a mudar com o advento da Revolução Francesa e dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Estes trouxeram consigo as noções de democracia, cidadania e república, o que refletiu no modo de se relacionar. Essa nova ordem social passou a exigir uma nova compreensão acerca da loucura, uma compreensão científica, mensurável, observada através de uma prática médica para além da caridade.

A nova ordem social exigia uma conceituação de loucura e, acima de tudo, de suas formas de atendimento. Com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, com o Contrato Social e a livre circulação de pessoas e mercadorias, a nova soberania civil tinha que refletir sobre a responsabilidade e os limites da liberdade. O grande enclausuramento descrito por Foucault, símbolo eloquente do absolutismo tinha que ser abolido (DESVIAT, 1999, p.16).

É importante ressaltar que o enclausuramento dos alienados não deixou de existir, mas ganhou uma nova explicação. Passou a ter caráter terapêutico e indispensável. Era necessário isolar os pacientes da sociedade, pois esse meio era considerado prejudicial às mentes perturbadas. Para curar os pacientes era preciso isolá-los, interná-los em lugares apropriados. Surgem os asilos, e desta maneira, a primeira especialidade médica: a psiquiatria, que trouxe consigo a justificativa legalmente plausível para o encarceramento da loucura, agora sob o nome de internação.  Ao considerar todas as características que constituíam essa nova sociedade democrática, fica bastante claro que o louco não era um sujeito de direito, pois era considerado irresponsável por seus atos, por sua conduta social.

Fonte: encurtador.com.br/nvFI8

Essa aliança entre a psiquiatria e o direito perdura até nossos dias atuais. Os paradigmas de periculosidade, criminalidade e cronicidade continuam tão presentes em nossa sociedade quanto na época de Pinel.

“Essas idéias iriam fundamentar a psiquiatria, ao lado dos conceitos de periculosidade, incurabilidade e cronicidade, com graves consequências até hoje… Loucos, criminosos, alcoólatras, revolucionários e artistas ficaram sob a suspeita de sofrer de distúrbios mentais degenerativos.” (Desviat, 1999, p.18)

A prática da psiquiatria produziu saberes nos hospitais, e através de estratégias disciplinares possibilitou o agrupamento das doenças, sua classificação através da observação do isolamento dos pacientes. Segundo Desviat (1999) o reconhecimento da subjetividade e certa racionalidade apresentada pelos alienados possibilitaram uma intervenção terapêutica, constituindo as bases do tratamento moral.

Para Amarante et al (2003, p. 17) Pinel discordava de que toda alienação era incurável, para ele, o papel do alienista seria o de “ajudar as forças naturais nesta reação salutar do organismo”. Ou seja, era preciso ´´trazer o alienado a realidade“, e isto acontecia por meio do controle de seus impulsos, ilusões e delírios.  Para isso, estratégias de tratamento moral foram desenvolvidas. Acreditava-se que o trabalho moral dentro dos asilos poderia resgatar o real interesse pelo mundo objetivo e racional, pois a disciplina estava atrelada ao sentido terapêutico, pois a ordem e disciplina ajudaria a mente desregrada para que pudesse  novamente encontrar seus objetivos e verdadeiras emoções e pensamentos.

O objetivo final do tratamento moral era obter a cura para os males da mente. Se antes os hospitais era um espaço destinado a caridade, tanto que era comum a próprias freiras liderando hospitais, pela primeira vez os hospitais tornaram-se um lugar de tratamento, e não mais um lugar que acolhe para aguardar a morte e ser salvo em Cristo. Por outro lado, as e instituições manicomiais tornaram-se depósito de pessoas que passaram a ser tratadas de forma desumana e cruel por não se “enquadrarem” no que os padrões sociais definiam como “comportamento normal”, ou seja, fora da linha de pureza imposta pela sociedade (BAUMAN, ).

Fonte: encurtador.com.br/dhloQ

Há questões que merece destaque, através do novo modelo hospitalar supracitado, aconteceu a descoberta dos medicamentos psicotrópicos, o desenvolvimento da psicanálise e também o desenvolvimento da saúde pública. Tais pontos foram essenciais para o inicio de uma reforma psiquiátrica, que iniciou na Europa, tendo como destaque a postura adotada pela Itália, o que fez o que o Brasil seguisse os passos.

Referências:

AMARANTE, Paulo Duarte de Carvalho. O homem e a serpente: outras histórias para a loucura e a psiquiatria. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2003.

____________. Saúde mental e Atenção Psicossocial. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2011.

ROSEN, George. Uma História da Saúde Pública. São Paulo, Ed. Unesp, 1994

DESVIAT, Manuel. A Reforma Psiquiátrica. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1999.

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