Tenho reparado numa coisinha aí, sabe? Algo que vem tomando espaço e que parece me desmontar, me fazendo ter a sensação de não ter conseguido administrar nada de mim, no instante. Isso vem me encucando com o passar dos minutos. Acabo perdendo preciosidades mediante tal situação que anda se instalando e ganhando números consideráveis de plateia. Sabe o que é? É a rapidez de como as pessoas vão administrando as coisas, à vida, minha gente! Confesso que não me dou bem com esse hábito vicioso.
Todo dia, sinto a despedida das coisas, de pessoas com mais intensidade, e os meus olhos, com funcionalidade clássica, treinados a observar tudo com delicadeza e paciência, respeitando as fases cruciais para uma compreensão completa, vêm, agora, se queixando da rapidez de tudo. Ele alega que não sentiu/viveu o bastante, assim, tal imagem, a ponto de alguém passar para a próxima cena “interessante”.
É preciso um cuidado refinado e sincero, um tempo muito maior para examinarmos e entendermos a profundidade das coisas, pois o simples, incrivelmente, é bem mais complexo do que se imagina. É necessário observar! Ainda que não se acredite, observar é uma arte nobre, mas está perdendo o seu espaço no tempo. E o tempo, insensível, é um corredor desesperado e enlouquecido. Nessa pressa, algumas pessoas correm lado a lado com o tempo, cooperando para que não vejamos o mundo mais cheio de serenidade e singeleza.
Parece que não há tempo para desfrutar a beleza e a fortaleza de cada detalhe que o ambiente nos permite. As pessoas, em tão pouco tempo, tornam as coisas desinteressantes. Essa tendência nos leva a uma comercialização desenfreada de lugares, objetos e pessoas, na atitude vã em buscar um entretenimento que nos prenda mais e mais. No embalo dos acontecimentos, não haverá mais distinção entre lugares, objetos e pessoas. Serão tratados na mesma equivalência.
Já que não consigo acompanhar mais esses incansáveis atropelos do dia a dia, e não posso obrigar ninguém a ficar contra essas práticas, resolvi cuidar mais de mim e das pessoas que vivem bem sem isso. Porque sozinho, eu não vou muito longe, entende? Preciso ligar conexões. É bom crescer com a gente. Gente da gente, mesmo! Sentado numa cadeira confortável, comendo e bebendo delícias, relacionando loucuras com nós mesmos, soltando nossas risadas cheias de travessuras, acompanhadas, é claro, de nossas autênticas imaginações – que, constantemente, são intimidadas a ficarem caladinhas num quarto escuro, vigiadas pelo pelotão “sem-tempo-para-ser-livre!”. Vamos criar, mas sem acelerar os passos. Dê trégua aos sapatos.
Enfim, o que eu falo é de conhecermos histórias e historiarmos com pessoas. Quero isso porque os meus olhos não são os únicos que reclamam. Meu coração, meus dedos, meus ouvidos, meu nariz, minha boca, dentre tantas outras particularidades, precisam sentir-se úteis. Quero sentir emoção, tocar coisas, ouvir The Cure, cheirar o café quentinho, feito na hora e falar… Meu corpo e alma protestam há dias! Tenho que reparar nessas coisas aí e dividir o pouco de mim com o pouco das outras pessoas, e vice-versa. Assim, vamos juntando nossos bocadinhos por aí…
E se alguém perguntar: “e como ficam os outros? Os que preferiram um mundo de correrias? Vocês vão deixá-los?”. Bem, a resposta, seguramente, seria “não!”. Vamos espalhar nossas conversas, nossas energias, nossa vontade e benquerença. Atitudes que não forçam, mas que, positivamente, atraem. Daí, podemos levá-los a reconhecer o velho caminho: simplicidade. Creio nisso porque ninguém se desvincula completamente do antigo rumo. Somos simples, ora! Isso tá mais que firmado dentro de nós. Podemos não continuar no trajeto, mas jamais esquecê-lo.
Encobrimos a simplicidade para nos ocuparmos com outros afazeres. Mas, é aí que está o problema: escondê-lo é a “estratégia” principal para acelerarmos as coisas. E não queremos repetir esse vício, não é mesmo? Acelerar não leva à sabedoria. Vamos sentar, conter a ansiedade e colher os conhecimentos necessários. Depois, podemos ir aonde quisermos. Tenho certeza que essa pausa terá grande valia lá na frente. Cada ponto observado proporcionará sucesso nas vindouras explorações. Mas, se preferirmos a rapidez, nós nos perderemos pelo caminho.
Esse primeiro passo, o de reconhecer a simplicidade, deve ser feito sozinho. Desculpe! Podemos estimular reflexões, dar dicas, mas é seu pé que deve fazer o caminho de volta, objetivando desacelerar. Queremos sentir sua verdade nos rastros que deixar, quando você pisar descalço no chão.
Depois disso, entenderemos que você, sim, quer ficar, deixar o corre-corre de lado, prosear com a gente. Então, podemos lhe dizer: “senta aqui, sossegue o coração e vamos olhar mais a paisagem”. E aí, quer vir com a gente? Posso contar com você?