Tudo começou com o projeto “Posso Ajudar ?”, implantado pela Secretaria Municipal de Saúde, onde minha função era dar informações sobre o serviço, destinar pacientes para seus locais de atendimento (afinal, nem todos sabiam onde aguardar ou para onde ir), dentre outras funções destinada à minha ocupação como estagiária.
No entanto, com o decorrer dos meses, me percebi realizando uma função bem maior que a de uma simples estagiária. A observação, a escuta, a atenção e a empatia foram tomando conta de mim, pois ali haviam pessoas precisando de bem mais que um atendimento médico e uma medicação, precisavam também de um ouvido atencioso e compreensivo que pudesse, além de simplesmente ouvir, escutar com cautela e sem julgamentos. O tempo foi passando e as experiências vividas ali ficaram marcadas e junto, me trouxeram um aprendizado imenso que transformaram totalmente o meu modo de ver e agir. Aprendizado sobre gente, sabe?! Sobre ser humano, sobre se sensibilizar à dor do outro e não diminui-la perante a sua.
Ali percebi que nem sempre um esfigmomanômetro, estetoscópio, raio-x, termômetro, ou até mesmo um eletrocardiograma, podem mensurar uma dor ou descompensação que vem da alma, uma dor pela ausência da falta de cuidado e atenção que muitas vezes não é recebida fora dali, uma dor que necessita de cuidados, cuidados esses que, frequentemente a medicação desacompanhada não consegue suprir. É preciso mais, bem mais.
Nesse período vivenciei momentos de morte, tristeza, angustia, desespero, epidemias, mas também, de nascimento, alívio e alegria de quem chegou tão debilitado, mas que já estava indo para seu lar satisfeito por se sentir melhor. Esse não é para ser um relato triste, e sim um relato em que você, você mesmo que está aí lendo isso, possa emanar cuidados e atenção que vão além da sua profissão, independente de qual seja o local ou ramo que você estiver, nunca se esqueça que, antes de tudo, você deve ser um bom ser humano, para então ser um bom profissional.
“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas, ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana. ” (Carl Jung)