Eu poderia dormir mais meia hora. Existe algum toque de despertador que não seja extremamente irritante? Eles soam como tias avós.
Tateio meu celular em algum lugar da cama. A luz da tela ajuda a corroer o sono dos meus olhos que parecem estar cheios de terra.
Uma vez eu ouvi dizer que pessoas que fantasiam muito deveriam pensar com os pés tocando o chão. Desde então, sento à beira da cama antes de ter coragem para levantar. Meu humor está entre Nietzsche e Schopenhauer, como se isso fizesse algum sentido. Se eu dormisse mais meia hora, não estaria pensando em nenhuma existência além da minha.
Uma xícara de café me motiva a começar. Tudo. Mas está muito escuro aqui dentro, como se já fosse noite. Algo estranho me faz temer outra tempestade, como a de ontem. Por que eu estou assim? Eu adoro a chuva. Uma das poucas coisas que alivia esses dias sôfregos e tórridos, e essas palavras nem combinam juntas.
Eu abro a porta e olho para o céu. O vento que carrega com facilidade o ar pesado e úmido, dança com meus cabelos. O céu está tão escuro.
Não era temor, era algo como respeito.
Entro em casa. Pego meu café. Sento à mesa. Olho dentro da xícara. Um tom entre preto e marrom.
“A tempestade que chega é da cor dos teus olhos
Castanhos”
Renato estava em um dia como o meu.