No dia 22 de agosto de 2017, ocorreu na sala 409A, do Ceulp/Ulbra o mini curso Prevenção ao Suicídio e Automutilação, ministrado pela psicóloga clínica e da saúde comunitária do NASF Krahô, Thaydja Rhalline L. Campos e pelo psicólogo, coordenador do Observatório de Violência e do NUPAV, André Felipe Lopes S. A. Araújo. A primeira abordou a conceituação de suicídio e automutilação, alguns sinais e fatores de risco e algumas formas de prevenção. O segundo apresentou alguns dados estatísticos no Brasil.
Inicialmente, Thaydja diz que “o psicólogo não dá conta do suicídio sozinho. É um trabalho em rede”, enfatizando a necessidade em se acionar uma rede de apoio para cuidar de quem está com ideação suicida, que é uma pessoa que “não quer acabar com a vida, mas com o sofrimento”, segundo Thaydja. Essa rede de apoio engloba os diversos profissionais da saúde e também a família, da qual o paciente irá escolher alguém de confiança para ser um ponto de acesso a ele. Em casos de conflitos familiares, o psicólogo deve procurar sensibilizar a família e, caso necessário, procurar uma instância maior para a proteção do indivíduo.
Segundo Thaydja, falar sobre suicídio (morte intencional autoinfligida) e automutilação (ato de se machucar intencionalmente, de forma superficial, moderada ou profunda) ainda é um tabu muito grande, mas isso deve ser quebrado, pois “falar sobre suicídio é uma das poucas formas de prevení-lo”, uma vez que a informação leva a transformação e os indivíduos nessa situação podem entender que não estão sozinhos, que há uma solução melhor que tirar a própria vida.
Dinâmica defina em uma palavra o suicídio
Thaydja informa que 90% das pessoas que cometem suicídio apresentam transtornos mentais, mas 98% das pessoas que possuem transtornos mentais não cometem suicídio, ou seja, o T.M. em si não é a causa, mas está presente. Não há causas preestabelecidas para o suicídio, isso depende da história de cada um e de seus vários pontos de fragilidade. A associação entre dois ou mais fatores aumentam o risco (Exemplo: depressão + alcoolismo).
A psicóloga explica que o suicídio se dá em três fases, sendo a primeira a ideação, na qual a pessoa dá avisos sutis, dizendo, por exemplo, que não tem mais sentido em sua vida, que gostaria de morrer, passando a organizar e planejar a forma de se matar. A segunda fase é o intento, onde ocorre a tentativa de tirar a própria vida, podendo falhar ou levar a terceira fase que é o suicídio com êxito.
Alguns sinais e fatores de risco se dão por condições clínicas incapacitantes, como dor crônica, por condições psicológicas, como problemas familiares intensos, por condições sociodemográficas, como estar desempregado e por transtornos mentais. Thaydja enfatiza que o psicólogo precisa estar atento a esses fatores de risco e aos sinais que o indivíduo transmite.
Como formas de prevenção, ela diz que se deve impedir o acesso aos meios para cometer suicídio, como armas, facas, cordas e medicamentos, realizar vigilância 24 horas, não deixando a pessoa sozinha sob hipótese alguma, sempre procurar atendimento nos serviços de saúde e alguém de confiança deve ficar responsável por dar a medicação na dose e horário corretos, deixando inacessível ao indivíduo. Thaydja também apresenta maneiras que não se deve reagir, como ignorar a situação, ficar chocado ou em pânico com os relatos do indivíduo, falar que vai ficar tudo bem sem agir para tal, desafiar a pessoa a cometer suicídio, fazer o problema parecer sem importância, dar falsas garantias, jurar segredo, deixar a pessoa sozinha e compará-la com outras pessoas.
Em seguida, André apresentou dados mostrando que, no Brasil, a própria casa é o cenário mais frequente de suicídios (61%) seguida pelos hospitais (26%). Os principais meios são enforcamento (47%), armas de fogo (19%) e envenenamento (14%). Em 2016, 71,3% das tentativas de suicídio notificadas se deram entre as idades de 15 a 29 anos. O número de óbitos por suicídio no Brasil cresceu 33,5% desde 2008. Do total de óbitos registrados, 1% é decorrente de suicídio.
Eles finalizam o mini curso com a frase: “não é drama, não é para chamar atenção, nem é falta de Deus e muito menos frescura”, deixando claro que é necessário que haja informação e debates sobre o assunto, e que qualquer sinal sobre suicídio deve ser levado a sério.