“A fotografia é antes de tudo meu ofício, o que tecnicamente sei fazer, mas é também um vetor das minhas ideias, minha forma de comunicação com o mundo”. Bob Wolfenson
O primeiro contato com a fotografia surgiu quando ganhou de seu pai, ainda na infância, sua primeira câmera fotográfica. Criado no bairro judaico do Bom Retiro em São Paulo, Bob Wolfenson sonhava em ser jogador de futebol. Nos anos 1970, aos 15 anos de idade, “caiu de paraquedas” no estúdio da Editora Abril, após a morte de seu pai. Os motivos desse início de carreira nem ele sabe explicar, porém, trabalhou com importantes fotógrafos nacionais como Trípoli, Francisco Albuquerque e Antônio Guerreiro.
Bob Wolfenson por Pedro Bonacina
Anos mais tarde, em Nova Iorque, foi assistente no estúdio do fotógrafo de moda norte-americano Bill King, freqüentado por atrizes como Brooke Shields e Elizabeth Taylor. A experiência lhe deu status e abriu portas. A partir daí passou a colaborar com as principais publicações brasileiras voltadas à moda, além das grandes agências de publicidade internacionais.
Essas vivências possibilitaram a Bob aos poucos imprimir sua marca em seus trabalhos. Nessa mesma época, foi considerado pela Funarte como melhor fotógrafo na categoria arte e teve seu trabalho reconhecido pelo Phytoervas Fashion Awards como melhor fotógrafo de moda. Com Jardim da Luz, seu primeiro livro de retratos, e sua respectiva exposição no Museu de Arte de São Paulo, veio a consagração na década de 1990.
Capa do livro Jardim da Luz
“Quando me deu uma câmera ainda na infância, meu pai, um judeu pernambucano de esquerda, traçou, sem saber, o meu destino. Por força desse sincretismo e com a obstinação própria de um homem idealista, tentou me fazer ver o mundo sem preconceitos ou racismo. Este livro de retratos talvez seja a síntese desse legado deixado por meu pai. Ao justapor algumas vezes imagens e pares antagônicos, quis tornar possíveis certas impossibilidades e vice-versa. Esse jogo, aliado ao prazer de fotografar, foi o guia deste trabalho, e a generosidade dos fotografados, a via de realização”.
Outro momento importante em sua carreira aconteceu nesse mesmo período: as fotos da atriz Maitê Proença em comemoração aos 21 anos da Revista Playboy em março de 1996. Apesar de anteriormente ter realizado outros ensaios para a mesma revista, esse trabalho, segundo Bob, foi um foi um marco, que mudou sua vida como fotógrafo de nu, pois foi o primeiro em que teve a possibilidade de desenvolver um trabalho autoral, de se incluir e não somente “cumprir a cartilha”. O fotógrafo respeita o corpo-outro e desnuda poeticamente sem agredir o nosso olhar. Que mulher não sonha em ser despida pelas lentes de Bob?
Maitê Proença
“O fotógrafo de nu é como um cirurgião. Aquilo pra mim é um evento corriqueiro, vou tratar com importância, mas é meu trabalho. Para quem vai fazer a cirurgia, é o evento da vida. Então, a diferença emotiva é grande. Eu tô calmo e a mulher, em geral, nervosa. Aquela nudez é para o outro, não é para mim. Sou um instrumento do leitor. Sou uma passagem”.
O apuro estético perceptível e a beleza plástica tornam seus trabalhos singulares. Seja num estúdio fotográfico ou em locações externas, num editorial de moda ou um ensaio de nu, numa publicidade ou nas páginas de um livro, percebe-se sua excelência profissional e sua predileção por sujeitos a objetos.
Gisele Bündchen para campanha da Grendene
Ensaio para a Revista Vogue Noivas
“Tudo o que eu vejo, o que eu faço, os livros que leio, os filmes que assisto, as viagens,
tudo isso acaba de alguma maneira influenciando no meu trabalho.
A minha vida é minha influência e procuro não trabalhar com muitas referências de outros profissionais, apesar de tê-las. Quando você coloca a câmera na frente do seu olho,
de alguma maneira você está dando sua opinião a respeito do que está vendo.
Essa opinião é carregada de toda a influência de sua vida.”
Além da sua versatilidade no campo da publicidade (Itaú, L’oreal, Claro, O Boticário, Riachuelo etc.), nas conceituadas revistas e eventos de moda (Vogue, Elle, Photo, São Paulo Fashion Week), no universo dos retratos (capas de discos, retratos de celebridades), Bob mostra-se multifacetado em outros projetos como livros (Encadernação Dourada, Apreensões, Cinepolis), exposições (Bom Retiro, A caminho do mar, Belvedere), concepção de revistas (55 e S/N) e direção de filmes comerciais.
Paola Oliveira para campanha da L’oreal
“Não digo que seja fácil nem que me orgulhe de todos os meus trabalhos; porém observo que, quando estou fotografando, minhas inquietações, formação e personalidade estão ali junto comigo, selecionando o modo de olhar, e acho que sou bem singular nesse sentido porque lido com muitos temas diferentes”.
Suas imagens são contundentes e incitam sentimentos múltiplos. Conseguem tocar o espectador muito além das questões comerciais envolvidas em sua execução. Para o fotógrafo alemão Helmut Newton, “uma boa foto de moda deve parecer tudo, menos uma foto de moda”. Bob consegue traduzir essa afirmação com maestria.
Mariana Ximenes para campanha da Arezzo
Cléo Pires
Rita Lee
Grazi Massafera para campanha da Lince
Famoso por seus retratos, ele consegue de forma direta, crua e seca ressaltar a singularidade dos seus fotografados. Dramaticidade, voyeurismo e cumplicidade são particularidades do seu estilo, porém “essa proximidade quase cirúrgica, ao contrário do que pensa a maioria, não me autoriza maiores intimidades com os meus fotografados”.
Hermeto Paschoal
Luiza Brunet
Pelé
“Acho que os meus retratos são bem característicos, é onde me reconheço mais.
Se tenho algum estilo, tenho nos retratos”.
Dona Cida, Lider comunitária, Cafundó
“Tentativas de explicações a parte, talvez a única coisa que importe mesmo, seja a intensidade emocional contida nestes breves encontros que são as sessões fotográficas, apesar de minha longa experiência, é isso que me mantém fotógrafo. A boca seca e o ritmo do coração alterado”.