Existe idade certa para estar no auge da vida? A velhice chega, mas ela é um fator determinante na nossa vida?
Vitória Cardoso Figueira – vitoriacardoso@rede.ulbra.br
Arlette Pinheiro Monteiro Torres, nacional e internacionalmente conhecida como Fernanda Montenegro. É uma atriz brasileira nascida no Rio De Janeiro – RJ, abriu os olhos para conhecer o mundo em 16 de outubro de 1929. Atualmente com 93 anos, possuindo quase 77 anos de carreira, é considerada a melhor atriz do Brasil. Uma mulher, atriz de longa carreira, que possui grandes prestígios, mãe… o que Fernanda vem nos ensinando?
Carioca, Fernanda desde cedo já se mostrou ativa, aos 8 anos foi a primeira vez que estreou em um palco, em uma peça teatral da igreja. O Gshow, 2021, fez uma homenagem para ela traçando momentos importantes da sua vida, como, com 15 anos começou a trabalhar em uma rádio após ganhar um concurso como locutora da Rádio MEC, de um projeto chamado Teatro da Mocidade e em conjunto com a rádio, trabalhava como professora de português para estrangeiros.
Em uma entrevista para o jornal El País Brasil (2021), fala sobre a escolha do nome artístico, no qual se nomeou no início de sua carreira, “Fernanda”, para ela, tinha um “quê” de romance do século XIX, e o “Montenegro” foi em homenagem a um médico que fazia atendimentos gratuitos para pessoas que menos favorecidas, na zona Norte do Rio de Janeiro.
Com 21 anos, em 1950, foi sua primeira apresentação profissional no teatro, estrelando a peça “Alegres Canções nas Montanhas”. Em 1953 ela se casou com o ator Fernando Torres, e por meio dessa união nasceram a atriz Fernanda Torres e o diretor Claudio Torres. Na década de 60 foi para São Paulo e começou a atuar na televisão, no mesmo período começou a atuar em telenovelas e apenas em 1979 que começou a ser mais notada na TV. No cinema, sua primeira aparição foi em 1964 em uma adaptação do diretor Leon Hirszman de “A Falecida”, obra de Nelson Rodrigues. Em 1998, fazendo a personagem principal, no filme “Central do Brasil”, protagonizou o sucesso e assim foi indicada ao Oscar de melhor atriz.
No Oscar, nossa aclamada atriz não levou a estatueta, mas ganhou o Urso de Prata no Festival Berlim, no mesmo ano, por seu papel como Dora no filme “Central Brasil”. Foi a primeira atriz brasileira a ganhar o Emmy Internacional na categoria de melhor atriz por sua atuação em “Doce de Mãe” (2013).
A atriz recebeu mais de 60 prêmios ao longo da sua carreira. Pairando nos seus 90 anos, Fernanda lançou dois livros, “Fernanda Montenegro: itinerário fotobiográfico” (2018) e “Prólogo, ato, epílogo” (2019) e aos 92 anos, tornou-se a primeira atriz brasileira a ser eleita para ocupar uma das cadeiras da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Fernanda Montenegro, atualmente com seus 93 anos continua ativa no seu trabalho, há muitos anos vinha sendo e continua a ser uma das mulheres mais aclamadas do Brasil, e que não se deixa “abater” por sua idade, já que socialmente nos deparamos com o “descarte” de pessoas assim que o envelhecimento chega. O envelhecimento é um processo que pode variar de indivíduo para indivíduo, devido a vários fatores biopsicossociais, ou seja, a qualidade de vida desse indivíduo como, a saúde física, psicológica e sociais são alguns pontos referente a esses fatores determinantes. E ainda a despeito disso, a velhice ainda é vista como homogênea, estereotipada e a idade sendo como algo decisivo para o envelhecimento (LOTH; SILVEIRA, 2014).
Algo a ser observado é o fato do Brasil ser um país onde o etarismo não recebe tanto destaque para discussão, mesmo existindo pessoas que sofrem/sofreram preconceito referente à sua idade real ou aparente, ainda assim é raro a discussão do tema no país (LOTH; SILVEIRA, 2014). Sistematicamente, pessoas com mais idade, são alvos de discriminação em vários locais pelos estereótipos ligados a velhice (FRANÇA; VAUGHAN, 2009). A velhice e o processo de estar velho não pode ser vista contextualizada apenas de forma cronológica e descontextualizada. Estatísticas, a sociedade e pessoas em contextos sociais resumem a velhice a partir de critérios objetivos, mas são poucos os exemplos de pessoas que se identificam dentro desse critério (LOTH; SILVEIRA, 2014).
Segundo Messy (1999) isso deve-se pela contraposição entre a percepção e a vivência. Pessoas idosas tendem a se enxergarem como mais jovens e assim ignorando os indícios que a idade oferece. Fernanda nos mostra que não existe idade para parar, idade não é um fato paralisante, com ela somos capazes de enxergar acima o estigma da idade e que as pessoas são resumidas a esse fator.
É importante também dizer que o gênero e sexo incluem-se dentro da perspectiva da velhice e como ela é vista socialmente. Sendo assim, pode-se dizer que a vivência da velhice se difere dentro dos gêneros, para homens e mulheres há dois pesos e medidas para cada sexo e gênero (FERNANDES et. al, 2015). A família, pessoas importantes e as interações sociais, saudáveis, são fundamentais são fatores de suma importância para o desenvolvimento de uma qualidade de vida para o idoso. As relações de trabalho, familiar e pessoas querida podem contribuir para uma resiliência individual nas pessoas idosas e até mesmo ser um suporte social que muitos não tem (GALICIOLI; LOPES; RABELO, 2012)
Arlette, mais conhecida como Fernanda Montenegro, é uma mulher de muito prestígio e que ainda se encontra nesse lugar. Ela nos convida a olhar para o tema “idade” de uma forma diferente, olhar como ela deve ser olhada, que pessoas são muito além da idade na qual elas tem. Em qualquer estágio da vida, somos seres que necessita de cuidados e reparos, de tal modo, percebe-se o equívoco que se comete ao reduzir um indivíduo a um estágio de sua vida.
REFERÊNCIAS:
Fernanda Montenegro faz 92 anos! Veja curiosidades sobre a nossa dama do teatro. Gshow. 2021. Disponível em: <https://gshow.globo.com/tudo-mais/tv-e-famosos/noticia/fernanda-montenegro-faz-92-anos-veja-curiosidades-sobre-a-nossa-dama-do-teatro.ghtml>. Acesso em 01 de abril, 2023.
Fernanda Montenegro: “Tudo já é meio despedida para mim. Uma hora acaba”. El País Brasil. 2021. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/cultura/2021-12-03/fernanda-montenegro-tudo-ja-e-meio-despedida-para-mim-uma-hora-acaba.html> Acesso em 01 de abril, 2023.
FERNANDES, Juliana et al. Gênero, sexualidade e envelhecimento: uma revisão sistemática da literatura. Clínica & Cultura, v. 4, n. 1, p. 14-28, 2015. Disponível em: <https://seer.ufs.br/index.php/clinicaecultura/article/view/3403> Acesso em 15 de abril, 2023.
FRANÇA, L. H. de F. P; VAUGHAN, G. Ganhos e perdas: atitudes dos executivos brasileiros e neozelandeses frente à aposentadoria. Psicol. Estud. Paraná, v. 13, n. 2. 2009.
GALICIOLI, Thaisa Gapski Pereira; DE LIMA LOPES, Ewellyne Suely; RABELO, Dóris Firmino. Superando a viuvez na velhice: o uso de estratégias de enfrentamento. Revista Kairós-Gerontologia, v. 15, p. 225-237, 2012. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/kairos/article/view/17048> Acesso em 15 de abril, 2023.
LOTH, Guilherme Blauth; SILVEIRA, Nereida. Etarismo nas organizações: um estudo dos estereótipos em trabalhadores envelhecentes. Revista de Ciências da Administração, v. 16, n. 39, p. 65-82, 2014. Disponível em:<https://periodicos.ufsc.br/index.php/adm/article/view/2175-8077.2014v16n39p65> Acesso em 01 de abril, 2023.
MESSY, J. A pessoa idosa não existe.Aleph, 2. ed. São Paulo,1999.