Nascido em 28 de outubro de 1933, Manoel Francisco dos Santos – o popular Mané Garrincha – é um dos principais nomes do “panteão dos grandes” do futebol mundial, reconhecido em todas as esferas históricas da Fifa (a polêmica e toda poderosa congregação mundial do futebol com sede na Suíça) como um atleta controverso, mas extremamente talentoso cuja atuação extrapolou os limites do futebol e acabou por marcar, inclusive, o imaginário de gerações de amantes do esporte.
Fotos: Foto-net/Fifa.com
A exemplo de outros grandes nomes em diferentes áreas de atuação, e em decorrência de um estilo de vida que desafia qualquer limite – afinal, quão difícil deve ser para um gênio suportar a contingência da vida –, Garrincha morreu jovem, com apenas 49 anos em janeiro de 1983. Em menos de 5 décadas, no entanto, suscitou as mais espantosas reações em todas as partes do globo. “Afinal, de que planeta ele veio”, teria questionado um jornalista chileno, sobre as habilidades do jogador.
Garrincha imprimia em campo algumas de suas características mais marcantes, como a imprevisibilidade, a agilidade, a velocidade e “uma inteireza de presença” que o tornava famoso não apenas no gramado, mas também entre integrantes da torcida feminina. E foi com este perfil que Mané Garrincha ajudou o país a conquistar dois campeonatos mundiais, o de 1958 (Suécia) e de 1962 (Chile). “Se, para os brasileiros, Pelé é o jogador tecnicamente perfeito, Garrincha será lembrado para sempre como o atrevimento em pessoa”, lembra a Fifa, no perfil dedicado ao ídolo. “Ousado, alegre e divertido, o ponta-direita arrancou sorrisos de milhares de torcedores em todas as suas atuações”, complementa.
Infância
Garrincha nasceu de família humilde em Magé, região metropolitana do Rio de Janeiro. Recebeu este apelido em decorrência de uma espécie de passarinho – de mesmo nome – que havia em grande quantidade naquelas plagas.
Desde pequeno se interessava pelo futebol, mas além de enfrentar as limitações financeiras também teve de “encarar” outro grande desafio, um problema físico. Com a perna esquerda seis centímetros mais curta que a direita, “nas visitas aos médicos, era sempre aconselhado a esquecer das ‘peladas’”. Por ironia do destino – ou por avidez e perspicácia do futuro jogador – foi justamente esta característica que o fez ter uma atuação originalíssima, responsável por encantar multidões.
As pessoas que conheceram o Garrincha menino não poderiam acreditar que aquele “moleque magro, manco, com os pés curvados e a coluna torta” poderia ter alguma chance nos clubes profissionais de futebol. E foram muitos os times que não se interessaram pelo craque, de cara por considerar que seu problema físico seria um empecilho irremediável. Até que, em 1953, por recomendação de um grande nome do futebol à época – Nilton Santos –, finalmente Garrincha é contratado pelo Botafogo, e num dos primeiros treinos provou que não estava para brincadeira ao humilhar o próprio Nilton Santos “com os seus dribles que mais pareciam números de mágica”.
E foi no Botafogo que “o ponta exibiu todo o seu repertório contra os defensores adversários e cansou de enganá-los com as suas arrancadas imprevisíveis”. O resultado foi imediato e a torcida logo se rendeu ao talento de Mané Garrincha, que também passou a ser conhecido como “A Alegria do Povo”.
Sucesso
Da atuação no time carioca para a defesa do país pela Seleção Brasileira o percurso de Garrincha foi rápido. Em 1955 o jogador disputa seu primeiro jogo, num duelo de Copa do Mundo contra o Chile que terminou em empate de 1 a 1. “Ao todo, com a camisa canarinha, foram 60 partidas e 17 gols. Apenas cinco anos depois de estrear na primeira divisão do Rio, ele se tornou campeão mundial na Suécia 1958”, lembra a Fifa.
Foi na Seleção que Garrincha passou a ser mundialmente conhecido ao compor um ataque que para muitos ainda é considerado como a melhor formação que os canarinhos já apresentaram. Na Copa da Suécia e ao lado de Didi, Vavá, Zagallo e Pelé (naquela época, com apenas 17 anos), Garrincha e a equipe brasileira pareciam imbatíveis. A equipe brasileira tornou-se, então, “a primeira campeã fora do seu continente a levantar a taça de forma invicta”.
Quatro anos depois, no Chile (1962), Garrincha conseguiu “espantar” o mundo com seus dribles excepcionais. A repercussão mundial das facetas do ídolo recebeu a ajuda da nascente e crescente transmissão pela TV. A atuação brilhante no Chile e a “conquista do bicampeonato mundial engrandeceram ainda mais a carreira do atacante do Botafogo no Brasil, onde muitas pessoas o consideram o segundo melhor jogador da história do país”, lembra a Fifa.
Garrincha ainda jogaria na Copa da Inglaterra, em 1966, sua última participação em uma Copa. Mas a campanha brasileira, sob a batuta do técnico Vicente Feola, foi uma das mais desastrosas. O país é eliminado já na primeira fase por duas seleções europeias, a de Portugal e da Hungria. O torneio parecia ser um prelúdio para o que viria ocorrer na própria vida do craque Mané Garrincha.
Decadência
Apesar de ter superado suas limitações físicas e de ter se tornado um dos maiores dribladores do mundo, com uma destreza inconfundível, no final dos anos 60 e toda a década de 70 Garrincha “se perdeu em uma vida tumultuada e cheia de vícios”. O “anjo de pernas tortas” – denominação que recebeu de Vinícius de Moraes – perdia a guerra para o consumo de álcool. “Apesar da incrível habilidade nos gramados, ele não conseguiu driblar o seu notório alcoolismo e o persistente gosto pela vida boêmia, que impediram um final à altura da sua brilhante carreira”, lembra a Fifa.
Esquecido e “judiado” por uma cirrose decorrente dos excessos, Mané Garrincha morre em 20 de janeiro de 1983. “O seu corpo foi velado no Maracanã, onde milhares de torcedores lhe deram o último adeus. Beijado por muitos, o seu caixão estava coberto pela bandeira do Botafogo”. Se estivesse vivo, contaria com 81 anos. Provavelmente estaria orgulhoso tanto dos cinco títulos conquistados pelo Brasil, quanto pelo país ser o centro do global do futebol ao realizar a 20ª. Copa do Mundo da Fifa. Na memória dos brasileiros, fica o registro de um atleta que, antes de tudo e para o bem ou para o mal, impingia garra e paixão em suas atitudes.
O anjo de pernas tortas – Vinicius de Moraes (1962)
A um passe de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dribla dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento.
Vem-lhe o pressentimento; ele se lança
Mais rápido que o próprio pensamento,
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pés – um pé de vento!
Num só transporte, a multidão contrita
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.
Garrincha, o anjo, escuta e atende: Gooooool!
É pura imagem: um G que chuta um O
Dentro da meta, um L. É pura dança!
Marcos Vinicius da Cruz e Mello Moraes, ou Vinicius de Moraes (Rio de Janeiro, 19 de outubro de 1913 – Rio de Janeiro, 9 de julho de 1980)
Carreira como jogador
Conquistas pela seleção
– 50 partidas pelo Brasil, com 12 gols
– Copa do Mundo da FIFA Suécia 1958, campeão
– Copa do Mundo da FIFA Chile 1962, campeão
– Copa do Mundo da FIFA Chile 1962, melhor jogador e artilheiro (quatro gols)
– Copa do Mundo da FIFA Inglaterra 1966, primeira fase
Clubes
– 1953 – 1966: Botafogo
– 1966 – 1967: Corinthians
– 1967 – 1968: Barranquilla (Colômbia)
– 1968 – 1969: Flamengo
– 1969 – 1971: Red Star (França)
– 1972 – 1973: Olaria
Conquistas pelos clubes
– Campeão carioca em 1957, 1961 e 1962
Referências:
Garrincha: Era mais do que apenas um (conteúdo da Fifa)– Disponível emhttp://pt.fifa.com/classicfootball/players/player=63868/ – acessado em 13/06/2014 .
Garrincha – biografia do UOL. Disponível emhttp://educacao.uol.com.br/biografias/garrincha.jhtm – Acessado em 14/06/2014.
O Anjo de pernas tortas. Disponível em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2010/06/16/o-anjo-de-pernas-tortas-vinicius-de-moraes-298906.asp – acessado em 14/06/2014.