Hebe de Bonafini – 30 mil pessoas foram torturadas e mortas no período da ditadura militar argentina.
Foto: Rodrigo Correia
Na Praça de Maio, em Buenos Aires, reúne-se um grupo de mulheres, com lenços brancos na cabeça.
São idosas, são de todos os cantos do país e são mães. E são mães.
A primeira reunião destas senhoras foi espontânea, eram mulheres que procuravam por seus filhos.
Eram mães que procuravam por seus filhos.
As Mães da Praça de Maio, como ficaram conhecidas as mulheres, se reúnem ali toda quinta-feira.
Toda quinta-feira é dia das mães.
Uma delas, vinda do interior, procurava por seu filho Jorge, em 1977 ela procurava seu filho mais velho que havia desaparecido.
Hebe de Bonafini tinha então 49 anos.
A procura de Hebe por Jorge – e depois por Raúl, seu filho mais novo e María, sua nora – já dura 35 anos.
Não há mãe que não espere seu filho com o coração apertado.
Os militares, responsáveis pelo sumiço dos filhos de Hebe, diziam que o grupo de mulheres eram “As loucas da Praça de Maio”.
Talvez o normal fosse esquecer, mas qual mãe esquece?
Eu conhecia Hebe de Bonafini antes mesmo de estar com ela.
Tinha visto aquela expressão em outros rostos.
Porque todas as mães têm na face de um amor que não cabe nelas.
Mas quando estive com ela, quando vi os cabelos brancos que o pañuelo também branco esconde, pude perceber algo mais.
As mães também tem um sofrimento que não cabe nelas.
Em Córdoba, em outra praça, Hebe discursava a uma pequena multidão.
Com ela, outras senhoras, outras esperas. 30.000 filhos – e também pais, mães, irmãos – são esperados.
Muitos dos que ouvem as palavras de Hebe não tinham idade para ter visto os horrores e a violência que aconteciam durante a ditadura argentina.
Mas ela não falava só do sequestro de seus filhos.
Era uma mãe que falava da fome, do desemprego, da falta de educação, do crime.
Ela falava do que faz crianças sumirem hoje.
“Estão vivos, estão vivos sim, todos os ideais dos desparecidos estão vivos!”.
Hebe diz ao microfone.
E os jovens que a ouvem aplaudem.
Hebe Pastor de Bonafini tem 83 anos.
Ela é uma mãe argentina que tem agora muitos filhos. Amor de mãe não é nenhum mistério.
É só amor demais.