Panorama do Impacto das Desigualdades Sociais na Saúde das Pessoas

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Este trabalho foi desenvolvido como sendo parte da disciplina de Antropologia do curso de Psicologia do CEULP/ULBRA, dos quais diversos assuntos que envolvam diretamente e indiretamente o ser humano em sua cultura e o contexto que ele está inserido farão então que ele haja de determinada maneira. Sendo assim, o tema escolhido para investigar o ser humano durante essas relações e o resultado delas foi a desigualdade social. O conceito de desigualdade social compreende diversos tipos de desigualdades, desde desigualdade de oportunidade, resultado, até desigualdade de escolaridade, de renda, de gênero, etc (CAMARGO, 2011).

As desigualdades sociais abordadas no livro de Barata são claras e remetem o estado de saúde de determinados grupos, características sociais, socioeconômicas, raça, gênero, condições de moradia, entre outros. Para Santos (2008), nessa conjuntura, reatualiza-se a necessidade de compreender dos elementos que interferem nas relações entre desigualdades sócias e saúde. Quando se fala em desigualdade social neste tipo de situação leva-se em consideração a injustiça, ou seja, elas são relacionadas a aspectos sociais que definem os grupos vulneráveis, sem oportunidades de mudar esse vaticínio e ser manterem saudáveis.

De acordo com Heller (1998), deixar de aplicar as regras de forma igual aos membros de um grupo, que exige este procedimento, é entendido como uma forma de injustiça e desigualdade. Da mesma forma que as regras sociais são fabricadas socialmente, elas podem também serem interpeladas, se forem consideradas formas de injustiça, mas, o pensamento irrevogável de justiça não pode ser questionado. A execução de regras, também pode ser injusta lidando com casos iguais de forma diferenciada, o que é feito de modo proposital e ideológica, sendo considerado uma injustiça.

Fonte: encurtador.com.br/cOST1

O direito à saúde e a sua importância é vista pelo relativismo dentro de vários países. Há aqueles que acham a saúde tem menos importância que uma educação adequada, outros acham que só quem trabalha arduamente e tem como pagar os serviços de saúde são quem deveriam utilizar-se deles. O governo tal como é, deveria empregar saúde de qualidade para todos, pois cabe a ele e somente a ele cuidar do bem-estar de todos na sociedade, não apenas por haver leis mais porque a entidade que detêm o poder de atuar de todas as formas possíveis na sociedade é quem deveriam efetuar esse papel e porque os cidadãos pagam muitos impostos para que isso tudo seja feito por eles. Porém, na prática deixam muito a desejar e as classes injustiçadas sofrem com a má gestão desses recursos e ficam a mercê de uma saúde precária e insolúvel.

Quais as teorias disponíveis para entendermos as desigualdades sociais em saúde?

São quatro teorias que sustentam essa tese, contribuindo para compreender o seguimento que a saúde, os problemas e a divisão do estado de saúde na sociedade. A primeira seria os princípios do estruturalismo ou materialista, pregando maior valor a organização econômica da sociedade. Essa ideologia preconiza que o dinheiro, renda, toda as riquezas de um país determinam o tipo de saúde desse país. Se algo acontecer com os recursos dessa sociedade para atrair fatores estressantes a vida da população, causando doenças e patologias nesses indivíduos.

Todavia, essa teoria tem uma falha, da qual não foi resolvida, nem todos os país ricos economicamente, são de fato ricos em saúde, por exemplo a China é umas das sete maiores economias do mundo, embora seu posto de nação rica esteja a cada ano se intensificando mais, seus índices de pobreza, educação, saúde e IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), deixam muito a desejar, não chega nem entre os 50 maiores do planeta.

A segunda teoria relevante para se entender essa ocorrência é a psicossocial.  Ela leva a importância de se perceber a desvantagem social como a nascente desse processo de adoecimento nas pessoas. Quando um país sendo ele desenvolvido ou não assisti as pessoas nas suas condições básicas como, saúde, alimentação, lazer, seguranças etc., a probabilidade de essas pessoas desenvolverem problemas de saúde são menores do que as populações que não recebem o básico para viver bem e saudável. Nos países de origem latina a teoria que permeia a explicação dessas desigualdades sociais é a de determinação social. Ela aborda o problema de forma a excluir somente essa questão de pobreza e pensa na perspectiva de isso depende da inclusão social ou exclusão da mesma.

Fonte: encurtador.com.br/prvUZ

Por fim, temos a teoria ecossocial, do qual diz que é permanentemente improvável desjuntar o biológico, o social e o psíquico, pois para ela a epidemiologia social se distingue pela insistência em investigar explicitamente os determinantes sociais do processo saúde-doença (Barata, 2005) e ainda o que distingue a epidemiologia social das outras abordagens epidemiológicas não é a consideração de aspectos sociais, pois, bem ou mal, todas reconhecem a importância desses aspectos, mas a explicação do processo saúde-doença.

Segundo Krieger (2001), o estado de saúde atual dos indivíduos resulta das trajetórias de desenvolvimento pessoal ao longo do tempo, conformadas pela história de uma referida ao contexto social, econômico, político e tecnológico das sociedades onde tais trajetórias se desenvolveram. Assim, as quatro teses tentam entender essa relação de doença e saúde, através de um processo histórico, do qual não somente o homem pode ser protagonista desse contexto mais existem inúmeros fatores que influenciam as desigualdades sociais no que tange a saúde das pessoas.

Ser rico faz bem à saúde?

Normalmente fatores de riqueza favorecem com que as vida dos sujeitos dentro da sociedade seja mais fácil, em relação a saúde há essa conjectura de que quem tem mais condições financeiras, consequentemente terá saúde. Porém, como já foi observado anteriormente no trabalho, o nível econômico de um país não determina o nível de saúde de uma nação. Isso, vale também para as pessoas, pois existem sujeitos que gastam dinheiro com moradia, lazer, alimentação e afins, mas podem não gastar tanto com saúde. Garcia (2003, p.10) cita que:

Foram criadas riqueza e renda suficientes para produzir alterações significativas nas condições de vida da grande massa da população brasileira que é carente de tudo. No entanto, a riqueza existente, a produzida e a renda criada sempre foram apropriadas concentradamente por minorias que sofrem de um estado crônico de “ganância infecciosa”.

Fonte: encurtador.com.br/bswL6

Os resultados obtidos nas desigualdades sociais afetam os mais pobres e desamparados pela sociedade, contudo outras camadas das sociais podem ser afetadas, pois a vida em comunidade fica desgastada, as pessoas passam a ter desconfiança uma das outras, perdem o sentido de cooperação, gera individualidade e encaminha muitas delas para a criminalidade. Logo, a saúde não pode ser estabelecida através da boa vontade de pessoas que trabalham nessa área, é necessário que haja mais ações públicas voltadas para melhorar a saúde dos indivíduos e consequentemente diminuir essas desigualdades sociais, buscando subdividir os recursos destinados a essa área e também em outras que possam influenciar o aperfeiçoamento da vida saudável das pessoas.

As desigualdades étnicas, gênero e políticas para enfretamento das desigualdades

As desigualdades e em especial as étnicas são muitas vezes atribuídas a uns determinados fatores, sócias, econômicas, escolaridade, ideológico e outros que geram resultados desastrosos nas vidas das pessoas que sofrem desse mal. Associando esse contexto à saúde percebe-se que os indivíduos que mais padecem sem saúde básica são os de etnias mais pobres, essas pessoas são em sua maioria desvalorizadas no seio social por se encontrarem em contextos diferentes e o resultado desses aspectos são colocados em cheque na hora de determinar quem irá receber serviços de saúde da melhor espécie.

Quando falamos de gênero levamos em conta questões biológicas, masculino e feminino e não de sexo. Para Barata (2005), os impactos das desigualdades de gênero nas sociedades modernas, bem como os problemas decorrentes do racismo e da discriminação de grupos étnicos minoritários, têm sido estudados a partir dessa abordagem (ecossocial). Assim, falar sobre esse tipo de descriminação mais uma vez aponta para questões sociais dentro dos âmbitos vividos. No panorama hodierno social o gênero é pautado como quem domina melhor a dinâmica social no mundo, quem ganha mais, trabalha melhor, recebe mais respaldo científico e as glorias globais.

Dessa forma, não tem como determinar quem irá vencer essa disputa e o que resultará de todo esse empate que permeia a muitas gerações, e como continuará essa dinâmica de saúde e doença nesses gêneros. De acordo com a Vasconcelos (2017) da revista mundo estranho no mundo nascem mais ou menos 105 homens para cada 100 mulheres e segundo várias pesquisas na área de gênero analisaram que morrem mais homens do que mulheres, para Andrade (2010), a maior diferença entre os sexos foi observada nas mortes pelas causas violentas ou causas externas. Mostrando que os homens se preocupam menos com a saúde do que as mulheres e praticam mais violências do que elas, levando eles a serem ainda mais exposto a fatores de riscos.

Fonte: encurtador.com.br/iqACI

Na obra da Rita elas fornece dados de um estudo que foi desenvolvido para entender e analisar os casos de descriminação social e como isso afeta a saúde das pessoas. Um dos aspectos pertinentes dessa pesquisa é quando ela menciona que genitoras na fase da adolescência, com poucos recursos financeiros e que fumam, dispõem de filhos com problemas respiratórios, peso abaixa da média, do que mães mais velhas e que não apresentam nenhum dos outros fatores de risco para a criança.

Para minimizar os danos ocorrido a essas crianças, o que poderia ser feito é que essas mães parem de fumar, para que o bebê ganhe mais peso e o fator de pobreza tem que ser melhorado com ações públicas, voltadas para alimentação de ambos. Portanto, é preciso identificar os fatores de riscos e de descriminação dessas pessoas, para depois traçar mecanismo que diminuem a incidência desses aspectos que prejudiquem a saúde e vida das mesmas.

 Considerações finais

As desigualdades sociais existem há milhares de anos e elas influenciam cada vez mais a vida e saúde das pessoas nos ambientes vividos. Embora, seja importante ter postura e bom senso em relação a essas questões, nem sempre é o suficiente cada um fazer apenas sua parte. Compreender como desenvolve essas dinâmicas na prática e depois elaborar estratégias de melhoria dessa realidade é apenas uma das alternativas para diminuir essas desigualdades e depois melhorar a saúde para elas.

Utiliza-se da elaboração de medidas públicas voltadas para essa situação também é um norte, muitas pessoas sabem que existem algumas alternativas, mas elas não querem ir atrás ou simplesmente não se importam mais com os fatos ocorrido na vida, dano cada vez mais desculpa para não se preocuparem ainda mais com sua existência. Contudo, os filhos ou membros dessas famílias acabam entrando da mesma forma nessas características, pois sem verem alternativas práticas na realidade de suas vidas tendem a não se importarem também e geram cada vez mais riscos a eles mesmos.

Dentro do curso de Psicologia, aprendermos que como cada um possui sua própria subjetividade eles estão também sempre a mercê de suas próprias escolhas e ações, o profissional de saúde mental irá ajuda-los a sistematizar as questões do por que isso afeta a vida delas e a saúde das mesmas, mas não dano respostas prontas como eles as vezes querem, e sim fazendo com os indivíduos consigam com suas próprias ações mudar suas vidas. Na disciplina de Antropologia, podemos perceber essa relação que o homem estabelece com sua cultura, etnia, gênero, convicções e outras características sociais, influenciam em todos os aspectos da vida delas e como elas irão agir diante desses dilemas sociais.

 

 

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CAOS: Tocantins é o 4º estado que mais fiscaliza e bane trabalho escravo

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No dia 21 de agosto de 2017, ocorreu na sala 219 do Ceulp/Ulbra, o mini curso Violência e Sofrimento Psíquico no Trabalho, ministrado pela Psicóloga Profa. Dra. Liliam Deisy Ghizoni, doutora em Psicologia Social do Trabalho e das Organizações na UnB com Estágio Sanduíche na Université Catholique de Louvain la Neuve–Bélgica, professora da Universidade Federal do Tocantins.

Ghizoni enfatizou o trabalho escravo contemporâneo, que ocorre tanto no meio rural quanto no meio urbano. Segundo ela, a escravidão ainda é vista pelo viés histórico pela maioria das pessoas, que imaginam negros em senzalas, acorrentados e chicoteados. Mas a escravidão contemporânea existe, e ocorre onde menos se imagina, quando há excesso de trabalho e condições insalubres para tal, sendo o próprio trabalhador quem se deixa escravizar, principalmente por questões financeiras.

Imagem: Nirsan Grillo em “Escravidão Contemporânea no Brasil”.

Liliam diz que o Tocantins é o 4º estado que mais fiscaliza e bane trabalhos análogos à escravidão. Cita ainda uma pesquisa feita por uma de suas alunas, que entrevistou alguns trabalhadores, dentre eles um bancário, que durante a jornada de trabalho não levantava para ir ao banheiro e nem para beber água, mas quando questionado sobre a sua posição, ele afirma não se ver enquadrado na categoria de trabalho escravo contemporâneo.

Sobre violência no trabalho, a professora diz que é toda ação voluntária de um sujeito ou grupo contra outro sujeito ou grupo que venha a causar danos físicos ou psicológicos, ocorrida no ambiente de trabalho e comenta que a meta é uma violência infligida ao trabalhador, pois é inatingível.

Há duas dimensões básicas da violência, sendo a explícita, que é direta e objetiva e a oculta, que é implícita, indireta e subjetiva. A finalidade da violência é conservar as estruturas de injustiça, de opressão e de privilégios de uma minoria em detrimento das esperanças de vida digna de uma maioria.

Segundo Liliam, “o silenciamento faz com que a violência se reproduza”, diante disto é necessário que o trabalhador conheça seus direitos, reivindicando-os sempre que necessário, pois a violência no trabalho leva ao sofrimento psíquico no trabalho, que por consequência leva aos diversos tipos de adoecimento.

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Batman v Superman: os heróis lidando com o trauma e a melancolia

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Em 2014, quando foi anunciado pela primeira vez o título oficial do filme Batman v Superman: A Origem da Justiça, previa-se um sucesso impactante na indústria de adaptações das histórias em quadrinhos. O filme é dirigido por Zack Snyder (de 300, Watchman e de seu antecessor Man of Steel) e chegou às telas do cinema mundial em março de 2016, tendo um elenco de peso com nomes como Ben Affleck, Henry Cavill, Gal Gadot e uma responsabilidade gigantesca quanto aos fãs de histórias em quadrinhos: retratar a Trindade Sagrada da DC Comics de um modo inovador e avassalador, além de apresentar a trama de toda uma sequência de filmes que se seguira até 2020.

No longa, Batman questiona a índole de Superman, e vê o Homem de Aço como uma ameaça a toda humanidade devido a seu poder demasiado grande; no meio do conflito dos dois heróis, o antagonista Lex Luthor manipula as peças para que tudo ocorra a seu favor e vontade. Com aproximadamente 151 minutos de duração em sua versão para as telonas, o filme ainda está em cartaz, por isso, se ainda não viu, corra para os cinemas, pois o texto contém Spoilers de alguns pontos cruciais para a trama.

A película foi um sucesso para muitos fãs e gerou polêmica nas mídias. A crítica ficou extremamente dividida entre ódio e amor profundo, notas boas ou extremamente ruins, mas esse texto não se trata de uma crítica e, sim, uma espécie de análise dos muitos pontos viáveis às mesmas que estão presentes no filme.

Superman

Ao analisar separadamente os protagonistas, destacar primeiramente o caso de Superman se faz necessário, levando-se em consideração o fato de Batman v Superman dar sequência a Man of Steel, filme que como mencionado antes também tem como diretor Snyder e busca nos recontar as origens do Homem de Aço. Para o entendimento completo da trama contada em Batman v Superman se faz necessário assistir Man of Steel.

Grande parte da humanidade admira Superman

Superman (Henry Cavill), ou para os mais fanáticos Kal-El, está a dezoito meses agindo como super-herói e vivendo sua vida dupla humana, usando a identidade do repórter Clark Kent, logo após a tentativa de invasão ao planeta Terra no filme anterior (Man of Steel). Ele voa por aí salvando vidas, apagando incêndios e tirando gatos de cima das árvores enquanto lá embaixo, em terra firme, o mundo lida com as consequências do salvamento do mundo, que com toda a certeza foi no mínimo conturbado – afinal, a cidade de Metrópoles foi praticamente dizimada por inteiro na luta entre Superman e Zod (o vilão de Man of Steel).

O Homem de Aço é uma figura controversa, em alguns momentos do filme ouvimos a frase: “Realmente precisamos do Superman? ”; A humanidade teme os poderes de Clark, teme sua capacidade e é aí que os conflitos se iniciam em sua mente. Ele se vê sozinho no universo, pois foi forçado a dizimar o que restava de sua espécie em detrimento do bem para a humanidade. Agora, sendo membro de uma raça em extinção, Clark se encontra em meio a um dilema entre seus poderes, a responsabilidade (ou a não responsabilidade) de usá-los para fazer o bem, a discordância quanto à ação do misterioso Morcego de Gotham e as pessoas que o rejeitam por medo dos ocorridos em Metrópoles – realmente não é todo dia que alguém destrói uma cidade com as próprias mãos.

Batman

As cenas iniciais de Batman v Superman nos mostram um velório, logo após isso vemos que uma criança está assistindo ao enterro dos pais – nesse momento decorre uma cena interessantíssima onde essa mesma criança cai em um buraco cheio de morcegos, guarde essa informação; em sequência há um salto no tempo e o espectador é lavado há alguns meses (dezoito meses) antes do tempo presente no filme, ali é possível observar a batalha ocorrida em Metrópoles por outra ótica.

Dessa vez o evento é mostrado pelos olhos das pessoas que estavam na cidade durante o embate, assistindo de perto a destruição causada pela luta entre Superman e Zod, e é nesse instante – cena que de certa forma chega a ser assustadora, pois da perspectiva de quem está nas ruas, os destruidores o fazem sem piedade – que nos é apresentado de fato o outro protagonista do filme, Bruce Wayne, o Batman (Ben Affleck). Bruce estava na cidade indo para uma das sedes de sua companhia, viu toda a destruição e o impacto negativo da salvação que o Homem de Aço estava trazendo.

Bruce durante a Batalha de Metrópoles

Bruce Wayne agiu em segredo por quase duas décadas como vigilante em Gotham no passado e para ele, mesmo Clark salvando o mundo, ele é o “miserável que trouxe a guerra a nós”. Bruce simplesmente não consegue confiar em Superman, pois para ele seu poder imensurável é instável e em sua mente ele tem o dever de combater esse ser que pode vir a se tornar uma ameaça. É nesse ponto que o filme se fundamenta, se enganando quem pensa que é uma luta injustificada, com muita computação gráfica e ação. Não, com toda certeza não: Batman v Superman retrata um conflito de ideais entre os protagonistas, conflito que visa colocar em xeque a opinião de quem está assistindo e percorre o filme de ponta a ponta.

Trauma e Melancolia

Para falar de fatos que marcariam a vida do Cavaleiro das Trevas é interessante analisar não só as cenas do filme, mas também olhar para a fonte de inspiração delas: as histórias em quadrinhos. Dependendo do autor ou no caso de filmes, o roteirista, existem diferenças tênues quanto ao passado de Bruce e a sua gênese como Batman. Porém, um fato é sempre recorrente: os pais dele morrem quando o mesmo era uma criança; Bruce a partir desse ponto passa a ser criado por seu mordomo Alfred, este que ocupa a função de mentor, guiando-o à medida que se desenvolve.

Bruce e Alfred 

Após a morte de seus genitores, ele fica obcecado por vingança. Com a ajuda desse novo mentor, treina durante o resto de sua infância e adolescência para poder combater o crime no futuro. Quando se torna adulto, começa então a agir como Batman, adota o símbolo do morcego, este se tratando de outro trauma – como dito anteriormente ele cai em uma espécie de buraco quando ainda era criança, lá é atacado por morcegos e esse episódio marca o jovem Bruce profundamente, fazendo-o levar esse medo consigo daí em diante.

Sigmund Freud, ao escrever sobre a melancolia, explica que ela

se caracteriza, em termos psíquicos, por um abatimento doloroso, uma cessação do interesse pelo mundo exterior, perda da capacidade de amar, inibição de toda atividade e diminuição da autoestima, que se expressa em recriminações e ofensas à própria pessoa e pode chegar a uma delirante expectativa de punição. (Freud, 1917)

Bruce Wayne do filme atuou como Batman secretamente por muitos anos e nos é mostrado como um sujeito melancólico e perturbado por todo o passado e as marcas em sua personalidade. Ele sofre de pesadelos com o túmulo dos pais, morcegos carnívoros gigantes, possíveis futuros apocalípticos como consequência da realização de suas paranoias, entre outras coisas que algumas vezes o fazem titubear na hora de pensar com clareza. Somando isso ao fato de ele rememorar constantemente a cena de seus pais morrendo – guarde essa informação também – tem-se como resultado um indivíduo que sofre psicologicamente com toda essa carga de conteúdos traumáticos em sua mente.

Um dos sonhos de Batman durante o filme, esse porém, tem um tom profético aos fãs

Agora tratando do Superman, em um panorama geral das mídias (quadrinhos e filmes), pode ser até uma surpresa para alguns, mas a história de Kal-El é tão pesarosa quanto a de Batman. Clark é o último filho de seu planeta, Krypton, que foi dizimado devido a um desastre natural. Antes de o planeta entrar em colapso seus pais o colocaram em uma espécie de espaçonave feita para viajar milhares de anos-luz, com o objetivo de chegar a Terra, onde foi achado por Jonathan e Martha Kent e batizado como Clark Kent. Aqui o jovem Clark cresceu, descobriu seus poderes e começa a agir como super-herói. Ele perde os pais terráqueos alguns anos depois; na versão mais recente das HQs em um acidente de carro e no filme Man of Steel, o Sr. Kent morre durante um tornado.

Momento da morte de Jonathan Kent, pai de Clark. Cena de “Man of Steel”

Em Bartman v Superman a origem dessa carga traumática na mente de Clark vem do filme anterior, pois ele foi forçado a dizimar os membros remanescentes de sua raça, em vista de que eles desejavam dominar o planeta e escravizar os humanos. A partir dali, quando a trama do filme atual se desenrola, ele se viu sozinho no Universo, mas ainda assim com um planeta inteiro de pessoas para ajudar, pessoas que passaram a depositar adoração messiânica nele, outras também que questionaram seus atos de boa-fé e o atacaram com palavras, chegando a despreza-lo e tentar o expulsar do planeta. O Superman desse filme é com toda a certeza o mais humano já retratado: ele sente angústia por ser injustiçado, sente raiva por falaram mal dele, sente amor por sua companheira Lois e por sua mãe de modo descomunal – e o que mais revoltou algumas pessoas – ele está sim sujeito a ser manipulado.

Clark e o vilão Zod, ao fim da Batalha de Metrópolis. Cena de Man of Steel

“Martha? Porque disse esse nome!?”

Bum, clímax do filme. O vilão Lex Luthor – não anteriormente citado, porém parte crucial da trama – capturou Martha Kent (Diane Lane) e atraiu Superman para sua armadilha, usando a vida de sua mãe como barganha. Lex força Clark a escolher entre a vida dela e a de Bruce Wayne. O tempo começa a correr para Clark, que só tem uma hora para resolver seu problema; em uma cena deletada do filme, que estará presente no Blu-ray estendido do mesmo, ele parte a procura de sua mãe antes do confronto e ouve todo o clamor, os gritos desesperados e qualquer possível sinal de crime ocorrendo na cidade naquele exato momento, porém o lado egoísta e humano pesa em sua escolha, o lado que faz com que decisões difíceis sejam tomadas e ele escolhe por confrontar Batman para assim salvar sua mãe.

Lex Luthor, subjugando Superman

Após uma tentativa de diálogo e os primeiros golpes desferidos por Batman, a luta se inicia e sem muita descrição sobre a mesma, Clark se contém durante a luta. Para não matar seu adversário que é um humano, Batman se utiliza de gás feito com Kryptonita, um mineral Kryptoniano nocivo para os seres do mundo de Clark e derrota seu adversário se aproveitando desta fraqueza. Do mesmo pedaço de mineral que usou para fazer o gás Bruce fez uma lança, único objeto capaz de matar Superman naquele momento.

Eis que nesse instante surge a frase que dividiu a opinião dos espectadores: “Salve a Martha”. Nesse momento Bruce hesita e começa a questionar sobre o que Clark queria dizer e o porquê de ter dito aquele nome. Lois chega e explica tudo a Bruce que em um lampejo de consciência entende a loucura que era essa briga entre os dois; entende que o real inimigo está lá fora. Eles unem forças para combater o verdadeiro mal por trás de tudo.

“Salve a Martha…”

Então o espectador se pergunta: é isso? Um diz o nome da mãe do outro e fica tudo na paz? – Bom, na verdade as coisas vão um pouco além disso. Se voltarmos na história de Batman, veremos que há algo em comum nos dois heróis, pois o nome da mãe de Bruce também é Martha – (Risos) Ah, melhor ainda? As mães deles têm o mesmo nome e a coisa se resolve assim, fácil? – Não exatamente, de novo.

Tente pensar como Bruce Wayne por um instante: Você é um homem que cresceu assombrado pelos fantasmas de seu passado, vive completamente atormentado pela morte de seus pais, e um estranho de repente fala um nome familiar, que você tem evitado por anos, um nome que relembra todo o seu sofrimento, te faz reviver toda a dor e o trauma de ver seus pais morrerem em sua frente. Até o mais sombrio dos heróis hesitou nessa hora e com uma solução aparentemente simples, mas com uma profundidade e um apelo sentimental tão grandes é que o antagonismo dos dois heróis tem seu desfecho.

Após outros diálogos e a aparição da Mulher Maravilha (Gal Gadot), um dos protagonistas tem sua trama concluída de certa forma ali. E baseado no famoso arco de histórias, “A Morte do Superman”, a terceira e última parte do filme se inicia. Após uma luta exaustiva entre a Trindade e o monstro Doomsday, o fim chega para Superman, que como nas HQs se sacrifica para derrotar o vilão indestrutível – mais uma pequena referência a toda a coisa messiânica que envolve o Homem de Aço.

O sacrifício final. Cena retirada de “A Morte do Superman”, por Dan Jurgens

Em conclusão, para Superman, o conceito de melancolia que melhor se aplicaria é o da filósofa brasileira Marcia Tiburi. Ela que trata da Melancolia como sinônimo de criação. A partir de um episódio melancólico desencadeado por todos os acontecimentos de sua vida até aquele momento, Clark vê iniciar-se um processo de destruição para que depois haja a criação. O filme se encaminha para o fim com Superman se entregando a destruição, após todo o desenrolar de fatos da película. É possível ver o ser inseguro, frágil e indócil, partir em direção a criatura que seria seu fim, para que um novo começo pudesse existir e no lugar dele, o Superman que todos conhecem – o estereótipo de herói, bondoso, certo de si e imparável – pudesse nascer das cinzas de um antigo eu.

REFERÊNCIAS:

FREUD, Sigmund, 1917. Luto e Melancolia. p.172-173.

TIBURI, Marcia, 2008. Saber e Sofrer. Disponível em <http://www.marciatiburi.com.br/textos/saberesofrer.htm>

Café Filosófico: Tristeza, por Márcia Tiburi. Programa disponível em <http://www.cpflcultura.com.br/wp/2013/07/29/tristeza-marcia-tiburi/ > – Acessado em 08/01/2015;

FICHA TÉCNICA DO FILME:

BATMAN VS SUPERMAN: A ORIGEM DA JUSTIÇA

Direção: Zack Snyder
Elenco: Ben Affleck, Henry Cavill, Jesse Eisenberg, Gal Gadot;
Ano: 2016
País: EUA
Classificação: 12

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Como pássaros na gaiola: a realidade das famílias enclausuradas pelo sistema penitenciário brasileiro

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“Todo homem é maior do que o seu erro”
MARIO OTTOBONI

Para que haja uma completa reinserção dos presidiários na sociedade, faz-se necessário disponibilizar os meios para que eles alcancem este fim.

Assim, por interesse pelo assunto e por uma proposição da disciplina de Estágio Básico V do curso de Psicologia do CEULP/ULBRA, nós, acadêmicos, passamos a fazer parte do Conselho da Comunidade na Execução Penal (CCEP) de Palmas/TO.

Nosso ingresso no conselho se deu com o intuito de conhecer de perto a realidade na qual vivem as famílias das mulheres apenadas. Assim, estávamos imersos em dois campos desconhecidos: a visita domiciliar e o sistema prisional.

De imediato surgiram inúmeros desafios: o medo das demandas com as quais iriamos nos deparar ao longo do processo; a incerteza de como seriamos recebidos por essas famílias e seus respectivos reeducandos; com nossos próprios (pre)conceitos; nossas inseguranças e angústias.

O processo foi árduo. Batemos em várias portas em busca de conhecer melhor a realidade das famílias de algumas das mulheres em privação de liberdade na unidade prisional de Palmas/TO, mas, na maioria delas, o endereço que nos foi fornecido estava desatualizado. O que de pronto, já evidenciava o mais comum dos descasos que o nosso sistema penitenciário: ignorar a participação a família no processo de reeducação dos apenados.

Fomos a campo, com a finalidade de compreender como vivem os familiares das presidiárias, saber de suas possíveis necessidades e dificuldades, para assim conhecer mais a fundo em quais aspectos o CCEP poderia contribuir para amenizar o sofrimento dessas famílias, visando sempre fortalecer o vínculo dos apenados com suas famílias.

Gostaríamos de esclarecer que este deveria ser um relato de nossas experiências práticas enquanto membros do CCEP, porém – como uma espécie de reflexo do caos que circunda não só meio prisional mas todas as instituições – o que transcrevemos a seguir é, em grande parte, um pouco de nossas tentativas frustradas de intervir junto às famílias das reeducandas de um presídio feminino no Tocantins.

Além disso, trazemos um pouco de nossos aprendizados extraídos de nossa intervenção e de todo o arcabouço teórico adquirido por meio das intensas discussões ao longo do semestre acerca do sistema penitenciário brasileiro.

Todavia, antes de qualquer relato, julgamos imprescindível explicar aos leitores sobre o que é e como funciona o CCEP.

Apesar de sua importância e previsão em lei, o CCEP é um órgão pouco conhecido pela população brasileira. Trata-se de um mecanismo instituído pelos Artigos nº 80 e 81 da Lei de Execução Penal (LEP), a qual estabelece a existência de um conselho da comunidade em cada comarca, composto por, no mínimo, um representante de associação comercial ou industrial, um advogado indicado pela seção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e um assistente social escolhido pela Delegacia Seccional do Conselho Nacional de Assistentes Sociais.

O Conselho tem a função de representar a sociedade em um processo que se inicia no ingresso do indivíduo no âmbito prisional e só se encerra com a retomada de sua liberdade. Todavia, é a própria comunidade quem detém as alternativas a serem ofertadas ao réu condenado.

O seu objetivo é aproximar a comunidade do sistema penitenciário e seus reeducandos, visando minorar os danos ocasionados pelo encarceramento, pelas privações e pelas condições degradantes, as quais comumente eles são submetidos.

Percebemos – do pior modo possível – que o termo “reeducanda”, costumeiramente utilizado para se referir as presidiárias, na maioria das vezes, se trata apenas de um mero jogo de palavras. É um modo “politicamente correto” para se referir àquelas pessoas que se encontram segregadas em nosso falido sistema carcerário. Que, acreditamos, não seja restrito de Palmas/TO.

Ao nós apossarmos do termo: dizermos reeducandas, estamos sugerindo que elas estejam sendo submetidas a um sistema de reintegração social. No mundo real, sabe-se que não é bem isso que acontece.

Empossados de todas essas informações já compartilhadas, fomos em busca dessas famílias. De pronto, a primeira barreira era nosso semblante de constrangimento, ao nos depararmos ao difícil tema que seria abordado, que vez por outra parecia se mesclar a um sentimento de pseudoautoridade, diante dos entrevistados.

Nossas primeiras visitas foram frustradas, pois não encontrávamos familiares das presidiárias, mas tivemos uma rica observação de como a comunidade se referia a elas e suas famílias.

Quando perguntávamos se ali era a casa de fulana, víamos rostos espantados e com uma resposta tão rápida quanto um disparo: “– Não!”. Então, tentávamos iniciar uma conversa, questionando se eles conheciam alguém que teve seu familiar preso. E as respostas eram bem uniformes: “– Sim, mas eles mudaram de Palmas!”.

Em algumas dessas visitas, saímos com a nítida sensação de que, mesmo com todas as explicações acerca do que é o Conselho, os residentes preferiam negar seu parentesco com as reeducandas. Talvez por medo, vergonha ou insegurança.

Nas visitas, os nomes daquelas mulheres e suas histórias quase não eram lembrados, mas os crimes, estes ainda estão vivos na memória dos que nos recebiam. Era como se todo histórico de uma vida tivesse sido apagado, restando apenas um único e cruel capítulo: o crime.

Podemos supor que além do sofrimento presente em cada uma dessas histórias, o preconceito que essas famílias passam a sofrer seja a principal causa de mudarem seu endereço. Uma tentativa de se apagar o passado vergonhoso.

Em vários casos, pudemos comprovar que o afastamento se dá também em relação as apenadas, que – não raramente –  são abandonadas por seus familiares no cárcere.

A distância das unidades prisionais em relação ao distrito urbano, as dificuldades financeiras e as constrangedoras revistas realizadas antes das visitas nos presídios são alguns dos fatores apontados pelos familiares como justificativa por sua ausência e descaso em relação às reeducandas.

Quando conseguimos cumprir nossa missão, fomos muito bem acolhidos. Por meio dos relatos e da postura adotada pelas pessoas que se encontravam nessas residências.

Deparamo-nos também com uma realidade de sofrimento causada pelas drogas, que de tanto se perdurar, já passou a fazer parte de seus traços e hábitos. Um exemplo é o da filha de dona Ana, hoje com 29 anos, é usuária de drogas ilícitas desde os 13. Fato que fez com que ela já fosse detida por 6 ou 7 vezes.

Hoje, sua família vive em um misto de incredulidade e esperança de que Mariana possa reestabelecer sua vida quando retomar a liberdade.

Uma vez que a visita domiciliar foge dos padrões dos atendimentos psicológicos tradicionais, ainda há uma enorme carência de materiais que abordem como se deve proceder nesse tipo de intervenção.

São raras as discussões e produções acadêmicas que tenham como foco as famílias de pessoas em privação de liberdade, o que evidência um vasto campo a ser explorado.

A falta da literatura para nortear nossas práticas gerou desconforto e o receio de estarmos (ou não) invadirmos a privacidade daquela família. Nosso receio era o de ferir o direito à privacidade em meio à toda dor que assolavam aqueles lares.

Em nossa busca por uma intervenção íntegra, fomos convidados a experimentar um modelo de intervenção, em que, claramente teríamos de nos deixar ser conduzidos pelos limites impostos pelo outro (cliente), uma vez que aquele era o seu ambiente, seu território.

 

Nota: Todos os nomes pessoais aqui utilizados são fictícios, com vista a preservar a identidade dessas pessoas.

 

Referências:

BRASIL. Lei de Execução Penal. Brasília: Senado, 1984. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm.>. Acesso em: 26 de março de 2014.

MARTINS, J.S. A sociedade vista do abismo: novos estudos sobre exclusão, pobreza e classes sociais. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

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Hebe de Bonafini – Amor de mãe, amor demais

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Hebe de Bonafini – 30 mil pessoas foram torturadas e mortas no período da ditadura militar argentina.
Foto: Rodrigo Correia

 

Na Praça de Maio, em Buenos Aires, reúne-se um grupo de mulheres, com lenços brancos na cabeça.

São idosas, são de todos os cantos do país e são mães. E são mães.

A primeira reunião destas senhoras foi espontânea, eram mulheres que procuravam por seus filhos.

Eram mães que procuravam por seus filhos.

As Mães da Praça de Maio, como ficaram conhecidas as mulheres, se reúnem ali toda quinta-feira.

Toda quinta-feira é dia das mães.

Uma delas, vinda do interior, procurava por seu filho Jorge, em 1977 ela procurava seu filho mais velho que havia desaparecido.

Hebe de Bonafini tinha então 49 anos.

A procura de Hebe por Jorge – e depois por Raúl, seu filho mais novo e María, sua nora – já dura 35 anos.

Não há mãe que não espere seu filho com o coração apertado.

Os militares, responsáveis pelo sumiço dos filhos de Hebe, diziam que o grupo de mulheres eram “As loucas da Praça de Maio”.

Talvez o normal fosse esquecer, mas qual mãe esquece?

Eu conhecia Hebe de Bonafini antes mesmo de estar com ela.

Tinha visto aquela expressão em outros rostos.

Porque todas as mães têm na face de um amor que não cabe nelas.

Mas quando estive com ela, quando vi os cabelos brancos que o pañuelo também branco esconde, pude perceber algo mais.

As mães também tem um sofrimento que não cabe nelas.

Em Córdoba, em outra praça, Hebe discursava a uma pequena multidão.

Com ela, outras senhoras, outras esperas.  30.000 filhos – e também pais, mães, irmãos – são esperados.

Muitos dos que ouvem as palavras de Hebe não tinham idade para ter visto os horrores e a violência que aconteciam durante a ditadura argentina.

Mas ela não falava só do sequestro de seus filhos.

Era uma mãe que falava da fome, do desemprego, da falta de educação, do crime.

Ela falava do que faz crianças sumirem hoje.

“Estão vivos, estão vivos sim, todos os ideais dos desparecidos estão vivos!”.

Hebe diz ao microfone.

E os jovens que a ouvem aplaudem.

Hebe Pastor de Bonafini tem 83 anos.

Ela é uma mãe argentina que tem agora muitos filhos. Amor de mãe não é nenhum mistério.

É só amor demais.

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