Julia Margaret Cameron recebeu sua primeira câmera aos 48 anos de sua filha e de seu genro para poder se ocupar e distrair enquanto seu marido viajava. É assim que começam todas as narrativas encontradas sobre a fotógrafa. O que torna meio frustrante, pois apesar de diversas fontes nacionais e internacionais pesquisadas, parece que nenhuma realmente mostrou quem essa fotógrafa foi, somente um emaranhado de informações sobre sua primeira câmera, a época em que começou a fotografar e suas fotos borradas.
Reconheço que cada indivíduo é construído pela sua história e é isso que me traz mais frustração ao pesquisar sobre a vida dessa fotógrafa por quem criei grande admiração, informações gerais não são a história de alguém. Informações gerais não representam a vida e as vivências obtidas por essa pessoa, mas as complementam. Sendo assim, irei compartilhar a falsa história de informações gerais sobre Julia M. Cameron, mas também o que eu conheci sobre ela através de suas fotografias. Por sua história ser narrada mais comumente em blogs, sites de pessoas interessadas na arte da fotografia, sites de museus e livros de difícil acesso, será difícil colocar cada referência nas informações que irei fornecer, mas todos os links estarão disponíveis no final desse trabalho para melhores esclarecimentos.
Julia nasceu em Calcutá, 1815 e faleceu em Ceilão, 1879. Ela foi uma mulher britânica que tomou a fotografia como uma aventura pessoal. Dizem que ela era a irmã solteira de uma família de seis meninas lindas, porém o seu charme e inteligência a destacava entre as irmãs. Seu marido era um grande funcionário britânico, o que os fez ter amizades com grandes personalidades da era vitoriana, dentre eles Charles Darwin, o poeta Henry Taylor, sir John Herschel, entre outros. Consequentemente, ela retratou cada um deles e essas foram algumas de suas fotografias mais famosas. Após receber sua câmera, Julia se dedicou inesgotavelmente a fotografia. Na era vitoriana, seus retratos saíam do convencional e chegou a ser criticada por isso, mas com dois anos fotografando já havia vendido algumas de suas obras e doadas outras para o South Kesington Museum, atualmente conhecido como Victoria and Albert Museum.
No site do Victoria and Albert Museum (V&A), é relatado que apesar das críticas por suas técnicas não convencionais, a beleza de suas composições era comemorada o que mostrava que para ela a fotografia era claramente uma forma de arte. Julia transformou o quarto que abrigada o carvão de sua casa em seu quarto escuro e a sua casa de aveia se tornou um estúdio.
Ainda no site do V&A Museum vemos que a história de Julia com a fotografia começou antes dela ganhar a sua câmera. Ela já havia compilado álbuns e impresso fotografias. Realizou um trabalho híbrido entre uma imagem fotográfica com uma técnica sem câmera. Ao revelar um negativo o envolveu com samambaias, assim criou uma moldura de fotograma ao redor da foto. A fotografia que Cameron considerou seu primeiro sucesso foi um retrato de Annie Philpot e mesmo assim, ela atribuiu o mérito a garota, pois acreditava que ela havia feito a maior parte do trabalho.
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Cameron não possuía interesse em estabelecer um estúdio comercial e também nunca fez retratos comissionados, ela sempre gostou de fotografar amigos e família. Suas fotografias, marcadas pela subjetividade, tem a característica de sempre estar representando algo. Ela chegou a construir personagens para encarnar figuras clássicas, modernas, religiosas e literárias. Para realizar a arte da fotografia ela se envolvia na arte do teatro, assim seus retratos eram compostos.
Transformou crianças em Cristo, Cupido e anjo representando a Madonna Sistina de Raphael. Ela nunca pretendeu realizar fotografias formais de estúdio muito menos retratos comerciais, sua aspiração era enobrecer a fotografia, assim assegurando-a o caráter do uso de altas artes, trabalhando o real e o ideal, mostrando o verdadeiro e sendo devota a poesia e à beleza. A sua meticulosidade em montar os seus retratos muitas vezes cansava os seus modelos, porém mesmo com a sua suposta falta de técnica e o cansaço dos modelos, suas fotos são extremamente lindas e significantes. Nas imagens apresentadas conseguimos ver as duas características principais das fotografias de Cameron, a representatividade do poético e religioso, e a técnica peculiar utilizada pela fotógrafa.
Basicamente todas as suas fotos tem o que era considerado problemas com a iluminação e manchas, representando a suposta ausência de técnica. Para mim, Julia nunca teve ausência de técnica, apenas não se manteve presa a técnica comum da época, se permitiu ser conduzida pela arte, sem barreiras, isso fez com que surgisse a sua técnica em particular. É claro que essas características das fotos de Cameron não eram acidentes, eram propositais e para conseguir reproduzi-las dessa forma ela criou sua própria técnica e a manteve.
O que eu conheci de Julia pelas suas fotografias e a sua história superficial é que ela era uma mulher independente, criativa, e que mesmo com as críticas sofridas na época, como não ser aceita na sociedade dos fotógrafos, não se deixou abater e muito menos mudou o seu jeito de fotografar. Manteve o seu olhar, manteve as suas ideias, manteve os seus princípios. Julia Cameron é um símbolo ímpar feminino na era vitoriana e infelizmente não tem a sua história contada. Sua personalidade parece ser fantástica, afinal poucas mulheres do século XIX conseguiram receber o reconhecimento e ser respeitada por pessoas ilustres como ela foi. Julia Margaret Cameron é inspiração.
REFERÊNCIAS:
VICTORIA AND ALBERT MUSEUM. Julia Margaret Cameron: Working Methods. 2016. Disponível em: <http://www.vam.ac.uk/content/articles/j/julia-margaret-cameron-working-methods/>. Acesso em: 10 mai. 2017.
SZARKOWSKI, John. Julia Margaret Cameron. 2016. Disponível em: <http://www.atgetphotography.com/The-Photographers/Julia-Margaret-Cameron.html>. Acesso em: 10 mai. 2017.
REVISTA LA FUNDACIÓN. Julia Margaret Cameron: Pioneira do Reconhecimento da Fotografia como Arte. 2016. Disponível em: <https://revistalafundacion.com/marzo2016/pt-pt/exposicao/>. Acesso em: 10 mai. 2017.
THE MET. Julia Margaret Cameron. 2015. Disponível em: <http://www.metmuseum.org/toah/hd/camr/hd_camr.htm>. Acesso em: 10 mai. 2017.