Vem brilhar, um dom divino
Na regência de Ifá, nasce o filho do destino
E com a Ilha atravessa o mar
O navio é negreiro, ô ô ô
E na vinda vem os Orixás
Pra surgir nossos terreiros
Na cultura Yorubá Nagô, ô ô
Se entrega por inteiro
E se sagrou babalaô
Homem branco feiticeiro
(G.R.S. União da Ilha do Governador)
Nesse pequeno verso o fotógrafo e etnólogo Pierre Verger, dois anos após a sua morte, foi homenageado pela escola de samba União da Ilha do Governador no carnaval de 1998. A escola retratou na avenida sua trajetória em meio ao culto dos orixás. Suas obras atravessaram um século perpetuando como patrimônio dos Terreiros de candomblé, os detalhes que ele registrava eram as cores de um povo suas riquezas e alegria.
O fotógrafo e etnólogo Pierre Edouard Leopold Verger nasceu em Paris em 1902 e faleceu em Salvador – Bahia, em 11 de fevereiro de 1996. Com 30 anos de idade, após perder sua família, decidiu que não iria passar dos 40, e para aproveitar sua vida ao máximo dedicou a suas duas paixões viagens e fotografias. Dedicando-se à fotografia preto e branco, que virou sua especialidade, se tornou um fotógrafo jornalístico, com a utilização da máquina Rolleiflex, pois era reduzida e compacta.
Desembarcando em Salvador no ano de 1946, o fotógrafo logo se apaixonou pela história afrodescendente e pelo candomblé. A cidade tendo uma população majoritariamente negra o chamou muito a atenção e isso, foi bem ilustrado em suas fotos. Sua paixão por esse povo era tanta que muitos deles tornaram seus amigos. Por estabelecer muito contato com a história afrodescendente, ele acabou adotando os rituais e a religião do candomblé, em uma de suas fala ele ressalta que “essa religião exalta a personalidade das pessoas”. Pela sua imersão junto a cultura afro brasileira, Verger recebeu no candomblé o nome Fatumbi (“nascido de novo graças ao Ifá”) que foi acrescido ao seu nome.
O seu interesse pela cultura afro era tanto que resultou em uma bolsa de estudos na África. Verger após conhecer tanto a vida como a história dessa gente detalhadamente, acreditou ter encontrado a fonte da vitalidade do povo baiano, desta forma consagrou-se como um dos maiores estudiosos do culto aos orixás.
Com sua Rolleiflex registrou a magia dos rituais e das divindades deixando então uma herança artística e cultural, consagrando-se em um grande fotógrafo. Verger continuou estudando e documentando, tornou-se professor na universidade da Bahia e foi responsável pelo estabelecimento do museu Afro-Brasileiro em Salvador.
Em 1988, Verger criou a Fundação Pierre Verger (FPV), que tem como objetivo preservar o acervo (biblioteca, acervo fotográfico com 63 mil negativos, gravações sonoras, anotações, manuscritos e outros), continuando com pesquisas que abriram outros acervos destinados principalmente, a cuidar e divulgar sua obra.
O documentário “Verger – Mensageiro entre dois mundos”, lançado em 1998, mostra a relação intensa e apaixonada entre o artista e o Brasil e ainda sua admiração recíproca à cultura africana. O documentário tem a direção de Lula Buarque De Holanda.
As imagens de Verger são documentos antropológicos, históricos e essenciais para a compreensão da cultura brasileira.
Referências:
https://educacao.uol.com.br/biografias/pierre-verger.htm
https://www.cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/pierre-verger-e-os-orixas-do-terceiro-milenio
http://www.pierreverger.org/br/pierre-fatumbi-verger/biografia/biografia.html
http://www.pierreverger.org/br/pierre-fatumbi-verger/sua-obra.html