Eu não faço um cinema convencional, o meu tipo de filme é uma coisa que sai de outro espaço, e não obedece muito às leis da dramaturgia convencional, de forma que as pessoas ficam chocadas.
Glauber Rocha
Glauber de Andrade Rocha nasceu em 14 de março de 1939, na cidade de Vitória da Conquista, Bahia. De início, não foi o mundo cinematográfico o berço de onde surgiu esse grande ícone brasileiro, mas sim a “literatura”. Desde sua infância, esteve inserido no meio das artes, iniciando sua carreira com 10 anos, ao escrever a peça El hilito de oro. A partir disso, trabalhou também como crítico de cinema para um programa de rádio, além de fazer publicações constantes para jornais e revistas, para mais tarde tornar-se diretor do suplemento literário do Jornal da Bahia. Era notório também o grande engajamento de Glauber nas ações culturais do lugar onde morava, no qual ele fundou grupos de teatro e ainda a Cooperativa Cinematográfica de Iemanjá. Vale lembrar que todos esses feitos de Rocha, aconteceram antes mesmo de ele completar 20 anos de idade.
As primeiras filmagens realizadas por Glauber Rocha foram dos documentários “O pátio” e “Cruz na praça”, nessa mesma época ele cursava Direito na Faculdade da Bahia. No entanto, abandonou o curso um ano depois, para se dedicar a profissão de cineasta. Este momento de inserção de Rocha no cenário cinematográfico, situado entre a década de 50 e 60, era protagonizado pelos ideários do Cinema Novo.
O movimento do Cinema Novo surgiu devido ao declínio da indústria cultural brasileira, que acarretou na falta de recursos econômicos e técnicos, implicando na falta de suporte à geração de cineastas da época. Entretanto, tais dificuldades não impossibilitaram o baiano de Vitória da Conquista a se tornar um dos maiores representantes do cinema cultural brasileiro. O slogan do movimento “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça” condizia perfeitamente com as concepções de cinema defendidas por Glauber.
Caracterizado por ser um brasileiro provido de um espírito revolucionário, interessado pelas causas sociais do seu povo, e indignado pelas situações de opressão e miséria presentes no Brasil e nos países latino-americanos, Glauber via em suas produções cinematográficas a oportunidade magnífica de retratar o “Brasil do Povo Brasileiro”. Desprendendo-se do modelo de fazer cinema norte-americano, os filmes de Rocha caracterizam-se pela utilização de uma linguagem inspirada na cultura e nas crenças brasileiras, contando com encenações em cenários naturais e modestos, imagens mais lentas, dando ênfase também aos diálogos prolongados dos personagens.
Além de almejar a construção de uma identidade cinematográfica intrinsecamente brasileira, o cineasta baiano desejava promover uma tomada de consciência por parte do povo brasileiro, na tentativa de impulsionar uma transformação política oriunda das classes sociais menos privilegiadas. A Psicologia Social, tomando como referência Vygotski, Paulo Freire e Silvia Lane, traz o conceito de “Empoderamento” para descrever a responsabilidade do indivíduo pela sua própria história. Enxergando-os como protagonistas e agentes, capazes de provocarem a mudança social necessária às adversidades do meio em que vivem.
Em entrevista concedida ao Fantástico, ao ser questionado uma vez sobre os motivos de sua arte cinematográfica ser causadora de tanta polêmica e ter recebido tantas críticas dos cineastas estrangeiros, Rocha confiantemente responde que esses indivíduos “(…) eram irresponsáveis, eram ignorantes (…) e meu filme coloca a perspectiva além da política para a filosofia, foi aí que eu disse, olha é um filme filosófico, e eles acham que o cineasta não pode ser filósofo”.
Glauber de Andrade Rocha ficou conhecido internacionalmente com o filme “Deus e o diabo na terra do sol” (1964). Entre os seus demais trabalhos, os de mais destaques são: “Terra em transe” (1967), “A idade da Terra” (1980), “Barravento” (1962), “Câncer” (1972) e “O dragão da maldade contra o santo guerreiro” (1969).
Premiações concedidas a Glauber Rocha:
- Filme “Barravento” – Premiação na Europa e exibição no Festival de Cinema de Nova York.
- Filme “Terra em Transe” – Prêmio Luis Buñuel e Prêmio da Federação Internacional Cinematográfica.
- Prêmio de melhor diretor pelo filme “O dragão da maldade contra o santo guerreiro”.
- Curta-metragem “Di Cavalcanti” – Prêmio Especial do Júri do Festival de Cannes.
REFERÊNCIAS:
SILVA, Humberto. Glauber Rocha: Arte, Política e Cultura/, Salvador, 2006. Disponível em: < http://www.cult.ufba.br/enecul2006/humberto_junior.pdf>. Acesso em: 23 abril, 2017.
Glauber Rocha, Uol Educação, Rio de Janeiro. Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/biografias/glauber-rocha.htm>. Acesso: 23 abril, 2017.
Entrevista com Glauber Rocha, 1980. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=EV04KyhMhj0&t=298s>. Acesso em: 23 abril, 2017.