Essa tem sido eu nos últimos três meses. Me encontro com a sombra da morte quase todos os dias passando por esses corredores, mas também com a intensidade da vida que pulsa em cada um, com a vontade de vida de cada um.
“A cabeça pensa onde os pés pisam”. Eu, psicóloga, 24 anos, negra, brasileira, proletária, trabalhando numa UTI pediátrica, num hospital público no norte do país, no meio de uma pandemia. Hoje estou em solo de guerra, é assim que sinto muitas vezes. Isso me faz valorizar e reconhecer a paz quando encontro.
Vida e morte intensamente ligadas. Me atravessam, mudam minhas perspectivas, minhas prioridades, meus argumentos.
Fiquei em silêncio desde então por aqui. Me deixei levar pelo não saber, não saber o que dizer. Também não sei se tenho dito algo com essas palavras, mas deixo sair porque hoje elas estão aí para sair.
Eu não tenho a pretensão de chegar em algum lugar com essas palavras. Elas são mais para mim do que para outro alguém. São um lembrete.
Quero dizer que ainda há esperança. Que relações significativas existem, que a paz vem de dentro. Que a vida vale a pena, mesmo quando não é fácil, até porque ela é mais difícil do que fácil. Que cada história importa, que cada pessoa que tocamos é o amor da vida de alguém. Que o solo do nosso coração precisa ser fértil para crescer afeto. Que a dureza da dor não precisa ser o que dita nossa postura.
A vida é feita de histórias, o que temos feito com a nossa?