O abuso sexual pode estar mais perto que você imagina.
Anjos do Sol, lançado em 2002, dirigido por Rudi Lagemann, é uma produção brasileira sobre a exploração sexual e comercial de crianças e adolescentes. O filme recebeu no 34º Festival de Gramado, em 2006, o troféu de melhor ator para Antonio Calloni. A obra é notável por tratar de uma situação que se perpetua há séculos.
É narrada a história de Maria, uma criança de 12 anos, de família pobre do interior do Maranhão, que foi vendida pela família a um recrutador de prostitutas, imaginando que sua filha estaria indo morar em um local melhor pois não tinham conhecimento que o homem em questão estaria recrutando e enviando para um prostíbulo localizada em uma cidade na floresta amazônica.
Maria se encontra em processo de desenvolvimento cognitivo, sendo este fundamental para a formação da identidade, formação de vínculos afetivos e de percepção do mundo. Embarcar forçadamente nessa contextualização pode representar um grave fator de risco para sua vida, uma vez que a violência pode provocar transtornos psicopatológicos e comprometer o seu desempenho pessoal e relacional ao longo do ciclo de vida.
Maria e outras meninas foram levadas para um local chamado Casa Vermelha, na cidade da Amazônia, onde são exploradas sexualmente e após serem abusadas pelos homens dos carimbos, decidem fugir desse local, sendo que uma das meninas foi parar nesse local por ter sofrido abuso sexual do padrasto e a mãe não ter acreditado nela, permitindo que o recrutador de prostitutas a levasse.
Isso traz a reflexão sobre os locais de ocorrência dos crimes que são diversos, contudo a maioria acontece nos próprios lares e na maioria das vezes os agressores são aqueles que deveriam cuidar e proteger, acontecendo distorção dos papéis sociais em que as partes envolvidas, as quais possivelmente aplicam a tortura física e emocional, deveriam prevalecer a ternura e os cuidados imprescindíveis a fim de garantir a boa saúde e desenvolvimento saudável da criança.
Na fuga, elas são apanhadas e forçadas a voltar aos prostíbulo e, como penalidade, uma das meninas é arrastada até a morte pelo dono do local, usando sua morte para passar a mensagem para as outras meninas de que não compensa fugir da exploração sexual, pois além dele capturá-las, ele poderia acabar com todos os projetos e sonhos que elas poderiam ter.
Além da ficção, a realidade de muitas famílias e meninas, não apenas do Brasil, é retratada, no que se refere ao abuso e exploração infantil. O fato de ser um assunto velado faz com que crianças não saibam ao certo o que vivenciaram, como lidar com isso e, consequentemente, como se expressar.
Conforme Merlo e Adesse (2005), o abuso sexual é caracterizado por quebra de vínculo na qual o responsável utiliza da autoridade, usando a vítima para o seu prazer sexual sem a autorização da vítima, forçando-a ou induzindo-a a uma prática sexual com ou sem violência para o próprio prazer. A violência contra crianças e adolescentes é um acontecimento complexo e real que abrange aspectos sociais, jurídicos, médicos, educacionais e psicológicos. A violência é vista como um problema de saúde pública devido a sua alta prevalência na infância e adolescência (WILLIAMS e HABIGZANG, 2014).
Atualmente, existe a rede de proteção diante de casos maus tratos infantis. Muitos hospitais de referência e postos de saúde possuem setores específicos para lidar com situações de suspeitas e que faz a notificação obrigatória ao Conselho Tutelar, podendo também comunicar o Ministério Público, que faz a comunicação ao Juizado da Vara da Infância e Juventude.
Além disso, existem órgãos da rede de proteção e assistência à criança e adolescente que são: (CAPS) Centro de Referência Especializado de Assistência Social; Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS); Comissão de combate aos maus-tratos contra criança e adolescente; Programa Sentinela; Delegacia da Criança e do Adolescente, Defensoria, Conselho Tutelar, juizado da Vara da Infância e Juventude entre outros.
FICHA TÉCNICA
ANJOS DO SOL
Direção: Rudi “Foguinho” Lagemann.
Roteiro: Rudi “Foguinho” Lagemann.
Elenco: Antonio Calloni, Vera Holtz, Chico Diaz, Roberta Santiago, Otávio Augusto, Mary Sheyla, Darlene Glória (no papel da cafetina Vera), Bianca Comparato e a estreante Fernanda Carvalho.
Ano: 2006
Referência:
GABEL, Marceline. Crianças vítimas de abuso sexual. São Paulo: Summus, 1997.
MERLO, Cecilia de; ADESSE, Leila. Violência Sexual no Brasil: perspectivas e desafios. Brasília: Ipas (Brasil), 2005
WILLIAMS, Lúcia C. Albuquerque; HABIGZANG, Luísa Fernanda. Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência. Curitiba: Juruá, 2014.