Educar as pessoas para a convivência em rede – (En)Cena entrevista Edvaldo Couto

O (En)Cena entrevista o Pós-Doutor em Educação Edvaldo Couto que irá abordar a “Violência e maus tratos emocionais em mídias sociais” em minicurso.

Durante os dias 21 a 25 de agosto de 2017, semana em que se comemora o Dia do Profissional de Psicologia, o Caos – Congresso Acadêmico de Saberes da Psicologia– será realizado no Ceulp/Ulbra e contará com uma série de atividades que irão se debruçar sobre um dos temas mais emergentes da contemporaneidade, a violência. Temas como ‘Manejo clínico de vítimas de violência doméstica’, ‘Violência no Trânsito’, ‘Prevenção ao Suicídio e automutilação’, ‘Violência nas redes: em que momento nos tornamos tão insensíveis ao outro?’, ‘Alienação Parental no contexto sociojurídico’, ‘Violência e Sofrimento Psíquico no Trabalho’, ‘Arquétipos da violência nos contos de fada’ e ‘Mídia, Corpo e Violência’ serão alguns assuntos abordados, dentro de uma programação que envolve aproximadamente 30 atividades.

Edvaldo Couto. Foto: arquivo pessoal

Um dos palestrantes confirmados no evento é o professor da UFBA Edvaldo Souza Couto, que possui pós-doutoramento em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Doutorado em Educação (UNICAMP), Mestrado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e graduação em Licenciatura Plena em Filosofia pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). É professor Titular na Universidade Federal da Bahia (UFBA), no Departamento de Educação II. É professor permanente no programa de pós-graduação em Educação e um dos coordenadores do GEC: Grupo de pesquisa Educação, Comunicação e Tecnologias. É bolsista do CNPq (PQ 2). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação, Comunicação e Tecnologias e também na área de Filosofia, com ênfase em Estética Contemporânea: Escola de Frankfurt (Benjamin e Adorno) e Simondon. Estuda principalmente os seguintes temas: estética; corpo e tecnologia; sexualidade e tecnologias digitais; filosofia da técnica; educação, comunicação e tecnologias digitais; cibercultura e novas educações; software livre; leitura e escrita na era digital; currículo e formação de professores; redes sociais na internet.

Abaixo, confira a entrevista concedida ao portal (En)Cena.

(En)Cena – Há autores que criticam e outros que defendem o uso irrestrito das redes, sobretudo no âmbito da comunicação. Em que medida, para os jovens, uma comunicação violenta, na internet, pode representar um perigo? E qual sua opinião sobre a eventual irreversibilidade do uso de redes sociais eletrônicas por jovens e adultos jovens?

Edvaldo Couto – Vivemos a era das conexões e as pessoas organizam a sua vida por meio das redes. Essa é uma característica da cultura digital. Não tem volta. Desejamos conexões mais seguras, velozes e baratas. A desconexão não é uma reivindicação. A vida online é cheia de situações de violência porque as pessoas são violentas. É preciso educar as pessoas para o convívio nas redes. Conviver com os outros, com todas as diferenças próprias dos outros, é o nosso desafio. Devemos usar as redes para promover sociabilidades e ampliar as regras e experiências do bem-viver.

Edvaldo Couto. Foto: arquivo pessoal

(En)Cena – Estaríamos diante de uma crise de curadoria, ou de uma nova revolução no modo de fazer comunicação?

Edvaldo Couto – Em toda parte vemos pessoas conectadas e criando soluções para os mais diversos problemas. Vivemos uma época de revolução dos nossos modos de vida e hábitos de comunicação em rede. Por isso devemos todos defender liberdade de usos da internet. A internet não pode e não deve ter controles governamentais, institucionais ou empresariais, não pode e não deve ser limitada, com sites e acessos proibidos. Onde tem pessoas conectadas e produzindo livremente coisas extraordinárias acontecem.

(En)Cena – Como as novas configurações de “trocas” de informações podem impactar nos processos educacionais e na formação identitária das gerações futuras?

Edvaldo Couto – Vivemos a cultura digital. Nossa geração e as que estão vindo vivem e viverão conectadas por meio de tecnológias móveis e ubíquas. Isso significa que vivemos uma era de trocas intensas entre pessoas que vivem em rede, o que chamamos a internet das pessoas, mas também começamos a era das trocas intensas de comunicação entre os objetos, o que chamamos internet das coisas. Esses dois modos se fundem e logo pessoas e objetos estaremos todos conectados. E a vida será mais dinâmica, interativa. E também mais vigiada. Qualquer experiência educacional que estiver fora das conexões não terá como sobreviver. Nosso desafio é ensinar e aprender em redes sociocomunicativas, é estimular a produção colaborativa e a difusão de saberes. É isso que chamamos de inteligência conectiva.

(En)Cena – De que forma as subjetividades contemporâneas podem lidar com a enxurrada de informações, notadamente aquelas de teor explicitamente violentas?

Edvaldo Couto – Nossas subjetividades resultam da cultura das conecções. Os modos de ser voláteis são os que vivemos na era dos fluxos. Para quem está inserido nos nexos das redes tudo é fluxo, não tem excesso de informação. O discurso sobre o excesso de informação era próprio de uma época em que era possível viver online e também offline. Essa dualidade não existe mais. Aparentemente tudo está disponível e circula, mas não precisamos nem podemos acessar tudo. Cada um cria suas redes e audiências a partir de interesses específicos. Compartilhamos informações para esses grupos que formam as nossas redes de influências e subjetividades. E, ao mesmo, tempo, devemos combater crimes, discriminações e todo tipo de violência em rede. A cultura da violência na rede pode caminhar para uma cultura do compartilhamento e da solidariedade. Devemos educar as pessoas para o prazer da convivência em rede.

Por que Caos?

A subversão de conceitos aparentemente fechados é uma das marcas das mentes mais invejáveis de todos os tempos. E pensar de forma subversiva é também quebrar com a linearidade das considerações pré-concebidas. Assim, resignificar e despir as “verdades” são a tônica de toda a produção científica, de toda a produção de saberes. Caso contrário, não se estaria produzindo ciência, mas, antes, dogmas.

A palavra CAOS, neste contexto, ganha especial sentido, já que remete à possibilidade do princípio da impermanência e da criatividade. A Física diz que é do princípio do CAOS que surge parte dos fenômenos imprevisíveis, cuja beleza se materializa na vida que se desnuda a todo instante.

É neste sentido que, também, para a Psicologia, o CAOS possibilita pensar sobre uma maneira de enxergar o Ser para além de rótulos ou de concepções a priori. Este microcosmo humano que é objeto de escrutínio do profissional de Psicologia guarda uma gama de imprevisibilidade e de originalidade que representam a própria riqueza da existência. Afinal, pelo CAOS pode-se iniciar intensos processos de mudanças, autossuperações e singularidades. É pelo princípio do imprevisível e do radicalmente distinto que se vislumbra a beleza da diferença. Estas são, em súmula, as bandeiras da Psicologia, área da ciência calcada essencialmente no Humanismo, que busca elevar a condição humana em toda a sua excentricidade, sem amarras, sem julgamentos. Esse é o princípio do CAOS, o Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia do Ceulp/Ulbra.

 

Mais informações:

Coordenação de Psicologia: Irenides Teixeira (63) 99994.3446
Assessoria do Ceulp/Ulbra: 3219 8029/ 3219 8100

 

Inscrições: http://ulbra-to.br/caos/

Psicólogo. Mestre em Comunicação e Sociedade (UFT). Pós-graduado em Docência Universitária, Comunicação e Novas Tecnologias (UNITINS) e em Psicologia Analítica (UNYLEYA-DF). Filósofo, pela Universidade Católica de Brasília. Bacharel em Comunicação Social (CEULP/ULBRA), com enfoque em Jornalismo Cultural; é editor do jornal e site O GIRASSOL, Coordenador Editorial do Portal (En)Cena.