CAPACITISMO: o uso das redes sociais no combate ao preconceito e a desinformação

Autores: Andréa Nobre de Carvalho Koelln e Ariane Andréa Carreira de Fraga

Nota final: O texto é resultado de uma atividade da disciplina de Intervenção Psicossocial do curso de Psicologia do CEULP/ULBRA, ministrada pela Profª. Me. Thaís Moura Monteiro.

O presente relato surgiu de uma intervenção psicossocial que utilizou-se como instrumento veiculador nas redes sociais, mais precisamente o Instagram, e como problema de pesquisa o Capacitismo e suas implicações no sujeito e na sociedade. O relatório em questão, objetivou levar para as redes sociais reflexões e discussões sobre o impacto que o sujeito vítima do Capacitismo sofre, no que tange não somente o preconceito e a discriminação, mas também a exclusão em sociedade, fazendo-se necessária a ampliação da reflexão sobre a temática. A proposta foi realizada na modalidade on-line, tendo como população-alvo os usuários da rede social Instagram que possuam interesse no tema através da página “Ação Psi” (@acaopsiulbra), organizada e monitorada pelas acadêmicas de Psicologia e supervisionadas pela Thaís Monteiro da disciplina Intervenção do Psicossocial. A intervenção ocorreu no segundo semestre do ano de 2022, e esperou-se alcançar um número significativo de pessoas através das publicações. O tema foi pensado pela percepção das acadêmicas, juntamente da supervisora, por se tratar de algo pouco comentado em contextos casuais, possibilitando a abertura para que os seguidores sejam instigados a refletir sobre a temática dentro e fora de seus ciclos sociais.

Vamos ao que realmente interessa: 

O capacitismo é uma forma de preconceito e discriminação. Em nossa sociedade, a forma como esse preconceito é manifestado, envolve as crenças internalizadas de que a pessoa com deficiência seria incapaz e inapta, considerando apenas o corpo considerado “perfeito” como passível de capacidades e aptidões, e o que foge à regra, como alvo de pena e/ou incapacidade. É importante destacar que praticar a discriminação configura crime previsto em Lei. Há normas e legislações que garantem plenos direitos que asseguram condições de igualdade, liberdade, inclusão social e cidadania. Por isso a importância de se repensar algumas atitudes pessoais direcionadas às pessoas com deficiência que causam exclusão e constrangimento.

Existe uma grande dificuldade das pessoas em se perceberem e até mesmo de admitirem que são ou possuem comportamentos e falas capacitistas. Isso porque, é preciso entender o tema considerando toda a história das pessoas com deficiência, compreendendo o imaginário que sustentou ideias reproduzidas ao longo dos anos que disseminaram o discurso capacitista até os dias atuais, desde a crenças no passado que trataram a deficiência como um castigo para um pecado cometido, até mesmo ao padrão irreal de corpo perfeito dos dias atuais, que afirma que tudo o que foge disso, não funciona e não é aceito. É importante entender que atitudes capacitistas, precisam de atenção e reflexão, pois reproduzem e reforçam estereótipos que precisam ser desconstruídos e combatidos.

Algumas atitudes simples e delicadas são muito importantes para a construção de diálogos e ambientes mais inclusivos. Entenda como exercer a acessibilidade atitudinal e evitar passar por uma saia justa:

  • Primeiramente, identifique-se ao falar com uma pessoa cega.
  • Quando se aproximar cumprimente em voz alta, e se identifique.
  • Não deduza que a pessoa já te conhece pela voz. Ainda mais se tiver muito tempo que não a vê.
  • Também não seja indelicado ao deduzir o grau de relação ou parentesco entre as pessoas. Pessoas com deficiência podem desenvolver diversos tipos de relações com outras pessoas normalmente.

Partindo do pressuposto, de que a discriminação é a ação, ou seja, a manifestação do preconceito, é preciso entender que ele nem sempre será visível. Isso significa, que algumas ações e comportamentos discriminatórios podem acontecer de maneira camuflada, nas entrelinhas e não de maneira escancarada, isso é o que se denomina de Capacitismo Estrutural (STUDIO PIPOCA, 2021). Geralmente, o Capacitismo estrutural aparece no cotidiano, podendo ser propagado até mesmo de maneira inconsciente por quem o pratica, como citado anteriormente referente às crenças enraizadas frente ao corpo tido como perfeito. Para ajudar a fixar na memória e perceber como o capacitismo estrutural se manifesta no dia a dia, abaixo listamos alguns exemplos de capacitismo estrutural:

  • Não adaptar postagens em redes sociais para aumentar sua acessibilidade;
  • Realizar perguntas invasivas como “o que aconteceu?” ou que questionem a diversidade funcional, pior ainda com pessoas que não têm intimidade;
  • Optar por locais com falhas de acessibilidade para a realização de eventos;
  • Ignorar e não se importar com a inacessibilidade ao se deparar com ela;
  • Sentir pena de pessoas com deficiência, ainda que elas vivam seu dia a dia normalmente;
  • Utilizar termos ou expressões, como: “inválido, incapaz, louco, mongol, aleijado ou retardado”;
  • Falar com uma pessoa com deficiência como se essa fosse uma criança ou falar sobre ela, em vez de diretamente para ela.

Não é tão difícil encontrar palavras que não ofendam nem prejudiquem outras pessoas. Você pode começar se referindo à pessoa com deficiência com o termo correto, outras formas de se referir são erradas e, consequentemente, pejorativas. Você também pode (e deve) parar de usar a deficiência como um adjetivo e pior, como xingamentos. Por fim, pare de descrever as pessoas com deficiência com rótulos negativos que contribuem para diminuí-las e defini-las como indefesas, dignas de piedade e caridade. 

E lembre-se: não reduza as pessoas à condição funcional de seus corpos!