No casamento, estão implícitos muitos desafios: as projeções feitas com o companheiro anteriormente ao matrimônio, a bagagem das experiências familiares, o comportamento, os princípios/valores familiares, as frustrações mal resolvidas, os conflitos na infância e tantas outras vivências. Tudo isso, entre outras causas, não raras vezes, podem repercutir na vida a dois, levando ao estresse e sofrimento psicológico-emocional, e, consequentemente, podendo contribuir no desgaste e até mesmo ao rompimento do enlace marital (QUISSINI; COELHO, 2014).
O livro “A escolha do cônjuge: um entendimento sistêmico e psicodinâmico” traz dois olhares acerca do ritual do casamento, sendo a visão sistêmica e a visão psicanalítica. Segundo Iara (2000), muito observa-se na prática clínica que não há parceria que se forme sem uma intenção individual, sendo, principalmente o casamento, o fechamento de um círculo já iniciado desde sua concepção, em sua família e em sua sociedade.
No sentido psicanalítico, há um paradoxo no que tange às escolhas do ser humano, pois mostra que ele não tem o poder de decisão que imagina ter, mas também não pode inocentar-se perante seus insucessos (IARA, 2000). Ou seja, em se tratando de casamento, percebe-se aspectos inconscientes que delineiam a escolha do cônjuge, mas ao mesmo tempo, percebe-se a responsabilidade de cada envolvido na relação respeitar o outro e não querer moldá-lo ao seu gosto.
Com isso, a sistêmica diz que a medida que alguém passa a conhecer-se melhor, tomar decisões, ter mais tolerância as frustrações e se comunicar de forma mais clara com o outro, os conflitos interpessoais se reduzem e são resolvidos mais rápido e facilmente. Isso por quê se um muda, o outro não consegue permanecer o mesmo (IARA, 2000).
Os valores familiares constituídos por padrões comportamentais, crenças, princípios, ritos e costumes são levados de geração em geração. O nosso psiquismo registra as raízes familiares, transmitidas por meio dos comportamentos, que permeiam as relações no presente e as delineiam para o futuro. Ao deparar-se com as divergências culturais familiares um do outro a relação se estabelece e se concretiza (GROISMAN, 2006).
Nesse sentido, a abordagem sistêmica e psicanalítica, respectivamente, referida por Féres-Carneiro (2005); Magalhães e Féres-Carneiro (2007); Zorning (2010) classificam a família como possuidora de poder geracional, construindo em todos os seus membros transmissões psíquicas que são compartilhadas de maneira ampliada no seu sistema, de modo a constituir hierarquias e as demais relações sociais dentro desse funcionamento circular.
REFERÊNCIAS:
ANTON, Iara L. Camaratta. A escolha do cônjuge: um entendimento sistêmico e psicodinâmico. 1ª reimp. Artmed, Porto Alegre, 2000.
QUISSINI, Cintia; COELHO, Leda R. Maurina. A influência das famílias de origem nas relações conjugais. Pepsic, Pensando fam. vol.18 no.2 Porto Alegre dez. 2014. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-494X2014000200004. Acesso em: 03 set. 2016.