Com devidos mecanismos de desenvolvimento de habilidades e convivência social aliados a métodos de aprendizagem, os portadores da síndrome de Down podem ter uma vida social plena
O filme Colegas (2013), de Marcelo Galvão é o primeiro filme brasileiro protagonizado por atores com síndrome de Down. O enredo, inspirado nos filmes americanos Little Miss Sunshine (2006) e Thelma & Louise (1991), se desenvolve ao redor de três grandes amigos portadores de Síndrome de Down que viviam juntos em um instituto e fogem em um carro conversível em busca de seus sonhos: Stallone sonha em conhecer o mar, Márcio sonha em voar e Aninha sonha em ter um namorado músico e casar. Entre aventuras e confusões, eles vivem essa aventura como se a vida não passasse de uma simples brincadeira.
Nota-se que os valores compartilhados pelo trio são específicos e diferenciados dos valores sociais correntes. Percebe-se no relacionamento entre os três uma relação de poder bastante definida, onde Stallone assume a liderança e conduz os outros amigos. É notória a influência do filme Thelma & Louise, praticamente decorado por Stallone, denotando que pode ser profundo o nível de aprendizagem, a qual é replicada no decorrer de toda a aventura.
Dentre as características físicas mais facilmente perceptíveis, destacam-se os olhos com fendas palpebrais oblíquas, rosto largo e achatado e orelhas pequenas, além das largas e pequenas mãos e uma única prega palmar transversal. O pescoço é curto e a musculatura é mais flácida, dentre outras particularidades. Tais características são resultantes das alterações genéticas protagonizadas pela Trissomia 21. A pessoa com essa síndrome apresenta 47 cromossomos em suas células. Tendo no par 21 três cromossomos em vez de dois.
Os personagens apresentam graus diversos da síndrome de Down, o que pode ser notado claramente com a ação do atendente do motel (que também apresenta a síndrome) que age com infantilidade negando a existência de vagas quando o claviculário estava repleto de chaves.
Também fica patente o atraso no desenvolvimento intelectual nas cenas em que o trio teve que pagar por algo que consumiu (o retratista, o taxista, o comércio na beira da estrada e o restaurante), bem como a falta do senso de responsabilidade (apropriação do automóvel). A dificuldade nas relações comportamentais sociais fica vincada quando, confrontando a regra social, adentram o ônibus de excursão e quando Márcio se comunica com outra criança no banco do ônibus.
O filme mostra também que há possibilidades de um amplo desenvolvimento de habilidades como a capacidade de Márcio em se relacionar sexualmente com uma pessoa não portadora da síndrome. É necessário lembrar que, antigamente, os portadores da síndrome de Down eram excluídos e impedidos de viver uma vida social plena devido à ausência de informações suficientes acerca da síndrome dentro da sociedade, haja vista que os portadores de Down são capazes de realizar tarefas complexas e relacionarem-se com relativa facilidade, fruto de mecanismos de desenvolvimento de habilidades.
Logo, a recorrência de Stallone de mostrar a arma denota comportamento repetitivo, próprio de portadores da síndrome. Tal limitação pode afetar o aprendizado na interação com o ambiente. Desse modo, deveríamos considerar que, com devidos mecanismos de desenvolvimento de habilidades e convivência social aliados a métodos de aprendizagem, os portadores da síndrome de Down podem ter uma vida social plena sem serem estereotipados pela sociedade.
REFERÊNCIAS:
ALVES, Maria Lúcia Silva; OLIVEIRA, Iran Johnathan S. Síndrome de Down: determinantes e desafios. Em foco, 2012.
Barry J. Wadsworth, (1997) Inteligência e Afetividade da Criança na Teoria de Piaget: 5ª Edição, São Paulo, EDITORA XX.
FICHA TÉCNICA DO FILME:
COLEGAS
Diretor: Marcelo Galvão
Elenco: Ariel Goldenberg, Rita Pokk, Breno Viola, Lima Duarte;
País: Brasil
Ano: 2013
Gênero: Aventura/Comédia
Prêmios: Festival de Gramado – Melhor Direção de Arte; Festival de Gramado – Melhor Filme; Festival de Gramado – Longa Metragem Brasileiro; Mostra Internacional de Cinema de São Paulo – Melhor Filme Brasileiro; Prêmio Jovem Brasileiro –Melhor Filme Nacional.