Comprar, comprar e comprar: somos o que consumimos?

Algo cada vez mais frequente em nossa rotina diária: compramos, consumimos e nos desfazemos de coisas o tempo todo.  Se refletirmos sobre a constituição de nossos objetivos, uma parte considerável deles estão associados à aquisição de bens a serem consumidos. Para algumas pessoas seus maiores sonhos e momentos de felicidade estão relacionados a conquista de bens materiais, os melhores carros, celulares, bolsas e sapatos, mas se questionamos um pouco essa relação, podemos analisar se no final das contas, realmente precisamos de todos estes pertences para sermos felizes, em uma eterna corrida para acumular dinheiro e comprar, comprar e comprar. 

Para grande parte da população seu dia a dia se resume em acordar, trabalhar, dormir, acordar e trabalhar de novo, sempre visando o momento em que o esforço será compensado. Normalmente esse momento se configura no ato de consumir. Na televisão, revistas, redes sociais e até mesmo nas ruas, em outdoors, as propagandas não vendem só um objeto com uma utilidade, mas um ideal de felicidade, conquista e realização pessoal. 

Nosso dever é ser feliz e a felicidade implica o consumo. Como salienta Baudrillard, a aquisição dos objetos na nossa sociedade traduz-se pela ilusão de que o consumo pode preencher a demanda de felicidade. Os objetos neste registro simbólico são marcados por uma equivalência entre possuir bens e usufruir a felicidade. Deste ponto de vista, a referência à felicidade articula-se com a ideologia igualitária-individualista do bem-estar, na qual o conforto e o bem-estar passam a ser sinônimo de felicidade, assim como permitem uma espécie de mensuração da igualdade (FORTES, 2009, p. 1127).

A cultura do consumo é instituída na vida cotidiana, com a frequente criação de coisas indispensáveis para se ter, tornando impossível que se alcance a satisfação plenamente, pois sempre vai existir um novo item para se cobiçar. Ainda que você consiga comprar aquilo que almeja, em pouco tempo surgirá  um produto “melhor”, e o mal estar persistirá.

Fonte: encurtador.com.br/vB029

Lançado em 2009 o filme “Os Delírios de Consumo de Becky Bloom” acompanha a saga de Becky, uma compradora compulsiva, com uma enorme dívida a personagem reflete sobre a sensação despertada pelo ato de consumir: “Porque quando faço compras, o mundo fica melhor. O mundo é melhor. E depois já não é mais. E eu preciso comprar de novo.”. No filme assim como na vida real, os produtos desejados pela personagem são substituídos por outros, a felicidade não dura, as propagandas remodelando bens de consumo em desejos, fomentando a crença de que precisamos consumir cada vez mais, porém assim que adquirido o produto parece perder o valor, e o ciclo recomeça.

No atual contexto social pode-se reconhecer de maneira errônea o consumo como sinônimo de felicidade, conquista, prestígio social, como se por intermédio da ação de consumir o status pessoal fosse elevado, porém quase sempre isso se configura em uma armadilha bem arquiteta, pois a alegria sentido após uma compra é breve, com sujeitos fardados a buscar essa satisfação comprando novamente, ainda que raramente se use verdadeiramente tudo o que é comprado, por fim a felicidade prometida não passa de propaganda enganosa. 

Referências:

FORTES, Isabel. A psicanálise face ao hedonismo contemporâneo. Revista mal-estar e subjetividade, Fortaleza, vol. 9, n. 04, pp. 1123-1144, dez. 2009.