Freud: um divisor de águas na modernidade

Um dia, quando olhares para trás, verás que os dias mais belos foram aqueles em que lutaste. – Sigmund Freud

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Freud, odiado por alguns e amado por muitos. É conhecido como o pai da psicanálise, também apontado equivocadamente como um completo tarado – sua teoria da sexualidade -, e um tanto arrogante. No entanto Freud teve uma vida simples como milhões de meros mortais. Nasceu em um ambiente construído com alicerces financeiros escassos, vivendo em uma sociedade opressora que vivencia um momento de crise. O próprio Freud, em uma de suas análises pessoais, declara: Fui um homem afortunado; na vida nada me foi fácil.

O pai da psicanálise foi registrado como Sigismund Schlomo Freud. Nasceu em Freiberg, Morávia (hoje Pribor, República Tcheca) no dia 6 de maio de 1856. Era o filho caçula entre 7 irmãos. Sua mãe, Amalie Nathanson, foi a terceira esposa de Jacob Freud, seu pai. Jacob teve outras 2 esposas, sendo viúvo de ambas.  Freud possuía dois meio-irmãos mais velhos (Emmanuel e Philippe) de casamentos anteriores de seu pai. Freud foi o primogênito (de Amalie) de sete irmãos: Julius, Anna, Débora, Marie, Adolfine, Pauline e Alexander.

Os pais de Freud eram judeus provenientes da Galícia ucraniana e da Renânia alemã. Jacob sustentava a família através do comércio de lã e tecidos. Devido uma crise financeira, advinda dos avanços da Revolução Industrial na Europa, a família passou por uma grande dificuldade financeira, optando mudar-se para Leipzig, na Alemanha, em 1859. Ainda pelo mesmo motivo, em 1860 mudaram-se para Viena, época em que Freud tinha apenas 4 anos de idade.

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Freud teve uma infância permeada por proteção materna, ciúmes da mãe e rancor por parte de seus irmãos. Sendo uma criança/adolescente inteligente e mimada pelos pais. Seus irmãos muitas vezes eram impedidos de fazer suas atividades, como tocar piano, para não atrapalhar os estudos de Freud. Tal estímulo resultou no posto de líder de sua classe colegial e na entrada antecipada de 1 ano (habitual da época) na Universidade de Medicina de Viena, com apenas 17 anos de idade.

´´I enjoyed special privileges there, and had scarcely ever to be examined in class. Although we lived in very limited circumstances, my father insisted that, in my choice of a profession, I should follow my own inclinations alone. Neither at that time, nor indeed in my later life, did I feel any particular predilection for the career of a doctor.“ – Sigmund Freud (1925)

Freud (1925) diz ter iniciado o gosto pela leitura através da Bíblia, o que serviu como guia de muitos interesses futuros. Através de uma boa relação de amizade com um colega escolar, que cresceu e tornou-se um conhecido político, nasceu em Freud o desejo de estudar direito e de desenvolver atividades sociais. As teorias de Darwin também lhe foram de grande influência, pois na visão de Freud, era construída por uma extraordinária compreensão de/do mundo.

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O Partido Nazista governado por Hitler (Alemanha) deu inicio a Alemanha Nazista, que iniciou em 1933 e foi até 1945. No entanto, em 1873 Freud já sentia um pouco da crueldade que estava por vir. Ele declara (Freud, 1925) ter tido decepções na Universidade, causada por sua descendência judaica. As pessoas o diminuíam por sua raça, o que causou nele vergonha e futuramente um arrependimento por ter criticado, em alguma medida, a sua descendência judaica.

As vezes nós também racionalizamos, quer dizer, tentamos mostrar a nós mesmos, e aos outros, que temos outros motivos para fazer o que fazemos em certas situações, e não revelamos os reais motivos que nos levaram a agir de certa maneira, simplesmente porque eles são constrangedores demais. – Sigmund Freud

Aos poucos foi se familiarizando com o ambiente universitário. Mas nos primeiros anos declarou que suas peculiaridades, limitações e ânsia juvenil o impediram de maior sucesso em muitos departamentos da ciência. Nesta fase de sua vida, o pai da psicanálise cita Mefistófeles como aprendizado: Em vão você vagueia cientificamente / Todo mundo aprende apenas o que ele pode aprender.

Como todo profissional aspirante, Freud sentia necessidade de identificação amiga e de reconhecimento profissional. No laboratório de Ernst Brucke ele declara ter encontrado descanso e satisfação. Encontrou homens que respeitou e teve como inspiração. Diz ter sido um privilégio ter trabalhado com Brucke e uma enorme satisfação em ter conseguido resolver um problema de histologia do sistema nervoso passado por seu superior.

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Tornou-se Doutor em Medicina em 1881. Em 1882 recebeu um conselho do professor, que mais tinha afeto, de deixar o laboratório fisiológico e entrar no Hospital Geral como aspirante, mas logo foi promovido a Sekundararzt (médico da casa), trabalhando em diversos departamentos do hospital, inclusive na área do psiquiatra Theodor Hermann Meynert. Foi através dos trabalhos de Maynert com personalidade que Freud ficou bastante impressionado e curioso com o assunto.

Em 1877, Freud resolveu mudar seu nome para Sigmund Freud. Adquiriu licença da universidade para prestar o serviço militar obrigatório (1879 e 1880), que lhe rendeu grande experiência em traduções para alemão, já que neste período realizou traduções dos textos em inglês do conhecido filósofo e economista Johh Stuart Mill. Foi neste mesmo período que adquiriu seu hábito por fumar, que se tornou símbolo em suas fotografias pessoais, consagrando este costume até sua morte.

Desde muito cedo, Freud esteve sempre à frente de sua época. Ainda no Hospital Geral de Viena se dedicou a pesquisa científica e iniciou um estudo sobre os efeitos terapêuticos da cocaína (pouco conhecida na época). Em seguida conseguiu uma licença do hospital para trabalhar em parceria com o psiquiatra Jean-Martin Charcot no Hospital Saltpêtrière, em Paris. Charcot estava no momento pesquisando sobre os efeitos terapêuticos da hipnose no tratamento de doenças de cunho emocional (histeria), o que causou em Freud grande interesse pelo assunto e mal ele sabia que este assunto se tornaria uma de suas marcas e lhe traria grande reconhecimento futuro.

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Em 1896, Freud passou a anotar e analisar seus próprios sonhos, raízes e neuroses. Tais anotações resultaram em uma de suas obras mais marcantes e que alavancou seu nome: a obra A Interpretação dos Sonhos. Para Freud “O sonho é a satisfação de que o desejo se realize”. A meu ver Freud foi seu próprio instrumento de trabalho, pois através de uma autoanálise concluiu que sua hostilidade com o pai se dava devido o ciúme e sentimento de posse que sentia por sua própria mãe, análise que mais tarde resultou na teoria do “complexo de Édipo“, que se torna o oxigênio da futura teoria de Freud que se trata da origem da neurose.

“Certamente. O psicanalista deve constantemente analisar a si mesmo. Analisando a nós mesmos, ficamos mais capacitados a analisar os outros. Os outros descarregam seus pecados sobre ele. Ele deve praticar sua arte à perfeição para desvencilhar-se do fardo jogado sobre ele.” (Entrevista concedida por Freud ao jornalista George Viereck em 1926)

Freud, Alfred Adler e outros pesquisadores fundaram, em 1902, a primeira sociedade psicanalítica: a Sociedade Psicológica da Quarta-Feira de Cinzas. Em 1905, Freud teorizou sobre a sexualidade infantil (em que recebeu muitas críticas na época) em “Três ensaios sobre a sexualidade”. Carl Gustav Jung foi o primeiro não judeu a participar do grupo, sendo admitido em 1907. Freud foi criticado por muitos cientistas; sua primeira aceitação da Psicanálise (método para investigar os processos inconscientes do psiquismo), no meio científico, se deu por meio de um convite para participar de conferências no EUA. Mas apesar de muitos adeptos, a psicanálise foi sendo segmentada por diferentes teóricos do mundo. Alguns deles foram: Jung, Adler e Melaine Klein.

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Freud por sua vida inteira teve uma posição financeira modesta. Com a ascendência do nazismo na Alemanha, em 1938 se refugiou na Inglaterra devido a sua raça judaica. Em 23 de setembro de 1939 veio a falecer, com 83 anos de idade, em consequência de câncer no palato. O grande teórico psicanalítico encontra-se sepultado no crematório de Golders Green, no bairro de Golders Green, em Londres, na Inglaterra. Até hoje vive na mente e coração de milhares de adeptos e críticos de sua teoria.

CONTRIBUIÇÃO PARA A PSICOLOGIA

Apesar de médico, Freud teve um enorme impacto no campo da psicologia; é considerado o pai da psicanálise. A meu ver, Sigmund deu luz à Psicologia, surgindo a partir dele novos adeptos e novas abordagens de tal ciência. Seu olhar clínico fugiu apenas do fisiológico e foi direcionado também, ao campo psicológico e cultural.  Seus escritos abriram o leque de compreensão da personalidade, desenvolvimento humano e da psicologia clínica. A partir da psicanálise, Freud influenciou muitos psicólogos: Anna Freud (sua filha), Melanie Klein, Karen Horney, Alfred AdlerErik EriksonCarl Jung e Lacan.

A aceitação de processos psíquicos inconscientes, o reconhecimento da doutrina da resistência e do recalcamento e a consideração da sexualidade e do complexo de Édipo são os conteúdos principais da psicanálise e os fundamentos de sua teoria, e quem não estiver em condições de subscrever todos eles não deve figurar entre os psicanalistas- Sigmund Freud

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LINHA DO TEMPO

 1856: Nasceu (Freiberg – Morávia)

1859: Mudou-se para Viena

1873: Registradou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Viena

1878: Mudou seu primeiro nome “Sigismund” para “Sigmund”

1881: Alcançou seu doutorado em Medicina

1882: Trabalhou como assistente de pesquisa no Instituto de Fisiologia Ernst Brcke

1889: se tornou bolsista em Nancy, com Libault e Bernheim: estudos de hipnose

 1896: Intitulou seu tratamento como Psicanálise

1900 : Publicação do livro “Traumdeutung” / “A Interpretação dos Sonhos”

1908: Fundou a “Associação Vienense de Psicanálise”

1909: foi convidado a palestrar na universidade de Worcester, Massachusetts (EUA)

1910: Fundou a “Associação Internacional de Psicanálise”

1938: Invasão nazista a Viena, que resultou em sua saída da mesma

1939: faleceu no dia 23 de setembro

OBRAS

(1895) Estudos sobre a histeria

(1900) A Interpretação dos Sonhos

(1901) A Psicopatologia da Vida Cotidiana

(1905) Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade

(1905) Fragmentos de análise de um caso de histeria

(1923) O Ego e o Id

(1930) O mal-estar na civilização

(1939) Moisés e o Monoteísmo

BRIOGRAFIAS

Jacaré, Roland (1990). FREUD
Roazen, Paul (1992). Freud and His Followers
Gay, Peter (1998) Freud – Uma Vida Para o Nosso Tempo
Ferris, Paul (1999). Dr. Freud: A Life
Breger, Louis (2000). Freud: Darkness in the Midst of Vision – An Analytical Biography

REFERÊNCIAS:

An Autobiographical Study Sigmund Freud (1925). Disponível em < http://www.mhweb.org/mpc_course/freud.pdf > – Acesso em 22/03/2018;

WELL, Very. Biografia de Sigmund Freud – Resumo. Disponível em < http://psicoativo.com/2016/07/biografia-de-freud-resumo.html > – Acesso em 22/03/2018;

Sigmund Freud/Biografia. Disponível em < https://pt.wikibooks.org/wiki/Sigmund_Freud/Biografia > – Acesso em 22/03/2018;

FRAZÃO, Dilva. Sigmund Freud: Psiquiatra e neurologista austríaco. Disponível em < https://www.ebiografia.com/sigmund_freud/ > – Acesso em 22/03/2018;

LUDWIG, Carlos, WOLSCHICK, Isaura e SOARES, Loane. A Alemanha: Nazismo, Socialismo e Literatura. Disponível em < http://w3.ufsm.br/revistaideias/Artigos%20revista%2013%20em%20PDF/nazismo.pdf > – Acesso em 22/03/2018;

BREGER, Louis (2000). Freud o lado oculto do visionário. São Paulo: Manole, 2002.

Psicóloga egressa do Ceulp/Ulbra. Pós-graduanda em Terapia de casal: abordagem psicanalítica (Unyleya). Colaboradora do Portal (En)cena.