É comum e acredito que todos que tenham um mínimo de estudo acadêmico já tenham ouvido falar na tal contemporaneidade, essa palavrinha bonita, que soa um tom diferenciado e complexo define a realidade da nossa atual sociedade. A partir dos anos 80 e 90 com a implantação da informática, a facilidade de trocar informações, a velocidade em que as informações podiam ser transmitidas e recebidas, possibilitou ao homem a capacidade de superar as distâncias.
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A pós-modernidade, a qual estamos vivenciando hoje, nos trouxe uma gama de possibilidades, prazeres e superações incríveis, como por exemplo, a mutação genética, a robótica, os computadores que são capazes de pensar pelos seus donos, a previsão quando possível dos fenômenos da natureza, a descoberta de galáxias e planetas, jogos eletrônicos, os aviões, os carros luxuosos, a energia eólica, o pré-sal, entre tantos outros.
A busca de conhecimento na pós-modernidade trouxe sim coisas maravilhosas para a humanidade, possibilitou a cura de doenças, o congelamento de corpos vivos para serem descongelados anos depois, partes do corpo humano robotizado, a fim de proporcionar ao outro uma melhor qualidade de vida, quando o mesmo já não tem mais um dos membros. As descobertas, inovações, o que se pode tirar de proveito de todo esse saber é imensurável.
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Porém será que estamos fazendo isso com sabedoria e limitação? Segundo Lipovetsky & Charles (2004) a nossa sociedade, tão inteligente e criativa tornou-se escrava do próprio produto. Só é possível ser feliz se tivermos o último lançamento daquele carro importado, do celular, dos utensílios domésticos, o homem é refém do próprio trabalho, pois já não pensa sem uma memória de computador, não grava mais seus números de telefone na cabeça porque o celular, o tablete, o e-mail, já fazem isso por ele.
A vontade de ter cada vez mais para então ser mais feliz ou encontrar a felicidade num pote de ouro, mas o pote não aparecerá no fim do arco íris; o homem pós-moderno tem consciência disso e por isso trabalha cada dia um pouco mais. Nesse ritmo de conquistar o que não se precisa, só lhe resta tempo para si, para a supervalorização do seu corpo, seu cabelo, suas roupas, seus bens, seus lucros. O outro só é importante se puder lhe oferecer algo em troca, pode ser status, dinheiro, mas em último caso amor, embora o homem também precise, mas para isso ele compra um cachorro e está tudo resolvido, afinal tudo se resolve na base do dinheiro, eu compro um cachorro, automaticamente compro afeto.
Neste ínterim, nossa sociedade é caracterizada pelo consumismo excessivo. “Nasce uma nova sociedade moderna. Trata-se não mais de sair do mundo da tradição para aceder à racionalidade moderna, e sim de modernizar a própria modernidade […]” (LEPOVETSKY & CHARLES, p. 56, 2004).
Em concordância com os autores Lepovetsky e Charles (2004), a hipermodernidade nos rouba o que temos de mais precioso, o tempo. Não temos tempo mais para nos amar, nos observar, para refletir sobre nossas vidas, nossos atos, essa hipermodernidade nos aprisiona em nós mesmos de modo que não percebemos que estamos perdidos num mundo predominantemente fictício. Não são reais as fotos visualizadas nas redes sociais, a felicidade comprada também não existe, o dinheiro, os bens, a tecnologia não traz felicidade, então porque corremos tanto atrás disso, acreditando que é sinônimo de felicidade? Porque não conseguimos enxergar a verdade por trás da informação? Estamos acorrentados em nós mesmos e o pior, estamos presos por vontade própria.
Somos ensinados desde a escola a não pensar, não criticar e aceitar o que já é determinado, somos ensinados a nos conformar com a vida que temos, ou somos incitados a trabalhar e buscar a vida que queremos ter. Na segunda opção nos tornamos escravos da falácia pós-moderna de que se trabalharmos mais e mais, teremos o que desejamos. O que é uma grande mentira, pois não existe lugar para todos no topo da pirâmide da classe social.
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Os autores Lepovetsky e Charles (2004), relatam que a pós-modernidade com seu turbilhão de informações, deveres, novidades, atualizações no mercado de trabalho, a busca frenética pelo novo, traz algumas consequências.
“Com a precarização do emprego e desemprego persistente, crescem os sentimentos de vulnerabilidade, a insegurança profissional e material, o medo da desvalorização dos diplomas, as atividades subqualificadas, a degradação da vida social. Os mais jovens temem não achar lugar no universo do trabalho e os mais velhos, perder definitivamente os deles.” (LEPOVETSKY; CHARLES, 2004, p. 71)
O imediatismo da pós-modernidade carrega em si um agravante social, o aumento do índice de desempregados e pessoas incapacitadas para continuar em suas profissões, uma vez que devem estar o tempo todo se atualizando, e assim como as máquinas, serão substituídos. Como é possível ter uma vida social, lazer, familiar, profissional, acadêmica e não deixar nenhum ponto de fora? É possível se dividir em mil pedaços sem que um lado fique prejudicado? Eu me pergunto, como uma mulher casada, com filhos, profissional, trabalhadora dentro e fora do lar, conseguiria acompanhar as dinâmicas da pós-modernidade e ainda acompanhar de maneira integral e com devida importância o desenvolvimento dos seus filhos e dar atenção ao seu marido, que assim como ela deve estar na mesma luta? Como esse casal/família conseguiria se desenvolver de forma saudável?
Atualmente a sociedade do século XXI, possui um grande desafio, o de não perde a sua humanidade, fazer da tecnologia e da ciência apenas meios de facilitar a vida, não permitir que o homem se torne robóticos ao ponto de trabalhar demais e mesmo assim ser trocados e substituído, quando apresentar a incapacidade para a atualização, assim como já ocorre com as máquinas.
Referência
LIPOVETSKY, Gilles; CHARLES, Sébastien. Os tempos Hipermodernos. Tradução: Mario Vilela. – São Paulo, Editora: Barcarolla, 2004.