No dia 01 de junho de 2017 deu-se início ao III Fórum Internacional: novas abordagens de saúde mental, no Rio de Janeiro – RJ. O evento que tem como linha teórica “práticas alternativas em Saúde Mental” e “boas práticas no Brasil em Saúde Mental”, objetiva debates e trocas com usuários do serviço de Saúde Mental, seus familiares e profissionais da área. No presente relato, discorrerei sobre a apresentação do norte americano Oryx Cohen.
Psicólogo, diretor do Centro de Assistência Técnica do Centro Nacional de Empoderamento (NEC) e ex-paciente psiquiátrico, Oryx Cohen fez uma introdução à abordagem CPR Emocional (eCPR), em que “o processo de conexão do eCPR envolve o aprofundamento das habilidades de escuta, a prática da presença e a criação de uma sensação de segurança para a pessoa que enfrenta uma crise” (eCRP, 2015). Para contextualizar tal abordagem, ele citou Carl Gustav Jung como o criador do arquétipo do curador ferido, e que assim como o autor, ele também se considera curador ferido, isto é, durante sua colaboração no processo de cura do outro desenvolve-se a cura de si mesmo, tudo isto através de uma conexão mútua.
O apresentador comentou o primeiro diagnóstico de doença mental foi o de drapetomania, na época da escravidão. Esta é, segundo o seu criador Dr. Cartwright (1851), “a causa na maioria dos casos, que induz o negro a fugir do serviço, é tanto uma doença da mente como qualquer outra espécie de alienação mental, e muito mais curável, como uma regra geral”. Uma das sugestões de tratamento era a amputação dos dedos hálux, de forma que impedisse equilíbrio e a fuga destes escravos.
Do mesmo modo que tal diagnóstico de 1851 é considerado um absurdo atualmente, daqui a alguns anos futuros iremos considerar um despautério a grande quantidade de diagnósticos que são criados diariamente, principalmente nos Estados Unidos, afirmou o palestrante. Nesse sentido, vale ressaltar que “Pesquisadores e psiquiatras norte-americanos, argentinos, franceses e brasileiros têm denunciado o papel mercadológico da indústria farmacêutica em função das campanhas que têm desenvolvido para comercialização em massa de remédios voltados para a área de transtornos mentais e de comportamento” (CFP, 2012).
Para um modo de atuação mais sensato, onde deixa-se de enxergar estas pessoas como doentes mentais e foca-se na suposição de que elas estão apenas reagindo a problemas (sociais ou na comunidade), o apresentador propõe que precisamos aprender a ouvi-las. Isto caracteriza-se como uma forma de empoderamento, que é o que a própria sigla eCPR significa seus principais componentes: E – emocional, C – conexão, P – empoderamento; R – revitalização. Portanto, é através destes três passos que se torna possível amparar o outro através de uma crise emocional, de maneira que o ajude a recuperar sensação de segurança e propósito de vida (NEC, 2014,).
Nisso, o Emotional CPR mostra-se eficaz em seu método, pois possibilita uma conexão emocional com estes indivíduos, ao modo que a atenção ultrapassa o nível intelectual e utiliza-se da linguagem informal (do dia-a-dia).
“O eCPR baseia-se nos princípios encontrados para ser compartilhado por uma série de abordagens de suporte: cuidados informados por trauma, aconselhamento após desastres, apoio aos pares para evitar o contínuo desespero emocional, inteligência emocional, prevenção de suicídios e sintonização cultural. Foi desenvolvido com a contribuição de um grupo diversificado de líderes reconhecidos de todo os EUA, que eles mesmos aprenderam a se recuperar e crescer a partir de crises emocionais. Eles têm sabedoria pela graça da experiência de primeira mão” (eCPR, 2015).
REFERÊNCIAS:
CARTWRIGHT, S.A. Doenças e Peculiaridades da Raça Negra. Bow’s Review. Southern and Western States, Volume XI, Nova Orleans, 1851 AMS Press, Inc. Nova York, 1967. Disponível em: <http://www.pbs.org/wgbh/aia/part4/4h3106t.html>. Acesso em 01 jun. 2017.
Conselho Federal de Psicologia (CFP). (2012). Subsídios para a campanha Não à medicalização da vida: medicalização da educação. Brasília, DF: Conselho Federal de Psicologia. Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas – CREPOP. (2007). Referência técnica para atuação do(a) psicólogo(a) no CRAS/SUAS. Brasília, DF: Conselho Federal de Psicologia.
eCRP. O que é eCPR? Disponível em: <https://www.emotional-cpr.org/about-ecpr.htm>. Acesso em 01 jun. 2017.
National Empowerment Center, Inc (2014). PR emocional: Salvando Vidas, Comunidades de Cura. Disponível em: <http://www.power2u.org/emotional-cpr.html>. Acesso em 01 jun. 2017.