“Um país se faz com homens e livros.”
Monteiro Lobato
José Bento “Monteiro Lobato”, ativista político, escritor, criador da literatura infantil no Brasil e grande influenciador na época em que viveu. Era um homem com uma personalidade forte, individualista por formação e temperamento porém destoante das rígidas tradições vigentes em seu tempo. Mas tudo isso ia por terra quando apareciam as crianças, tinha uma qualidade de agradá-las tanto em sua escrita quanto pessoalmente quando elas chegavam para ouvir suas histórias, que muitas vezes, eram inventadas na hora em que as contava.
Nascido em 18 de abril de 1882, no interior de São Paulo, na cidade de Taubaté, sempre teve boas condições de vida. Após a morte precoce de seus pais, Lobato passou a morar com o avô, que tinha um título de nobreza e uma fazenda na qual ele trabalhou, e logo depois herdou-a. Sob as ordens de seu avô, graduou-se em Direito porém sua paixão sempre foi a escrita e a literatura. Inclusive em uma entrevista Lobato disse:
“Eu perdi tempo escrevendo pra gente grande.”
Monteiro Lobato
Viveu o pré-modernismo, período de intensa movimentação literária que marcou a transição entre o simbolismo e o modernismo. Seguindo essa escola da literatura, ele publicou seu primeiro livro “Urupês”, onde um dos contos que o compunha contava sobre a vida de Jeca Tatu personagem baseado em experiências reais, que ganhou grande fama na época da publicação, pois Lobato acabou com a imagem que a literatura tinha construído a respeito do homem do campo com a ideia do caboclo feliz e sem ambições.
Através do Jeca Tatu, Monteiro Lobato fez críticas ao saneamento básico e a saúde pública após ver notícias sobre a precariedade de um bairro do Rio de Janeiro, mas ao mesmo tempo utilizava de anúncios, contos e tirinhas para conscientizar a população sobre a gravidade da situação e de certa forma pressionar a alta sociedade para que algo fosse feito.
Lobato foi o primeiro escritor a se preocupar com os aspectos ilustrativos nos livros, utilizando-se disso iniciou sua verdadeira paixão: escrever para o público infantil. Seu primeiro livro para as crianças foi “A menina do Narizinho Arrebitado” e foi publicado em 1920. A partir desse, surgiu o famoso e aclamado “Sítio do Picapau Amarelo” que teve 23 volumes que foram publicados entre 1920-1947, onde Monteiro Lobato utilizou-se das memórias da fazenda de seu avô para construir o local da história e os personagens.
Como principal protagonista pode-se destacar Emília, a boneca de pano que falava tudo o que lhe vinha na cabeça sem papas na língua. O que muitos não sabem é que a personagem foi inspirada em uma menina real, na época filha de um amigo de Lobato. Ele a observava enquanto ela brincava sem que o visse, para que fosse algo espontâneo e genuíno. Mas também existe a teoria de que Emília era um pouco do irracional do escritor, que falava as verdades que ele queria dizer e não podia.
A literatura de Lobato fez tanto sucesso pois misturava realidade e fantasia com uma linguagem coloquial e acessível. Porém não era em todo o lugar que era bem-vinda, devido sua ferrenha crítica aos padres e a Igreja Católica, acabou tendo grandes desavenças com essa Instituição. Devido a isso as escolas confessionais proibiam seus alunos de ler os livros de Monteiro Lobato e quando conseguiam recolher alguns queimava-os na fogueira em praça pública.
Devido ao grande sucesso do Sítio do Picapau Amarelo na literatura, assim que surgiu a televisão a história e os personagens foram transformados em seriado, levados pela Tv Tupi em 1950 como a primeira série brasileira.
Infelizmente Monteiro Lobato não se limitou apenas a escrita de seus livros, mas também foi um epicentro de polêmicas e contradições: criticava o movimento modernistas com fervor e era abertamente racista— foi membro de uma entidade eugênica, grupo que defendia a pureza racial e acreditava que a miscigenação era um fator prejudicial na formação do Brasil. Em um trecho de uma carta à Neiva, Lobato inclusive defendeu a criação de uma Ku Klux Klan no Brasil:
“Um dia se fará justiça ao Ku Klux Klan; tivéssemos aí uma defesa desta ordem, que mantém o negro em seu lugar, e estaríamos hoje livres da peste da imprensa carioca.”
Monteiro Lobato
Após muitos anos, quando o movimento negro ganhou força no Brasil um de seus livros “Caçadas de Pedrinho”, foi questionado por conter elementos racistas, porém alguns estudiosos que têm o trabalho de Lobato como referência dizem que ele foi mal interpretado e não contém nenhum racismo dentro de suas obras.
Mesmo com essas manchas em sua história de vida não podemos negar que as obras de Monteiro Lobato são extremamente importantes para a literatura brasileira, e que sem ele não haveria uma identidade nos livros infantis, consequentemente um desfalque na educação e na alfabetização das crianças de sua época até os dias atuais. Lobato faleceu em 4 de julho de 1948 aos 66 anos, porém seu legado continua vivo e marcado na história de nosso país.
REFERÊNCIAS:
https://www.todamateria.com.br/monteiro-lobato/
<https://youtu.be/ozrWJz-btl0>
<https://youtu.be/2yjnIlmg7ME>
http://www.mucurycultural.org/2011/03/monteiro-lobato-eugenia-e-o-preconceito.html
https://revistagalileu.globo.com/Cultura/noticia/2018/04/10-fatos-sobre-monteiro-lobato-criador-do-sitio-do-picapau-amarelo.html