Pegar a estrada à procura da liberdade, sem obedecer regras, apenas com a companhia do vento e do asfalto torna-se uma necessidade para o grupo.
Motoqueiros Selvagens (2007), dirigido por Walt Becker, é um filme de comédia e aventura protagonizado pelos atores John Travolta, Martin Lawrence, Tim Allen e Willian H. Mary. O enredo se desenvolve ao redor de quatro amigos entrando na crise da meia-idade que ao perceberem que suas vidas não são nada daquilo que sonhavam, decidem agir de modo diferente. O cotidiano do quarteto é limitado a uma reunião semanal no bar, quando usam suas jaquetas de Motoqueiros Selvagens para beber e se socializar.
Doug é um dentista com complexo de inferioridade. Woody é um executivo rico e carismático que parece ser um grande vencedor, mas sofre com problemas pessoais; Bobby é um encanador desempregado dominado pela esposa que decidiu ficar sem trabalhar por um ano para tentar, sem sucesso, tornar-se um escritor. Dudley é um solteirão, gênio da informática, que tem o incrível dom de se meter em situações constrangedoras. Os quatro têm problemas pessoais e a viagem seria uma boa alternativa de fugir das circunstâncias adversas. Nota-se que o quarteto passa por uma crise existencial de meia idade, envelhecimento. A oportunidade de fazer uma viagem em um momento de insatisfação faz com que eles chutarem o balde, abrindo mão de suas vidas monótonas e realizando uma viagem sem destino definido, sobre duas rodas, sem ligações (inclusive sem celulares) com sua vivência cotidiana.
Pegar a estrada à procura da liberdade, sem obedecer regras, apenas com a companhia do vento e do asfalto torna-se uma necessidade para o grupo.
Segundo Erich Fromm (2000), as necessidades humanas são as que ajudam as pessoas a encontrar respostas às suas existências e significam um desejo de se integrar com o mundo natural, compreendendo o mundo e de que modo este se encaixa nele.
Logo, para Doug, entrar nessa aventura, sendo um homem de meia idade com alguns problemas de saúde (colesterol alto) depois de parar no hospital, foi necessário o incentivo de sua mulher para fazer essa viagem com seus amigos sem destino fixo, estrada afora.
O quarteto forma um tipo de grupo espontâneo secundário onde encontra um lugar, um papel, uma forma de estar, que por sua vez constitui uma maneira de ser (ZIMERMAN, 1997). Sem celulares, GPS ou capacetes, iniciam uma aventura como Motoqueiros Selvagens (que, na verdade, é apenas um nome para o grupo), entrando em contato direto com tudo à sua volta, fazendo parte presencialmente da paisagem, sentindo a realidade e o calor do asfalto que está abaixo dos seus pés, integrando-se totalmente ao clima temporal e sem desvios de consciência.
A viagem, que era para ser uma grande aventura, torna-se frustrante quando o grupo se encontra com os motoqueiros Del Fuegos, onde o líder dessa gangue rouba, através de intimidação, a moto de um dos integrantes.
Woody não concorda com tal comportamento, volta ao bar e usa de sabotagem, cortando a mangueira de combustível das motos do grupo rival. Em decorrência dessa sabotagem, o bar dos Del Fuegos pega fogo e queima totalmente.
O grupo dos Motoqueiros Selvagens tornou-se misto, onde a maioria já estava conformada com a perda da moto, parecendo o mesmo conformismo que levou às frustrações de cada um deles na sua vida pessoal e que impulsionou a viagem. Woody assume outra postura e a conduta de todo indivíduo em grupo é determinada, de uma parte pela dinâmica dos fatos e dos valores (LEWIN, 1965).
Com a moto recuperada, partem para continuar a viagem, mas, por imprudência, ficam sem combustível e agora, com sede e fome, encontram uma cidadezinha acanhada e, desesperados, entram na lanchonete querendo saciar sua sede, o que causou medo nos moradores locais que tinham uma visão estereotipada de que todo motoqueiro tem o comportamento de baderneiro. A pessoa reage conforme suas percepções e não à realidade simplesmente. Reage conforme ao que é confortável ou não com suas cognições (LEWIN, 1965).
O grupo consegue demonstrar que é de paz e acaba comprometido com os problemas que aquela cidade enfrentava com o grupo Del Fuego (esse, sim, composto por baderneiros). A felicidade e a tranquilidade dura até eles perceberem que os Del Fuego chegam e acabam com toda a tranquilidade da pequena cidade. Em meios ao caos, os Motoqueiros Selvagens se escondem até que Dudley tente conversar com o líder. A conversa não foi nem um pouco agradável e o quarteto briga com os integrantes do grupo rival em um efeito manada onde eles fazem aquilo que o líder pede. Entre trapalhadas, demonstrações de coragem e compromisso com os valores morais mais elevados, os Motoqueiros Selvagens enfrentam a gangue Del Fuego e, apesar de numericamente insignificantes ante o grupo rival, conseguem trazer paz à região e agora terão que contar com a sorte para resolver a rixa, mesmo limitados pela idade e usando sempre o bom humor. Ao entrar na briga, os motoqueiros selvagens demonstram seu espírito de união e companheirismo.
Mesmo o filme sendo uma comédia, ele tem um toque de provocação e reflexão acerca do motociclismo, que é um estilo de vida que integra pessoas, continentes, hobbies, paixão e amizade. É uma aceitação social e identificação social dentro do grupo. Há quem viva em função dessa paixão e se dedique plenamente por ter uma relação forte entre o asfalto e a moto.
No final, a ascendência do pai do chefe do bando do Del Fuegos exerce a influência de um líder e acaba com a ação do chefe do bando e, por decorrência, do bando todo, que obedece no efeito manada.
Os Motoqueiros Selvagens simbolizam o verdadeiro espírito e respeito à irmandade, diferente dos Del Fuegos, pois a estrada é de todo mundo e não é de ninguém, já que na estrada não existe um tempo definido, só existe o momento. É preciso ter respeito e paixão!
FICHA TÉCNICA DO FILME:
MOTOQUEIRO SELVAGENS
Título original: Wild Hogs
Direção: Walt Becker
Elenco: John Travolta, Martin Lawrence, Tim Allen, Ray Liotta, Willian H. Mary, Tichina Arnord,kevin Durand
Ano: 2007
País: EUA
Gênero: Aventura/Comédia
Referências:
FROMM, Erich. A arte de amar.Tradução Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
LEWIN, Kurt. Teoria de Campo em Ciência Social. São Paulo:Livraria Pioneira, 1965.
ZIMERMAN, David E et al. Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre:Artes Médicas,1997.