O hiperconsumo e o mal-estar contemporâneo

O relato a seguir refere-se ao Psicologia em Debate realizado no CEULP/ULBRA, sala 203, às 17 horas do dia 26 de abril de 2017. O tema “O impacto do hiperconsumismo na autopercepção” foi apresentado pela acadêmica de Psicologia, Iule Landinho, a partir da obra “Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria”, de Zygmunt Bauman (2008).

Fonte: http://zip.net/bltHRs

 

Conforme a indicação do título do livro, a exposição feita pela acadêmica voltou-se ao consumo excessivo na sociedade. Iule discorreu acerca da modificação da sociedade no que tange à liberdade versus segurança. Para melhor compreender tal colocação, busquei fontes relacionadas à obra de Bauman. A liberdade, pois, é preferível atualmente em detrimento da segurança, uma vez que, no passado, esta última implicava em tempo para construção de um patrimônio – sendo este a salvaguarda futura. Aquela primeira, no entanto, compactua com a proposta da sociedade consumista: estar sempre em movimento, consumir cada vez mais e viver em um “eterno” presente.

Além disso, a acadêmica pontuou quanto ao sofrimento atual que advém da abundância de possibilidades de escolha. Para estar sempre em movimento, a sociedade consumista provê infinitas alternativas, posto que se deve consumir com rapidez e tão logo substituir-se aquilo que se tornou ultrapassado. Por último, destaca-se o status, o pertencimento conferido pelo consumo. Não consumir é quase como não existir.

“Eu quero todas as coisas”.
 Fonte: http://zip.net/bhtJtN

 

As considerações advindas da obra de Bauman são sobremodo relevantes. Durante o debate lembrava-me de outra obra do autor, “A vida fragmentada: ensaios sobre a moral pós-moderna” (2007), que havia lido um pouco antes do evento. Ponderando acerca de todos os pontos debatidos, ascenderam-se minhas inquietações quanto à sociedade atual (e àquela que há de vir!).

É desesperador viver num contexto onde o “ter” determina o “ser” e as mídias sociais, enquanto itens de consumo, aceleradamente tomam o lugar de relações pessoais próximas – e estas, quando aparentemente “próximas”, são apenas episódicas e superficiais, não deixando, portanto, nenhuma consequência no que tange à reciprocidade (BAUMAN, 2007). Igualmente desconcertante é a lógica do rápido consumo e substituição de mercadorias se aplicar às pessoas e relações, afinal, há milhares de possibilidades. Uma pessoa/relação obsoleta pode logo ser descartada e substituída, mantendo o movimento consumista.

Fonte: http://zip.net/bktJwd

 

Considero importantes as reflexões acerca das dinâmicas atuais da nossa sociedade. Seria desejável que todos refletissem e se mobilizassem acerca de tais fatos para modificá-los. É certo que é quase impossível não estar envolvido em alguma forma de consumo. Porém, como expresso em minhas inquietações, anseio por algum nível de libertação das pessoas no que se refere às imposições da sociedade hiperconsumista. Talvez eu deseje algo utópico (“sonhe, Alice”…). No entanto, como afirma Gonzaguinha, “eu fico com a pureza da resposta das crianças…”.

Acredito na valorização do “ser” sem a imprescindibilidade do “ter”, bem como na construção de um patrimônio “pessoal” (conjunto de pessoas); ou seja, que se possa construir relações realmente próximas, recíprocas, onde seja possível encontrar segurança. Que os infinitos bens de consumo não sejam supervalorizados, tampouco utilizados para ocupar um lugar que, entendo, sempre será de pessoas, de contatos!

REFERÊNCIA:

BAUMAN, Zygmunt – A vida fragmentada : ensaios sobre a moral pós-moderna. Lisboa : Relógio d’Água, 2007. 311 p. ISBN 9789727089321