Na atual conjuntura da sociedade global, é incontestável a influência da indústria pornográfica no comportamento de consumo de jovens e adultos. Com o advento da tecnologia, como explicam Baumel et. al (2019), a disseminação de conteúdos sexualmente sugestivos ou mesmo explícitos ganhou ainda mais força, através principalmente da internet, que possibilitou a criação de inúmeros chats, sites e plataformas com essa proposta.
Conceituando pornografia, Postal et. al (2018) definem esse fenômeno como todo tipo de conteúdo que apresenta como principal finalidade estimular excitação sexual em quem consome, através da utilização de materiais sexualmente explícitos. Dias e Oliveira (2016) descrevem pornografia como um sistema de expressão de ideias que mimetiza a realidade, gerando entretenimento através da composição teatral, cenográfica ou performática da sexualidade.
No atual cenário brasileiro, como apontam Baumel et.al (2020) através de dados científicos sobre o assunto, quatro dos cinquenta sites mais populares do mundo são de conteúdo pornográfico. Dentro desse quadro, 71,6% dos acessos ao site Pornhub, o mais popular do gênero, ocorrem através de smartphones, e o Brasil aparece como o 12° país mais consumidor desse conteúdo.
Diante da perspectiva de intenso consumo no país, e também no mundo, há em pauta uma série de questões vinculadas às ideologias, visões de mundo e consequências psicológicas fomentadas pela indústria pornográfica. As discussões feministas, como apontam Dias e Oliveira (2016), atreladas aos movimentos antipornografia, problematizam esse consumo chamando a atenção para a objetificação dos corpos femininos, a promoção do abuso e violência, a erotização da submissão da mulher, entre outros.
No que tange à sexualidade, Postal et. al (2018) explicam que, ao longo do desenvolvimento humano, essa dimensão é permeada por uma série de influências biológicas, psicológicas e sociais. Considerando a importância da mídia e das tecnologias na sociedade atual, e levando em consideração a intrínseca ligação entre a indústria pornográfica e a utilização de ferramentas como a internet, é inegável dizer que há, nesse processo, uma direta influência dos construtos e símbolos gerados por essa indústria na elaboração da sexualidade humana, principalmente no que se refere à juventude.
É possível afirmar que os jovens, expostos às situações performadas e representadas no contexto pornográfico, introjetam conceitos, opiniões, ideias e modelos a respeito do sexo e da sexualidade. A exposição do corpo feminino a situações degradantes, humilhantes, vexatórias e até mesmo vinculadas à banalização do estupro colabora com a internalização de comportamentos sexistas, que acabam por reverberar na vida adulta. Conforme Postal et. al (2018), uma pesquisa que analisou 304 vídeos pornográficos evidenciou a presença de inúmeras formas de agressão à mulher, como espancamentos, engasgos durante a prática do sexo oral, insultos, tapas, sufocamentos, etc.
Dias e Oliveira (2016) também chamam a atenção para outros fenômenos potencializados pela constante exposição aos estímulos pornográficos. De acordo com as autoras, o vício em pornografia é uma consequência bastante comum, e geralmente sucedida pelo vício em sexo e outros distúrbios sexuais. Baumel et. al (2019) também reforçam o vício como uma consequência negativa, e citam também o isolamento social e dificuldade de cumprir atividades do dia a dia.
Outro artigo de Baumel et. al (2020), que consiste em uma revisão sistemática sobre o tema, evidenciou que 32% dos artigos sobre o assunto exploram as consequências da pornografia para a saúde, citando os aspectos mencionados no parágrafo anterior. Além disso, 31% deles falam sobre prejuízos no relacionamento. De acordo com os autores, o consumo de pornografia pode reduzir a satisfação sexual entre casais, promover segredos e infidelidade, reduzir a intimidade, entre outros.
Alguns aspectos socioculturais, ainda de acordo com Baumel et. al (2020), devem ser considerados. Como explicam os autores, a idealização dos corpos e da performance sexual é um fenômeno promovido pelo consumo de conteúdos pornografios, quando os indivíduos são influenciados a crer que, para ter relações sexuais, é necessário ter um tipo específico de porte físico e um determinado desempenho com o (a) parceiro (a). Essa particularidade do consumo exacerbado de pornografia reflete diretamente na autoestima dos sujeitos, principalmente jovens.
É indiscutível o impacto da indústria pornográfica na saúde mental dos espectadores. Os dados aqui levantados evidenciam não só os efeitos psicológicos desse consumo, mas também sociais e culturais. Torna-se urgente, a cada dia, que essa pauta seja cada vez mais discutida, para que as consequências desse fenômeno sejam levadas a conhecimento geral e entendidas como pertencentes a uma problemática que deve ser combatida.
REFERÊNCIAS:
BAUMEL, Cynthia Perovano Camargo et. al. Atitudes de Jovens frente à Pornografia e suas Consequências. Psico-USF, Campinas, v. 24, n. 1, p. 131-144, Jan. 2019;
BAUMEL, Cynthia Perovano Camargo et. al. Consumo de pornografia e relacionamento amoroso: uma revisão sistemática do período 2006 – 2015. Minas Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, 13(1), 2020;
DIAS, Carolina Bouchardet; OLIVEIRA, Adriana Vidal. Impactos da pornografia na saúde dos adolescentes: uma análise a partir dos direitos fundamentais. Departamento de direito, 2016.
POSTAL, Aline Stefane et. al. Possíveis consequências da pornografia na sexualidade humana. Vivências. Vol. 14, N.27: p. 66-75, Outubro/2018;