Por que fazemos o que fazemos? – Uma reflexão acerca da motivação

Qual é o propósito de tudo o que fazemos? O objetivo desta reflexão é buscar ter uma consciência mais aguçada em relação às razões que nos levam a fazer ou a deixar de fazer certas coisas, com base no livro do filósofo e escritor brasileiro Mario Sergio Cortella.

O livro, publicado pela Editora Planeta do Brasil, traz dentro dos seus 20 capítulos, pontos acerca da relevância do propósito no âmbito do trabalho, e como a busca por ser reconhecido e valorizado vai muito além do ganho salarial. Na capa está estampado o desenho de um alvo, remetendo a um objetivo, uma pretensão, algo que se almeja alcançar. No decorrer da leitura, nota-se que ele escreve mais voltado para o ramo empresarial, mas de forma alguma impede que as reflexões sejam levadas para outras áreas de nossas vidas a partir de diferentes associações e interpretações.

A palavra “propósito” em latim significa “aquilo que eu coloco adiante”.

O que estamos buscando? A clareza sobre esta questão dá mais sentido a nossa existência. No primeiro capítulo já nos é apresentada que a ideia de uma vida com propósito retoma um princípio do pensador alemão Karl Marx, do séc. XIX: a recusa à alienação. Alienado é aquele que não pertence a si mesmo. Uma pessoa alienada é alheia a algo. Ela não faz nada com intenção, não têm consciência direta no que produz, está vivendo automaticamente. No trabalho alienado, desumanizado, não existe a percepção autoral.

Fonte: encurtador.com.br/aor89

Atualmente, no ramo organizacional, a consciência do que se faz e o porquê é algo de muito valor. As empresas inteligentes incentivam isso nos funcionários, pois produz engajamento e inovação, que sejam pensadas outras formas de se fazer aquilo que se faz cada vez melhor. Não simplesmente fazer um trabalho de forma robótica e automática. No capítulo 3, “Odeio segunda feira”, aborda como a situação profissional e o desgosto com ela são as grandes causadoras do ódio coletivo à este dia. Na verdade quando a pessoa não se encontra naquilo que faz, precisa rever os propósitos que tem para aquilo que está fazendo. O propósito reordena as nossas ações.

Steve Jobs dizia “que a única maneira de fazer um excelente trabalho é amar o que você faz”. Sim, mas o autor traz a reflexão de que é mais fácil procurar gostar daquilo que se faz do que fazer o que gosta.

É possível ser feliz na empresa?

Segundo Cortella, a felicidade não é possível em lugar nenhum de maneira inteira, exclusiva, hegemônica. Há uma grande obsessão pela ideia da felicidade, e as pessoas acabam vivendo mais a expectativa do que a realização. O autor aborda no capítulo 10 sobre a ética do esforço, que a fixação hedonista de que encontrar prazer no mundo do trabalho, na empresa, é fora de propósito. Que quem entra no circuito do trabalho achando que irá encontrar um prazer imenso acaba se frustrando rapidamente. Porque trabalhar dá trabalho. O prazer de um trabalho bem realizado muitas vezes é a consequência de eventos anteriores não tão gratificantes. Como por exemplo, enquanto estou escrevendo esta resenha (em pleno sábado), estou abdicando de algo que no momento poderia ser muito mais prazeroso. No capítulo 12 ele traz o questionamento “por que eu faço o que faço”? E traz outra pergunta na sequência: “Por que não faço o que não faço?” nos mostrando que não há escolha sem exclusão, não há decisão sem abdicação. Se eu entendo a minha vida como resultante de opção livre, consciente, deliberada, intencional, todas as vezes que escolho, sei que deixo outras coisas de lado.

No contexto da psicologia, há uma diversidade enorme nos conceitos de motivação, e tais conceitos abordados de maneiras muito diferentes.

Vernon (1973) traz um conceito de motivação logo na primeira página do seu livro: Motivação Humana.

“A motivação é encarada como uma espécie de força interna que emerge, regula e sustenta todas as nossas ações mais importantes. Contudo, é evidente que motivação é uma experiência interna que não pode ser estudada diretamente”. (Vernon, 1973, p.11).

No início do trecho citado, motivação é uma força sem que se especifique de que natureza. Logo após, a motivação é tida como uma experiência interna, algo que sentimos e ninguém pode observar. No senso comum, costumamos utilizar esses dois significados como dois aspectos de um mesmo fenômeno. Motivação é uma força interna que nos leva a agir, e por ser interna só nós mesmos a podemos sentir.

Fonte: encurtador.com.br/owJS4

Para finalizar este resumo sucinto do livro, que em suma trata dos pilares do entendimento do ser humano como um ser que trabalha e se sustenta, levando em consideração alguns pontos que despertaram mais interesse, percebo que algumas questões estão atreladas ao surgimento da motivação, como estar em um ambiente onde haja aprendizado, pois aprendizado gera crescimento. Além disso, ter desafios a serem cumpridos e conseguir conquistar metas, fazem o sujeito se sentir competente, e isto é algo extremamente gratificante, principalmente quando há o reconhecimento desse esforço no dia a dia.

As insatisfações com o labor podem ser revistas a partir de algumas reflexões, se buscadas por uma lógica de trabalhar não apenas para o seu sustento, ou pagar as contas, e sim que seja algo socialmente relevante, que o esforço do trabalho repercuta em algo melhor ou um bem maior, algo de valor que não seja mensurado em números, mas sim que o sujeito se identifique e sinta que há um propósito positivo por trás disso, ou seja, que essa força que nos faz levantar e prosseguir, essa capacidade interna que nos faz agir nos alcance, para que possamos obter maior qualidade de vida não só dentro das organizações, mas em toda a amplitude da nossa existência.

Mario Sergio Cortella é um filósofo, escritor, educador, palestrante e professor universitário brasileiro. É autor de vários livros, entre os quais Por que Fazemos o que Fazemos?, em que analisa a vida profissional na contemporaneidade.

FICHA TÉCNICA 

Título: Por que Fazemos o que Fazemos?
Autor: Mario Sergio Cortella
Editora: Planeta
Páginas: 174
Ano: 2019